domingo, 29 de junho de 2008

Activists e Terrorists, Nós e os Outros

Esta "notícia" é um gigantesco eufemismo e uma celebração da hipocrisia e incoerência que assolam a subjectividade indiana em relação ao tema "terrorismo". Cá se dá conta da detenção de dois militantes de organizações extremistas hindus, por supostamente terem colocado bombas em cinemas para protestar contra a exibição de um filme.

Os explosivos afinal parece que "only" feriram sete pessoas, mas lembro-me que, imediatamente após os atentados, no início do mês, mereceram grande destaque na imprensa ("Terror strikes again"), com muitas fotos e muito sangue - hideous! E o facto de terem sido interrogadas 1500 pessoas pela Anti-Terrorist Squad de Bombaim prova que as autoridades levaram os ataques muito a sério.

Mas, "2 Hindu activists", observa agora o título da notícia. Activists? Activists, pois sim!

Terrorists, militants, extremists, radicals, anti-social elements, isso está tudo reservado para os Outros. Estes são só, pura e simplesmente, activists, tal como os ambientalistas que se opõem à barragem do Nármada. Activists tal como os que agora querem ver o urso prisioneiro libertado e reunido com o seu dono.

Activists
tal como os que amanhã vão marchar na primeira Delhi Queer Pride Parade? Aguardo com ansiedade a chegada dos jornais na Segunda de manhã, para ver como a sempre objectiva e neutra imprensa se lhes referirá.

Relacões sino-indianas

sábado, 28 de junho de 2008

Dhaba

Enquanto a minha motoreta vai a conserto, sento-me no banquinho de madeira de uma pequena dhaba, peço uma Pepsi bem fresquinha e olho à volta, com muita clama, à procura de preservar o meu já fragilizado poder de observação.

Finalmente, após alguns minutos, encontro algo. No bolso da frente da camisa do ajudante - um miúdo de sete ou oito anos - dança uma escova de dentes, escura.

“Sir, one more Pepsi?”, sorriem-me os seus dentes brancos.

Imagens de Deli: Palácio do Deão (Goa)

Fabuloso, surreal: Nazi preso em Goa

(A amarelo, as partes mais "interessantes" e as gralhas (?) mais berrantes: isto ainda vai dar um blockbuster em Hollywood, ou alguém se enganou no calendário e pensou que o 1 de Abril foi ontem...)

Nazi war criminal held on Goa border

PANJIM, JUNE 27 — A German intelligence wing succeeded in nabbing Johann Bach – who was responsible for World War II genocide of Jews – in the jungles of Khanapura on the border of Goa and Karnataka after tracking him from Calangute.
Perus Narkp, the intelligence wing of the Berlin based German Chancellor’s Core, with the help of senior intelligence officials of the Indian government, have located and apprehended Johann Bach, an absconding high-ranking Waffen SS (Schutzstaffel) colonel in the Germany’s former Nazi party, said a press release issued here.
The release stated that 88-year-old Bach was posted as a senior adjutant at the Marsha Tikash Whanaab concentration camp in East Berlin and was responsible for the genocide of more than 12,000 Jews in World War II. More than any other offenders who have been prosecuted in the Nuremberg trials, which were set up to look into heinous war crimes during the World War II.
He had been absconding for more than 50 years after.
Bach has been apprehended and taken to a safe location in a joint top secret operation conducted by the Perus Narkp and intelligence officials of the Indian Ministry of Home Affairs.
After the Perus Narkp received a tip off from its sources that Bach was in Calangute region of Goa, he was placed under observation for the last six months. According to Marsha Tikash Whanaab concentration camp documents seized by the Allied forces after World War II, Bach was responsible for the exploitation and death of more than 12,000 Jews in his concentration camps. He has been absconding since the fall of the Third Reich.
Bach’s acts were incidentally also glossed over in the Nuremberg Trials. The case against him was revived following reports in the Israeli media, which claimed that Bach had resurfaced in India.
The Perus Narkp followed the India lead with the help of its counterpart intelligence agencies in India. The Perus Narkp then received a lead which informed about an old foreigner wanting to sell an antique, priceless 18th century piano. A similar piano had been reported missing from an East Berlin museum (in close proximity of Marsha Tikash Whanaab concentration camp) after World War II.
The absconder had been hiding in Goa for the last few months under a fake name in Calangute. His preliminary interrogation has revealed that he has earlier stayed in Argentina, Bulgaria, Yemen, Canada and then in Goa, the release stated.

