Encontrei mais um elemento argumentativo que explica porque é que eu me senti bem, logo à partida, aqui na JNU, e porque afirmo que o espírito universitário aqui é muito mais acolhedor do que em Portugal. Para um artigo no Expresso tive que entrevistar uma especialista em política externa chinesa na minha faculdade, a School of International Studies. Ela chama-se Alka Acharya e é uma doutorada, tida em conta por toda a comunidade académica indiana como grande conhecedora da China. Encontrei-a no escritório dela a pedir entrevista e ela recomendou-me vir a casa dela (no campus) no dia seguinte.
Esperando uma daquelas burguesas casas professorais no campus, na zona das residências dos académicos, como Uttarakhand, fiquei surpreendido quando ao telefone me anuncia que vive no "Warden's Flat 1, Ghodavari Hostel". Uma professora doutora vivendo num anexo de uma das pobres e porcas residências, e ainda por cima num apartamento com nome do contínuo da residência (warden)?
Não me enganei. Ela é mesmo a contínua da residência. Aliás, todos os contínuos das quase 20 residências no campus são professores, normalmente muito reputados. Gerem as chaves dos quartos, fazem visitas surpresas a ver se há visitas não-registadas, controlam a limpeza do refeitório e das casas de banho. Um professor doutor que no dia seguinte nos dá aula. Que viaja em Executiva para uma conferência internacional em Pequim. Nada é incompatível aqui. Bem pelo contrário, há uma comunidade universitária intensa e unida, entre alunos, professores e funcionários, uma amizade e cooperação que dão lugar a esse espírito universitário invejável, em que há diferenças hierárquicas – a um certo nível – e igualdades indestrutíveis.
Em que é possível também jogar futebol com o filho do professor, no estádio, ao fim da tarde. Em que por acaso numa das cantinas ou restaurantes do campus se está sentado ao lado do professor de Teoria das Relações Internacionais. Em que (como o meu flatmate francês) se tem um acidente rodoviário com um professor numa das estraditas do campus. Em que ao nosso lado na aula de Mestrado se senta um colega que é filho de um dos funcionários da universidade (que lava latrinas).
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