quinta-feira, 8 de março de 2007

O bibliotecário-chefe

Na Biblioteca da JNU há uma sala de leitura para várias dezenas de estudantes poderem estudar em silêncio. Todos respeitam esta urgência silenciosa. Todos? Não. Os funcionários da biblioteca e os raros professores que por aqui se aventuram, teimam em fazer ouvir a sua voz quando a atravessam.

Tenho observado um fenómeno interessante: quanto mais alto/importante fôr o funcionário, ou mais ilustre o académico, mais barulho faz. O bibliotecário-chefe é o pior: fazendo-se acompanhar pela sua côrte privada, conversa sempre a alto e bom som, soltando ruidosas gargalhadas.

Isto leva-me a deduzir a seguinte afirmação: aqui, nesta biblioteca da JNU (e ao que me parece, na restante Índia também) a autoridade é simbolicamente conquistada por via do desrespeito (e não respeito) pelas leis democráticas e de civismo. O bibliotecário-chefe demonstra a sua superioridade justamente por via do desrespeito pela lei geral. Logo, só os fracos e os comuns devem respeitar a lei.

Como nunca ninguém protesta, ainda por cima entre estudantes tão politicamente activos como estes na JNU, presumo também o seguinte: o bibliotecário-chefe tem o direito de falar e rir, e assim perturbar o estudo de uma centena de estudantes. Se ele passasse mudo e silencioso, não seria reconhecido como bibliotecário-chefe.

5 comentários:

  1. O que uma biblioteca pode ensinar!!! Parece-me que já aprendeu perfeitamente como funciona o modelo de relações internacionais e de direito internacional ou de direito interno vigente nos dias de hoje... A(s) superpotência(s) ignoram as leis que elas próprias ditam, sendo as mesmas só obedecidas pelos que menos capacidade de resistência apresentam, os do costume, os mais fracos e pobres.
    Assim como no interior dos Estados, ter poder é sinónimo de só ter direitos. Os deveres são para os que nada têm nem nada podem, aqueles que a lei trata não como cidadãos, mas como súbditos.
    Admira-me apenas que tenha aprendido isso na sua estadia em Delhi. Em Portugal, provavelmente, estaria mais interessado e atento noutras coisas do que no modo de como o nosso país funciona.

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  2. Observador,
    as suas observações sobre o funcionamento da política internacional (e do mundo em geral) são fascinantes e fazem-me, em retrospectiva, compreender muitas coisas acerca da vida e até da minha infância. Pode dizer-me em que artigo da Wikipedia é que se baseou desta vez? Deixou-me com vontade de aprender mais.
    Melhores cumprimentos.

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  3. o teu post é de facto constrangedor, Tino. Mas, simultaneamente, é revelador de uma certa classe da Humanidade: a única.

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  4. João, muito me agrada constatar que preferes usar este espaço para comentares os meus comentários, até mais que comentar os artigos publicados.

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  5. observador, o sr. parece que gosta de fazer posts num espaço de comentários...

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