(daqui, no sempre fantástico Heraldo)
(e na imprensa alemã, nem uma única linha até agora...).

quinta-feira, 26 de junho de 2008

O amigo Nirodh

Desestabilizadores

As many as 10,000 mobile phones were sold in India every hour during January–March 2007­–08, according to the IDC's Asia/Pacific Quarterly Mobile Phone Tracker.

Redescobrindo: Gualior

O duplo-v não existindo na língua de Camões, a bela cidade de Gwalior requer a atenção desta série. A tentação portuguesa, rendida aos anglicismos dominantes, é andar pela estação ferroviária de Agra a perguntar pelo comboio para GE-VÁ-LI-ÓR. Claro que só atraíra a atenção dos aldrabões do costume e acabará o dia numa guest-house manhosa em Ghaziabad.

Respeitando a pronúncia autóctone, parece-me que deveria ser Gualior. Tendo em conta que esta é uma cidade histórica (coroada por um dos mais magníficos fortes do subcontinente), e que era passagem obrigatória para os jesuítas portugueses quinhentistas a caminho de Agra, seria interessante pesquisar como é que nós escrevíamos e pronunciávamos esta cidade no passado.

Sobre o zero de Gualior

Jorge Buesco, sobre uma placa histórica em Gualior e o mito da invenção do algarismo 0.

O zero de Gwalior

Do divórcio e da religião hindu

The concept of divorce has been traditionally alien to Hindu marriage. In 1955, parliament enacted the HMA [Hindu Marriage Act], allowing divorce. Either spouse may seek dissolution of marriage on grounds of infidelity, cruelty, desertion and conversion, or if the other party has renounced the world, suffers from a mental illness, incurable leprosy or communicable venereal disease.

Divorce is allowed by mutual consent, or if a spouse has been thought to be dead for seven years. Law Commission member Tahir Mahmood agreed with the court’s views. “The law doesn’t conform to the ethos of Hindus. We don’t expect Hindu men or women to charge their spouses with cruelty and seek divorce. Also, the law has certain shortcomings... like, the word cruelty has not been defined,” he said.

(daqui)

Imagens de Deli: Railway station

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Brasil na Índia

Paulo Antônio Pereira Pinto, Cônsul-Geral brasileiro em Bombaim, exímio conhecedor da Ásia e um dos motores da poderosa aproximação indo-brasileira em curso: Mesa Redonda “China e Índia – A Soft Power da Imponência do Dragão e da Elegância do Elefante

E, pelo meio, ainda tem tempo para dar saltos estratégicos a Goa (futebol e carnaval, pois claro).

Desestabilizadores

Mais de metade das crianças indianas com menos de cinco anos de idade não têm acesso a cuidados de saúde básicos. (daqui)

Relações indo-paquistanesas

The great Indian middle class

This is the newly emergent middle class that an open India has thrown up: crass, belligerent and reckless. It is the polar opposite of the privileged classes that presided over closed India: snobbish, full of intrigue and cautious. There’s not much to choose between the two. The new one is vile; the other was servile. While I have been a champion of the emergent middle class, I guess my view was colored by my utter disdain for the privilegentsia of Fabian socialist India. The new middle class is just as hideous as the privilegentsia. I call them the Vulgarians.

(Rajiv N Desai, aqui)

domingo, 15 de junho de 2008

Maldivas 1 - Índia 0



A selecção nacional de futebol das Maldivas (população: 300 mil) sagrou-se campeã da Ásia do Sul ao bater a selecção nacional de futebol da Índia (população: mil cento e trinta e dois milhões) por uma bola a zero, ontem, em Colombo. Haverá exemplo melhor de que, pelo menos no futebol, o tamanho não importa?

Spelling Bee

Eu já aqui tinha feito uma referência, mas não resisto voltar à cobertura noticiosa que mais me impressionou nos meses recentes.

O Scripps National Spelling Bee Contest é um concurso norte-americano em que miúdos (acho que com menos de 12 anos de idade) competem a soletrar palavras inglesas muito difíceis. O interessante é que, quase todos os anos, se contam vários meninos e meninas de origem indiana entre os finalistas. E todos os anos (pelo que percebi este ano) o seu desempenho é acompanhado com muita atenção pelos indianos na Índia.

Este ano ganhou o Sameer Mishra e, durante dois ou três dias, não se falou de outra coisa na comunicação social indiana, secção International ou Entertainment News, e eu cheguei a ver a final inteira a ser transmitida, em diferido, em horário nobre:



A celebração de que a vitória de Mishra foi alvo reflecte uma profunda ansiedade e toda uma Weltanschauung indiana muito peculiar. Mishra não ganhou por ter pintado, nadado ou escrito melhor que os outros - não, isso são áreas demasiado artísticas, subjectivas. Ganhou, aos brancos e aos outros, numa competição muito científica, muito correcta e objectiva, muito clara e racional, em que não há margens para dúvidas (é por isso que o júri está sempre a repetir a palavra e pede que o miúdo faça o mesmo).

