quarta-feira, 18 de abril de 2007

Billy Joel e as novas gerações indianas

Sábado à noite, numa discoteca no Sul de Deli, a cave a abarrotar quase que se incendiou quando a voz de Billy Joel começou a sua ladaínha de conceitos, individualidades e símbolos ocidentais no seu "We didn't Start the Fire". Todos pareciam saber as letras, da primeira à última palavra. Desconfiei. E confirmei agora, ouvindo a mesma música pela terceira vez num só dia, na mesma estação de rádio indiana (que geralmente quase que só passa músicas indianas).

Harry Truman, Doris Day, Red China, Johnny Ray, South Pacific, Walter Winchell, Joe DiMaggio, Joe McCarthy, Richard Nixon, Studebaker, Television, North Korea, South Korea, Marilyn Monroe, Rosenbergs, H Bomb, Sugar Ray, Panmunjom, Brando, The King And I, and The Catcher In The Rye, Eisenhower, Vaccine, England's got a new queen, Maciano, Liberace, Santayana goodbye

É claro que a música é simpática e que o seu sucesso não se restringe à Índia. Mas há algo que explica este seu sucesso particularmente exagerado neste momento, neste país e entre estas suas gerações urbanas mais jovens. Creio que a explicação reside no facto de ela lhes oferecer um conjunto de referências, um conjunto de conceitos-chave estruturantes à volta dos quais sentem serem capazes de construir a sua identidade.

Joseph Stalin, Malenkov, Nasser and Prokofiev, Rockefeller, Campanella, Communist Bloc Roy Cohn, Juan Peron, Toscanini, Dancron, Dien Bien Phu Falls, Rock Around the Clock Einstein, James Dean, Brooklyn's got a winning team, Davy Crockett, Peter Pan, Elvis Presley, Disneyland Bardot, Budapest, Alabama, Khrushchev, Princess Grace, Peyton Place, Trouble in the Suez

Basicamente, Billy Joel dá-lhes uma aula gratuita sobre o mundo que tanto os fascina, neste momento em que, todas as manhãs, os jornais os cumprimentam com notícias sobre a re-emergência do seu país e a possibilidade de se afirmarem como parte integrante de um novo sonho, o Indian dream.

Little Rock, Pasternak, Mickey Mantle, Kerouac, Sputnik, Chou En-Lai, Bridge On The River Kwai Lebanon, Charles de Gaulle, California baseball, Starkwether, Homicide, Children of Thalidomide, Buddy Holly, Ben Hur, Space Monkey, Mafia, Hula Hoops, Castro, Edsel is a no-go U2, Syngman Rhee, payola and Kennedy, Chubby Checker, Psycho, Belgians in the Congo

É verdade que os jovens que lá estavam, a bambolearem os seus corpos, são de uma classe abastada, de uma elite urbana que há muito é parcialmente ocidentalizada. Idem talvez também para os ouvintes da rádio. No entanto, são justamente estes meninos e meninas cujos pais estão à frente deste país e são justamente estes meninos e meninas que estão a moldar o futuro deste país a cada dia que passa.

Hemingway, Eichman, Stranger in a Strange Land, Dylan, Berlin, Bay of Pigs invasion Lawrence of Arabia, British Beatlemania, Ole Miss, John Glenn, Liston beats Patterson, Pope Paul, Malcolm X, British Politician sex, J.F.K. blown away, what else do I have to say

"We didn't Start the Fire" representa, deste modo, um imaginário clássico para compreender os sonhos, as aspirações e também os medos e complexos das novas gerações indianas. A voz de Billy Joel assume uma missão quase profética, libertando porque criando um novo horizonte. Billy Joel passa a ser celebrado como um herói indiano: reduzindo a complexidade de todo um mundo a um conjunto vocabular monótono e ideologicamente carregado, digere o indigerível, fazendo-o parecer familiar, apetitoso e atractivo.

Birth control, Ho Chi Minh, Richard Nixon back again, Moonshot, Woodstock, Watergate, punk rock, Begin, Reagan, Palestine, Terror on the airline, Ayatollah's in Iran, Russians in Afghanistan Wheel of Fortune, Sally Ride, heavy metal, suicide, Foreign debts, homeless Vets, AIDS, Crack, Bernie Goetz, Hypodermics on the shores, China's under martial law, Rock and Roller cola wars, I can't take it anymore

Sem comentários:

Enviar um comentário