sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Do Porto para Wall Street, via Índia (debate)


No Fórum do Caldeirão da Bolsa, encontro este animado debate sobre a reportagem que fiz, em Janeiro passado, sobre a aventura do empregado português Miguel na multinacional Evalueserve, em Gurgaon.

- "Antes mal pago na índia ou mesmo NY, do que doutor explorado ou desempregado em Portugal."

- "Antes saudável em Portugal, do que doente em qualquer parte do mundo."


- "É exactamente isso, é tudo uma questão relativa, a saúde, o emprego, a exploração... Se as coisas não estiverem bem e se nos oferecerem ou houverem melhores condições, nem que seja no fim do mundo, é òbvio que ficamos melhor! É tudo muito relativo, até pode ser em Portugal, na Ìndia ou em NY que as coisas ficam melhores..."

O debate inteiro, aqui.

Depois da Índia

Esta vida recomendada no muito recomendável e asiático Rabiscos e Garatujas (que passa para as ligações amigas) da já por aqui conhecida comentadora Denise. Retribuo, apontando para um texto da Denise que aborda uma temática muito misteriosa e fascinante: porque é que todos querem regressar e beber mais da Índia, mesmo que tenham odiado a sua estadia por cá? Uma explicação em Depois da Índia.

A propósito do Hinglish

Alrabando: Sorry, not possible / Sure, one minute

Pergunta-se por algo, reclama-se um direito, pede-se uma informação, e a resposta é sempre a mesma, automática: "sorry, not possible". Exemplo: uma amiga minha tem o regresso para a Alemanha marcado na Mahan Air, uma companhia iraniana que, no entanto, deixou de ser autorizada a aterrar na União Europeia. Legalmente, a companhia é obrigada a financiar-lhe uma passagem alternativa Nova Deli-Dusseldorf no mesmo dia, custe o que custar.

Chega-se ao escritório para mudar a reserva, olham para o computador e sorriem-nos: "sorry, not possible today, no seats available in any airline, just packed only. The earliest I can get for you is in two days". Mas ela é alemã: "No, you have to give me a ticket today, or else I will complain..." e antes mesmo de terminar a frase, interrompem, ainda sorridentes, "ok we have a seat for you today on Austrian Airlines, please give us two minutes to issue your ticket".

O mesmo hoje, no banco: "posso trocar Euros?".

- "Oh yes, sure, here is the exchange rate: 56.5. How many Euros would you like to exchange?".
- "50, please".

- "Oh, I'm very sorry, not possible, the minimum is 100 Euros."

- "But I am your customer for four years, and I have never heard about this limit!".

- "Sure sir, please just fill out this form."

O problema não é só - como em qualquer parte do mundo - as empresas recuarem só quando confrontadas com ameaças de represálias institucionais e mediáticas. O que é chocante é a volatilidade e indiferença com que tratam os clientes - a forma fácil como cedem aos que estão informados dos seus direitos e a forma estratégica com que espoliam os menos informados.

'The Queen's Hinglish' gains in India

"I believe this happy blend of Hindi and English will become a globally accepted form of English in 20 years or so," John said. "More and more people will use it without fear of being laughed at. We are not afraid of speaking in the way that we want to anymore. There is no longer any fear of grammatical puritans coming and telling us it should not be like that."

In "The Queen's Hinglish," another recent book on the theme, Baljinder K. Mahal writes that more people speak English in South Asia than in Britain and North America combined, with India alone accounting for more than 350 million English speakers.

"Although the practice was previously frowned upon by purists, people there are becoming more and more comfortable with mixing words from languages such as Hindi, Urdu, Punjabi with English," she writes. "This means that Hinglish, as this modern blend of standard English, Indian English and South Asian languages is popularly known, could soon become the most widely spoken form of English on earth."

She predicts that words like prepone (the opposite of postpone, to bring forward), or airdash (to travel by plane at short notice) or eve-teasing (for sexual harassment) could spread internationally.

"The purists - as they always do - have lost the battle," she writes. "Hinglish, once seen as the lingo of the uneducated masses, is now trendy - the language of the movers and shakers."

Vaishna Narang, a professor of linguistics at Delhi's JNU University, said the shift was noticeable.

"People used to attach a snob value to British English and received pronunciation. Today no one bothers about that. We are much more concerned about a functional English," she said.

Imagens de Deli: A Sul de Catmandu

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Domar os riquexós - a priori e a posteriori

Pensava eu que já pouco mais poderia aprender aqui em Nova Deli (excepto fluência em hindi e não ser enganado pelos lojistas), quando subitamente dei por mim a realizar um meu sonho muito antigo.

Lembro-me de, nos primeiros meses desta vida em Deli, há mais de três anos, admirar a forma como os autóctones lidavam com os condutores de riquexó. Em vez de (como eu e demais estrangeiros) passarem longos minutos a discutir e a negociar o preço a priori, no meio da avenida, e só depois de chegado a consenso embarcarem, saltavam imediatamente para o interior dos triciclos motorizados, garantindo assim o lugar e negociando a posteriori.