Ora, ganhar neste jogo (tal como em competições científicas, tecnológicas e matemáticas internacionais) é, para os indianos, símbolo de poder, de agência, de igualdade (se não superioridade) para com o Ocidente (e o resto). E cá está a importância desta minúscula diáspora indiana na América do Norte, como modo de subjectividade, como representação desterritorializada do potencial de excelência de toda uma nação, de mil e tal milhões de pessoas.

Estes putos sabem soletrar guerdon e coisas assim e assim carregam nos ombros muito mais do que simples interesse por línguas estrangeiras e linguística.

O único problema é que depois, com a pressão toda de uma nação, ficam assim:



Ou, neste caso já norte-americano deveras patológico e desconcertante, assim:



Boa noite.

Imagens de Deli: Bôpal

Redescobrindo: Catmandu

Se há alguém que não só lê, bem como aprofunda a série Redescobrindo que vou mantendo neste espaço, é o Diário de Notícias. Os textos sobre a Índia e a Ásia do Sul são sempre escritos com um cuidado só raramente visto na imprensa portuguesa, em especial no que concerne a transcrição da toponímia desta região do mundo. Neste caso, avança, por exemplo, com um muito correcto Catmandu. Correcto, por enquanto?

Soft power chinês em acção


Há umas semanas estive num centro comercial muito chique, muito upper middle class, aqui no Sul de Deli e assisti ao The Forbidden Kingdom. Produção ou co-produção chinesa, a 30, 60 ou 90% - não interessa muito. Aqueles cento e tal minutos fazem mais pela imagem da China na Índia do que uma centena de tochas olímpicas, visitas bilaterais e rondas de negociação fronteiriça juntas.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Uma diferença elementar

Por certo, o lugar da nova comunidade global das democracias não é idêntico na versão do candidato republicano e na do candidato democrata. Na visão neo-conservadora trata-se de restaurar a clivagem central da Guerra Fria entre as democracias e as tiranias – a China, a Rússia, o Irão –, mas, na visão liberal, trata-se apenas de fortalecer o dispositivo estratégico norte-americano na construção de uma nova arquitectura multilateral, indispensável para integrar as grandes potências em ascensão desde o fim da Guerra Fria.

(Carlos Gaspar, IPRI, aqui)

Inglês de Deli: Lackadaisical

Um termo recorrente nos panfletos políticos na JNU, utilizado até à exaustão, para denunciar a passividade e inércia da reitoria, do governo, da polícia etc. Diz aqui que é um termo de 1768 - não me surpreende. Lackadaisical - uma palavra que associarei para sempre a esta vida em Deli.

Desestabilizadores

A Índia tem hoje muito menos veículos ligeiros do que os Estados Unidos tinham em 1920.
(ontem, na BBC).

Imagens de Deli: Músicos, Delhi Gate

terça-feira, 10 de junho de 2008

Sentir a Ásia

Estão quase 40ºC lá fora, a humidade ao máximo, a casa inteira cheira a chamuças que a vizinha anda a fritar durante o dia inteiro... e a Lufthansa tem a lata de me convidar a "sentir a Ásia" ?!

Citações de Deli: Sachin Pilot

“For 60 years, the reservation policy has continued; the time has come for Indian political parties to rethink the criteria for reservations. It is important to see what other parameters can be evolved so that anyone who really needs reservations gets it,” Mr Pilot said.

(daqui)

O exército

Há umas semanas, com os canais por cabo sem sinal, fui parar ao canal público Doordarshan que estava a emitir um filme bastante antigo, parece-me que chamado "Baghi". Trata de uma família dálite (intocável) no Panjabe, cuja filha (Baghi), muito bonita e inteligente, mantém uma relação amorosa com o filho do chefe da aldeia, um temível sique de casta alta. Claro que a coisa dá para o torto e descamba numa violência brutal, a jovem Baghi sendo espancada pelo próprio pai, por tê-lo colocado numa situação embaraçosa perante toda a aldeia.

Aquilo depois resulta numa violência massificada e ainda mais cruel, incluindo milícias, o chefe da aldeia, tudo aos pontapés, murros e tiros. O interessante é que o conflito alastra, é moderado, agudizado e por fim solucionado por um conjunto de instituições diferentes - a família, a aldeia, a milícia local, etc. - enquanto que o estado (políticos, justiça, polícia) não intervém uma única vez (a certa altura, aparecem uns polícias, mas só mesmo para darem ainda mais porrada em Baghi). Por fim, é o tio de Baghi, um imponente coronel regressado da linha da frente, que se afirma como a figura central, denunciando tudo e todos: "No exército somos todos iguais, como irmãos", moraliza, no fim.

