EXPRESSO, edição 1797, 6 de Abril 2007
Orgulho hindu
Nacionalismo: Jovens indianos de extrema-direita insurgem-se contra os divórcios, os hábitos alimentares importados do Ocidente, ou a vida nocturna das cidades, sinais de uma degeneração cultural. O Presidente Cavaco Silva foi um dos últimos alvos
"A Índia tem fama de ser fraca e obediente”, insurge-se Amit Singh, ao mesmo tempo que bebe um típico chá com leite, numa esplanada da Universidade Nehru, em Nova Deli. “Temos que descolonizar as nossas mentes e reafirmar a nossa superioridade cultural”, diz Ankita Battacharya, sentada ao seu lado.
Orgulho hindu
Nacionalismo: Jovens indianos de extrema-direita insurgem-se contra os divórcios, os hábitos alimentares importados do Ocidente, ou a vida nocturna das cidades, sinais de uma degeneração cultural. O Presidente Cavaco Silva foi um dos últimos alvos
"A Índia tem fama de ser fraca e obediente”, insurge-se Amit Singh, ao mesmo tempo que bebe um típico chá com leite, numa esplanada da Universidade Nehru, em Nova Deli. “Temos que descolonizar as nossas mentes e reafirmar a nossa superioridade cultural”, diz Ankita Battacharya, sentada ao seu lado.
Ambos são doutorandos em relações internacionais e dirigentes universitários da auto-intitulada “maior organização estudantil do mundo”, o Conselho dos Estudantes Indianos (ABVP), cujos activistas organizaram, em Janeiro passado, a manifestação de protesto contra o doutoramento «honoris causa» atribuído a Cavaco Silva.
Fundado em 1949 e actualmente com mais de um milhão de membros, o ABVP integra o Sangh Parivar, ‘a família das associações’ nacionalistas e extremistas de inspiração religiosa hindu de que faz parte o Partido Popular Indiano (BJP), que formou o Governo entre 1998 e 2004. Segundo Amit e Ankita, o ABVP procura consciencializar os jovens “para que não se envergonhem das suas raízes” num país que vive uma rápida ocidentalização dos seus costumes, desde o início das reformas económicas em 1991. O próprio chá que Amit bebe talvez seja das verdejantes plantações de Darjeeling, no estado do Assão, mas é produzido por uma multinacional suíça.
Da celebração do Dia de São Valentim e dos divórcios aos novos hábitos alimentares e à crescente vida nocturna na capital, é tudo visto como sendo sinal de uma “degeneração cultural”. Quase em coro, os dois insurgem-se: “Porque é que nos devemos envergonhar das nossas tradições?” Em vez disso, dizem querer “libertar os jovens de uma Síndroma de Estocolmo colonial e mostrar-lhes que a civilização indiana lhes oferece quase tudo”.
“Força é vida. Fraqueza é morte”
É por isso que o ABVP se considera uma organização “alerta” e se envolve muitas vezes em acções menos pacíficas. “O Hinduísmo é tolerante, mas quando nos provocam nós não perdoamos”, avisa Amit, referindo-se a casos em que dirigentes do ABVP recorreram à violência, principalmente “contra os comunistas que querem dividir o nosso país e contra os muçulmanos fanáticos e retrógrados”. A sua camisa, branca e cor de açafrão, ostenta uma imagem de Vivekananda, um célebre filósofo do século XIX, e a sua citação ‘Força é vida. Fraqueza é morte’.
Na montra de uma livraria, logo ao lado, vende-se o aqui muito lido ‘Mein Kampf’, de Adolf Hitler, por menos de cinco euros. “Está na hora de a Índia se afirmar como superpotência”, continua Amit, agora puxando pelos seus conhecimentos de política internacional e enumerando satélites, supercomputadores e taxas de crescimento para sustentar a sua afirmação. “Temos que ser mais agressivos na nossa política externa, porque o mundo deveria respeitar-nos mais”, lança, justificando assim também a capacidade nuclear que o país detém desde 1998. Ankita exclama logo «Akhand Bharat», o termo equivalente a Grande Índia, em hindi, sublinhando que “para mim, seria uma honra morrer pela Mãe Índia”.
A crescente popularidade do ABVP reflecte a enorme confiança que as novas gerações indianas estão a depositar no futuro do seu país. Segundo uma recente sondagem internacional, 96% dos jovens de Nova Deli sentem-se preparados para enfrentar o futuro, contra somente 45% em Nova Iorque e uma média mundial de 75%. Nos jornais e na televisão abundam os exemplos de jovens indianos cujo talento conquistou o mundo, como o da escritora Kiran Desai, da tenista Sania Mirza e de vários gestores empresariais na informática e nas ciências e tecnologias.
“Nós apoiamos a globalização e a vinda de multinacionais, desde que não eliminem os nossos valores”, refere Ankita, enumerando exemplos de amigas suas que vestem o tradicional sari nos call-centres internacionais e que, por isso, são olhadas de soslaio pelas colegas de calça de ganga. Amit lembra-se de um outro caso: “Num restaurante, é preciso falar em inglês para atrair a atenção dos empregados”. Repetem-se os exemplos, agora também de outros colegas que os rodeiam.
Constantino Xavier, correspondente em Nova Deli
NÚMEROS
1,3
milhões é a quantidade de militantes da “maior organização estudantil do mundo”, com mais de 4 mil núcleos
13
número de partidários “mártires”, vítimas do conflito com a guerrilha maoista no Centro do país até 1997
Inquisição e atropelo das liberdades
Na sequência dos protestos contra a atribuição de um doutoramento «honoris causa» da Universidade de Goa a Cavaco Silva, em Janeiro, Bharat Singh, dirigente nacional do ABVP, afirmou suspeitar que “alguns lusófilos se preparam para celebrar, em 2010, o quinto centenário da agressão portuguesa à Índia”, referindo-se à conquista de Goa, em 1510.
A organização opõe-se a qualquer comemoração porque “os 450 anos de domínio português foram marcados por proselitismo religioso e pela Inquisição e atropelo das liberdades”. Em 2005, o ABVP protestou contra o primeiro-ministro Manmohan Singh, quando ele se referiu ao colonialismo britânico como tendo sido “benéfico”.
Depois das vitórias do BJP nas eleições municipais de Mumbai, e nas estaduais de Uttaranchal e Punjab, mais uma vitória para os nacionalistas hindus nas eleições minicipais de Nova Deli. A ver vamos, o ocorre nas estaduais do gigantesco estado do Uttar Pradesh
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