Este é o texto do meu amigo João Colimão, de Lisboa, de origem damanense (Damão, e não Damaia, para os mais distraídos). Nunca esteve na Índia, mas parte hoje à descoberta dela. À descoberta das raízes dele. E talvez das minhas também. Fica o testemunho que acho que espelha bem o que eu também senti das primeiras vezes que cá vinha (e ainda sinto um pouco).
Amigos
Tenho estado atarefado com a minha Viagem ao mundo de Bhárata. Aqui entretido com a roupa e prendas a levar..., liguei o computador e a música... música de cítaras e tablas indianas.
Não sei por que magia, mas todas as exigências do mundo ocidental pareceram ridiculas mesmo ao som de uma citara... tenho mesmo certeza que não é ao acaso... como nada neste mundo é ao acaso.
Poderia ir sem uma única mala, e sinto-me mal de levá-la carregada de coisas inúteis...mas sei q as coisas que levo foram enviadas com amor para entes muito quistos e serão recebidas com mais amor ainda... e isso vale tudo!
Sinto que vou ser recebido como se de um principe se tratasse. Para quem não sabe, a minha familia paterna estava na India havia poucas centenas de anos. De origem portuguesa, decidiram abandonar a India quando Portugal "deixou de ser Goa, Damão e Diu." Em 1961, meu pai vinha com seus 10 irmãos e com o meu avô numa viagem rumo a Portugal que conheciam dos manuais de ensino primário.
Muita familia ficou, alguns desapareceram entretanto, mas tudo está no mesmo sitio desde essa data... em casa de minha bisavó, estão as mesmas talhas de arroz, as mesmas talhas de feijão, a mesmos quadros com o casamento de meus avós... as mesmas orações, rezadas por muita gente desde esse dia.
Eu, em Damão, não serei o João, serei para eles o filho do Bézinho, mas sinto que serei recebido com a mesma felicidade de quem recebe um filho! E eles já me esperam!
Damão é uma aldeia piscatória com pouca gente, onde muitos falam até hoje o português... mesmo as crianças (é a lingua de casa). E os portugueses são convidados a casa por qualquer pessoa, mesmo desconhecida... nas casas mais pobres, senão houver chá (boas vindas indianas) oferecem uma água quente sem açucar! Imaginem...o que Portugal perdeu.
Amanhã vou partir. Sinto que vou estar num local já conhecido, mas que num estado delirante vou viver estes dias como que descobrindo aquele imenso território...
Parece que sinto já os cheiros, as cores, as gentes, o incenso, a comida, enfim... a India.
Interrompi esta preparação e sentei-me... realmente a preparação que necessito situa-se num plano penso eu que mais profundo.
O que vou encontrar é-me desconhecido mas chama-me como a luz, como o oxigénio.
Ali parece estar o bem, a verdade, a vida... numa máxima religiosa..
Quero encontrar-me na India e sei que estou lá.
Gostaria de ter espaço para sentir aquela "Land intoxicated with God", pois não consinto conhecer uma civilização sem respirá-la na sua mais intima particula.
Quero agradecer a todos que têm semeado em mim esta paixão!
Espero poder escrever-vos ao longo destes 15 dias, e se não der prometo passar, logo que chegar, as minhas sensações nesta viagem.
Sinto que vou trazer mais bagagem do que imagino... bens que ninguém verá.. que escapam ao controle das alfandegas, mas que ocuparão todo o espaço em que existo na Verdade.
Saudações
Vosso amigo
João
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