sábado, 31 de março de 2007

Descendentes

Agora os goeses e as demais comunidades católicas lusófonas passaram a ser todas "descendentes de portugueses". Segundo o Norte Desportivo, Descendente português treina selecção da Índia (de hóquei em campo, entenda-se). Trata-se de Joaquim Carvalho, que é tão descendente de português como Atal Bihari Vajpayee. Carvalho não é, portanto, algum primo de trigésima geração do nosso ministro Pinho. É, pura e simplesmente, tal e qual quase todos os restantes goeses ou indianos católicos, um convertido que assumiu o nome de um qualquer seu padrinho jesuíta ou aristocrata português.

Em breve, quando o ex- sindicalista e ex-ministro da Defesa indiano George Fernandes (imagem) voltar a ocupar uma pasta ministerial num Governo liderado pelo BJP, estou mesmo a ver a imprensa portuguesa: "Descendente português governa a Índia". E, logo depois, em reacção pavloviana, os nacionalistas hindus a pedirem a demissão imediata do seu próprio aliado.

2 comentários:

  1. No caso do Jorge Fernandes até podes ter razão porque ele é mangaloriano. Agora quanto ao Carvalho, ele é literalmente descendente de portugueses. Não é é descendente de reinóis, mas isso é outra questão. Até porque tanto quanto o sei nem tu o és e não deixas de ser descendente de português, ou estarei errado?

    (É claro que tens razão quanto à ignorância do Norte Desportivo, isso nem se discute.)

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  2. Dizes-me tu que ele faz parte da minúscula percentagem de goeses "descendentes", tal como o nosso Chanceler António Sousa?

    Nesse caso, seria, de facto, "luso-descendente", embora nunca no sentido que o Norte Desportivo e a imprensa portuguesa em geral dão aos goeses "descendentes de portugueses".

    Mas o ponto principal é: excluindo um ou outro cruzamento pontual entre portugueses brancos e goeses/indianos etnicamente subcontinentais, às vezes há séculos, a esmagadora maiora dos católicos goeses não é descendente de portugueses. Dizer que os goeses católicos são descendentes de portugueses seria igual a afirmar que os africanos com nomes lusófonos (Neto, Santos, Cabral, etc.) também o são.

    É, aliás, uma linha de argumentação (chamemos-lhe "norte-desportiva") que os fundamentalistas hindus muito gostariam de explorar.

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