Saberão agora adivinhar qual é a instituição em que os indianos mais depositam confiança, logo após o Supreme Court e a Election Commission.

Imagens de Deli: Corbett National Park

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Goa Trance

Houve um tempo, lá para 1997 ou 1998 (quando eu ainda jogava nas distritais, a defesa esquerdo), em que eu me orgulhava das minhas origens goesas, porque nessa altura as pessoas - tanto o nosso médio Sérginho, bem como o Vasconcellos Guimarães na Escola Alemã - identificavam Goa logo com o Goa Trance, os sons psicadélicos que então estavam tão na moda e atraíam milhares ao Boom Festival alentejano.

Para alguém que era constantemente confrontado com a reacção "ah que giro, mas então a tua avó vive mesmo lá perto das gravuras rupestres?", esta associação era um espectáculo, muito reconfortante e muito cool.

Hoje, ao ver este vídeo, lembro-me, mais uma vez, do meu entusiasmo idiota de então que, inclusive, me levou a criar uma secção especial no Supergoa.com. Lembro-me de apelidar de "conservadores e reacionários" aqueles inúmeros pedidos para retirar aquela secção, porque supostamente "degradante para a imagem de Goa". Em vez disso, via o Goa Trance como uma forma de identificação, como uma possibilidade de afirmação não só pessoal, mas para Goa também. Aqui estava uma ponte para o mundo.

Assim, passava horas na Internet, à procura de um bom documentário sobre o DJ Goa Gil ou as festas nas praias de Vagator, e dos contactos do DJ Pena, um português que parece que tinha estado lá em 1999/2000, para a mega-millennium party no agora podre Paradiso de Anjuna que, mesmo em cima da passagem de ano, foi cancelada por violar as regras de conservação natural da entretanto repetidamente violada e apodrecida faixa costeira goesa.

Lembrei-me de tudo isto, e de mais algumas coisas, enquanto via este vídeo, mesmo agora. Boa noite.

Sons da manhã de Deli


Escrevi este texto algures em 2006. Encontrei-o assim, incompleto, mas acho que ainda merece ser publicado nesta vida em Deli.



Se há algo em Deli de que me vou lembrar para o resto da vida, são os sons da cidade, os barulhos, as músicas, os gritos, os automóveis e as crianças. É sabido que a Índia é um país propício à exploração máxima dos nossos sentidos, com especial relevância para o olfacto. Talvez por me ter habituado desde cedo aos cheiros, com os caris e sarapatéis cozinhados lá em casa, são assim os sons que mais me têm marcado nesta vida em Deli.

Logo de madrugada, com o sol ainda por nascer, ouvem-se os primeiros ruídos que testemunham e marcam o início de um novo dia. São as empregadas domésticas que acordam, ligam as luzes e iniciam as suas tarefas, incluindo acordar as crianças para a escola, fazer o chá e preparar o farnel para o pai da família. Qualquer família nesta área residencial de classe média tem, pelo menos, uma destas empregadas (maioritariamente do Biar ou do Nepal), e na maioria dos casos elas residem a tempo inteiro em sua casa.

Mas antes mesmo de executarem essas tarefas madrugadoras, as empregadas gozam uns poucos minutos de privacidade e solidão. Oiço-as então a tomarem banhos de balde, com a água a escorrer pelos inúmeros canos de esgoto e, nos casos em que a janela da casa de banho dá para o meu balcão, ouve-se mesmo a água a gotejar e a escorrer pelo chão.

Então, em paralelo, emerge também das trevas o mundo animal. Que coexiste aliás surpreendentemente bem com o mundo humano. Os esquilos descem das árvores, as vacas iniciam a sua procura de comida nos amontoados de lixo, e, obviamente, os pássaros começam a fazer-se ouvir, num familiar coro de melodias. No sentido contrário, as dezenas de cães que patrulham o bairro durante a noite, retiram-se, prontos para enfrentarem mais um dia sonolento.

É por essa altura, com o sol a anunciar-se por trás do prédios, que se ouve a primeira bicicleta a percorrer as pequenas ruas alcatroadas e poeirentas. Uma das suas rodas tem sempre uma falha qualquer, talvez um raio deslocado, e é assim que se anuncia, sonoramente, aos chios, a chegada das notícias do dia. Em cada esquina, o rapaz desce da bicicleta, e, sem recurso a qualquer cábula, faz uso da sua genial memória, retirando o jornal ou a combinação de jornais correcta para cada um das centenas de apartamentos que serve todos os dias.