Invejava essa estratégia corajosa com que domavam os malditos riquexós, sempre gananciosos e fugitivos quando o destino ou o preço oferecido não lhes agradava. A minha ética negocial ocidental impedia-me de dar aquele salto para o banco de trás.

Ora, de repente, um destes dias, dei por mim - qual tigre esfomeado e desesperado - a dar um monumental salto acrobático do passeio para aquele pobremente almofadado banco que sustenta entre 1 e 6 passageiros. First blood, mortífero: já não faço outra coisa e passei de vítima a predador nato.

Pensava que só serviam para o Republic Day











India readies combat camels for Darfur


NEW DELHI (AFP) — India plans to send combat-trained camels to solve the transport headache facing a fledgling UN-African Union peacekeeping force in Sudan's strife-torn Darfur region, officers here say.

India's Border Security Force (BSF) said it received a request last week from the United Nations to send the specially schooled animals to the troubled African region. (...)

The BSF in India also warned that any deployment of trained camels to transport foot soldiers in Darfur may be some time away.

"All our camels are engaged in border-guarding duties and this whole process could take a long time," said BSF spokesman Vijay Singh, adding the agency could currently spare up to 60 of its 700-plus battle-ready animals for Sudan.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

As bolhas e os ditados

(29 Out): It was a terrific day for the Indian markets. The Sensex conquered the 20,000-mark on the back of frantic buying by foreign and local investors in blue-chip stocks. The Sensex made history after it hit an all-time intra-day high of 20,024.87 points during the last five minutes of trading on Monday.

Subitamente, lembro-me de dois ditados populares contraditórios:
A banda a tocar e o navio a afundar-se.
Os cães ladram e a caravana passa.

Andam os jornais indianos a celebrar o caminho para a catástrofe da sua economia, em direcção ao fundo do oceano? Ou serão os avisos e sinais de alarme internacionais (principalmente ocidentais) desmedidos, enquanto que o navio económico indiano ganha velocidade e rumo?


Qual dos dois ditados se aplicará à Sensex e às múltiplas bolhas de especulação que assolam a economia indiana?

Imagens de Deli: Barista, Connaught Place

Dizem que o café não presta, mas os cafés Barista, Coffe Day, Costa Coffee, entre outros, não deixam de atrair multidões. Numa cidade em que o conceito de esplanada é inexistente, e em que os espaços de lazer ao ar livre são raros, é compreensível. Mesmo assim, nunca me conseguiram convencer, excepto no pico do Verão, quando vale a pena pedir um muffin para saborear o ar condicionado.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Citações de Deli: Ken Livingstone

O Mayor de London, Ken Livingstone (de visita a Deli hoje), em artigo de opinião no Times of India de hoje. Do título à última palavra, uma gigantesca hiperbóle. Mas vindo do quem vem, é profundamente simbólico, um sinal dos tempos diplomáticos.

Britain As India's Colony

India and Britain inhabit a world changing so rapidly that to bring out its character let's deliberately put it in stark, even 'provocative', terms. In 20 years time, only three people are guaranteed a place at the top table of the world's affairs - the presidents of the US and China and the prime minister of India. By then, the world will have shifted so much that if there were to be war between Britain and India, Britain would be more likely to end up as a colony of India than the other way round....

Noite em Deli

Ao longe, os camiões deslizando ruidosamente pela avenida, a caminho dos mercados abastecedores, no centro da cidade. Aqui perto, por baixo da janela, o guarda nocturno, tossindo tuberculose e apitando segurança.

Hino nacional

Logo após um anúncio da Pepsi com a selecção nacional de críquete, e antes de se iniciar Bourne Ultimatum, o cinema inteiro levanta-se e deixa as pipocas salgadas de lado, para cantar o hino. Afinal, já não são só os irredentistas estados do Sul que precisam da dose nacionalista. A febre chegou a Deli.

"Ordinarily resident"

Num documento legislativo, o seguinte parecer da Comissão de Eleições indiana, sobre a definição e entendimento de "ordinarily resident", critério constitucionalmente essencial para que um cidadão indiano se possa recensear eleitoralmente no círculo de que é natural:

"A person is said to be ordinarily resident in a place if he uses that place for sleeping. He need not be eating in that place and may be eating from a place outside. Temporary periods of absence from this ordinary place of stay can be ignored. It is not necessary that the period of stay should be continuous for any particular length of time and should be without any break."

"On the other hand even persons living in sheds, and persons living on pavements without any roof are eligible for enrolment provided they are ordinarily resident in the sheds or on pavements in a particular area, do not change the place of residence and are otherwise identifiable."