Outro som peculiar marca esse processo de distribuição. As escadarias dos prédios aqui são abertas; dão portanto para a rua. Em vez de subir e descer as escadas todas, o rapaz enrola o jornal ou os jornais com um anel de borracha, mira o andar respectivo, aponta e atira. Sem falha, de uma distância de dezenas de metros e do meio da rua, ali em baixo, as novidades do dia chegam assim sonoramente à porta de casa, embatendo na parede do meu quarto e caindo com um som de arraste no terraço poeirento.

É agora que começa o movimento dentro das casas. As famílias acordam e na cozinha as empregadas cedem o lugar às mães, indo acordar e vestir as crianças. Os homens, de ceroulas no inverno, de cuecas no verão (é assim que vêm buscar os jornais aos terraços), dão uma breve vista nas letras garrafais das capas da imprensa e vão tomar banho, para depois se sentarem e comerem umas ap ...

Nas calmas

Global 1.0, 2.0, 3.0, 7624.0 ...

(mesmo assim, recomendo a leitura)

Any company that clings to this Global 1.0 paradigm is in for a rude surprise. We're not just nearing the end of that era; I believe we're past it. We've now entered the early stages of "Global 2.0," an era where the most successful companies will look for ideas and innovation anywhere to meet customer needs everywhere. Only the organizations that adopt a flexible "worldsourcing" approach to their business models will survive.

domingo, 1 de junho de 2008

O gigante sapo nepalês



Choveram mensagens felicitando o povo nepalês pela proclamação da sua República. Mas esta mensagem, muito educada e sóbria, do Presidente da Lok Sabha (Câmara baixa), especialmente se comparada com este autêntico fogo-de-artifíco retórico norte-americano, diz muito sobre sólida preferência status quoista e conservadora da política externa indiana, não sõ para a região da Ásia do Sul, bem como para o resto do mundo.

Já foi suficientemente complicado engolir o enorme sapo que representa a presença das Nações Unidas e de observadores internacionais aqui logo ao lado, por terras nepalesas, a umas centenas de quilómetros da capital do soberano Raj.

Pior, só mesmo a proclamação de uma república pelos mesmos maoístas que, ainda há três anos, eram abatidos com armas indianas, pelo Exército Real Nepalês, cujo chefe supremo era um monarca autocrata (desculpem a redundância), primo afastado de meia aristocracia indiana e amigo protegido de uma das cabeças que mais (e mal) continuam a influenciar a política do South Block para a região.

Com o (mesmo que muito hiperbolizado) Red Corridor em rápida expansão (Nepal-Andra Pradexe) e os naxalitas a viverem um momento de glória, que até já lhes permite formar governos paralelos em vastas zonas do hinterland tribal, com os outros vermelhos (chineses) a brincarem crescentemente ao jogo muito engraçado que é o "atravessa-a-fronteira-e-foge", com metade do Nepal em vias de declarar independência ou (re-)integração na Índia, com tudo isto, e mais algumas coisas de que eu agora não me lembro, porque já é tarde e estou cansado, é natural que Nova Deli irá engolir muitos mais sapos nepaleses ainda.

Lagaan

Ver este filme equivale a ler quinze crónicas de Shashi Tharoor no Times of India (ou um livro dele; é a mesma coisa), para quem quiser "compreender a Índia de hoje" (tecnicamente impossível).

Fragmentos da leitura

By madness I mean heavenly enthusiasm, the highest and most intense spirituality of character, in which faith rules supreme over all sentiments and faculties of the mind....The difference between philosophy and madness is the difference between science and faith, between cold dialectics and fiery earnestness, between the logical deductions of the human understanding and the living force of inspiration, such as that which cometh direct from heaven….Philosophy is divine, and madness too is divine….The question naturally suggest itself – why should not men be equally mad for God? (…) Gentlemen, we are going to combine meditation and science, madness and philosophy, and there is no fear of India relapsing into ancient mysticism”

Keshabchandra Sen (1838-84), filósofo e asceta indiano, líder do Brahmo Samaj, durante a sua palestra “Philosophy and Madness in Religion, proferida em Calcutá a 3 de Março de 1877. Citado em “The Nation and its Fragments”, Partha Chatterjee, p. 40

Quem nos dera



Nove reportagens de luxo, numa série do diário alemão Sueddeutsche Zeitung exclusivamente dedicada à revolução dos transportes e da mobilidade na Índia.