"Inmates of jails, hospitals, beggar homes, asylums etc. should not be included in the electoral rolls of the constituency in which such institutions are located as they are staying in these institutions only for a temporary period. However, eligible inpatients of sanitaria, leprosaria, etc., where they undergo prolonged treatment may be taken as ordinary residents of these areas where such sanitaria etc. are located."

Imagens de Deli: Tibetanos

Há uma semana, à saída do aeroporto, de madrugada, pela uma da manhã: centenas de tibetanos, silenciosos, aguardam a chegada do Dalai Lama.

domingo, 18 de novembro de 2007

Minute Maid

Na mercearia da esquina passou a haver sumo de laranja Minute Maid, da Coca-Cola. Poucos dias depois, desapareceram todos os outros sumos, na sua maioria indianos. "Deixaram de enviar", responde-me uncle, encolhendo os ombros, "mas este é mais saboroso, e mais barato!".

sábado, 17 de novembro de 2007

Advogados atacam acusados

Estado da justiça indiana:

Angry lawyers assault JeM terrorists
Lucknow, Nov 17: Lawyers manhandled three JeM militants, charged with the plot to kidnap Rahul Gandhi, in the Lucknow session court premises while they were being taken to be produced before the chief judicial magistrate Saturday.

Comendo em Deli: Andhra Bhawan

Não é segredo nenhum, porque aos fins-de-semana chega-se a estar mais de meia hora à espera de mesa. Mas não deixa de ser um dos melhores sítios para comer um thali central indiano, ainda por cima no centro da cidade, a uns trezentos metros do India Gate.

O Andhra Bhawan é a casa/representação oficial do estado do Andra Pradexe (Haiderabad) na capital. A sua cantina oferece, seis dias por semana, ao almoço e ao jantar, um simples, mas delicioso menu: um thali vegetariano custa menos de 1 Euro (INR 50), e há sempre a possibilidade de adicionar uns pedaços de frango ou preixe grelhado (INR 50 a dose). Para os mais famintos, há garçons que circulam por entre as salas a distribuir generosas porções extra. É tudo rápido e eficiente, e muito picante!

A P Bhawan Canteen
A P Bhawan
1, Ashoka Road
New Delhi - 100 001
Telefones:
(011) 23382031, 23889182

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Rupias indianas


Num restaurante de categoria média, depois de eu pagar a conta com uma nota de 500 Rupias, o empregado só me entrega o troco em notas, ficando-me assim a dever três rupias, cerca de seis cêntimos de Euro. Mas limita-se a sorrir e a agradecer, preparando-se para me acompanhar até à saída.

Sem qualquer explicaçao, como se as moedas não existissem. Sem qualquer explicação, como se me desafiasse a enfrentar vergonha pública por pedir três moedas de uma Rupia. Sem qualquer explicação, como se três Rupias não bastassem para dar um chamuça e meia a umas quantas crianças lá fora, na rua.

O conceito de grande potência na política externa indiana (Relações Internacionais)

O conceito de grande potência na política externa indiana
Relações Internacionais, nº 15, Setembro 2007, pp. 007-020
Constantino Xavier

Este artigo argumenta que a política externa indiana é orientada, entre outras determinantes, para a obtenção de um estatuto de liderança no sistema internacional. Analisa o conceito de grande potência, identificando oito focos produtivos que sustentam e legitimam a reivindicação na óptica indiana, tais como o seu passado civilizacional, a sua concepção hierárquica do sistema internacional, o sentimento de discriminação de que se sente alvo, ou a predominância das teses realistas na sua academia e diplomacia. Propõe ainda que esta ambição deve ser integrada como variável na explicação, análise e previsão da política externa indiana, bem como na elaboração de incentivos que facilitem uma maior integração sistémica do país, minimizando assim o choque da transição para novas arquitecturas regionais e globais.

Índia: novos horizontes (Relações Internacionais)

Da minha nota de apresentação ao número 15 da revista Relações Internacionais (Setembro 2007), do Instituto Português de Relações Internacionais, num dossier "Índia: novos horizontes" que coordenei:

"...torna-se urgente interpretar a pluralidade de novos horizontes indianos como mais do que um mero sintoma de futuras transformações radicais, de fim de mundos actuais, e de início de outros. Isto é, as transformações a Oriente, neste caso específico a maior integração sistémica da Índia, representam certamente desafios significativos, mas que estão longe de constituírem
ameaças imediatas para a estabilidade e o equilíbrio actual.

É justamente este o objectivo moderador que guia o presente dossiê, que procura enquadrar os novos horizontes indianos numa paisagem estratégica regional e global mais ampla. Tal passa necessariamente pela contextualização da nova política externa indiana, associando-a às dinâmicas regionais da Ásia do Sul, à corrida desenfreada aos recursos energéticos ou à cultura estratégica e Weltanschauung indiana.

O facto de todos os cinco artigos que o compõem serem resultado de investigação conduzida in situ, na Índia, contribui assim também para compreender o mundo tal como ele é visto e imaginado a partir de Nova Deli."

versão integral