terça-feira, 6 de março de 2007

Mediano vs. Extremo, na Índia e no Ocidente

Tenho dado por mim, em contraste com os meus demais colegas universitários e mundo académico e político indiano, a defender repetidamente opções intermédias, moderadas e centrais numa variedade de debates, mas também em escolhas simples como a de uma caminho, num entroncamento rodoviários com três saídas.

Tenho observado o mesmo entre os restantes europeus e ocidentais que por cá andam. Sem chegar a ser uma lei, observa-se, no entanto, uma tendência muito premente para a moderação, uma necessidade quase pavloviana de respondermos 2 quando somos intimidados a escolher entre o 1, o 2 e o 3. Os indianos, ao contrário, tendem a preferir o 1 e o 3. Reitero que esta minha observação se aplica a uma variedade de casos, desde a ideologia política à escolha de um legume no mercado.

No meio académico ocidental, por exemplo, é frequente um autor começar o seu artigo explanando que há três escolas de pensamento, três aproximações possíveis a um objecto de estudo ou três teorias acerca de um fenómeno. Há muito que venho a reparar que, em muitos - talvez a maioria - dos casos, é natural que ele defenda a segunda escola/aproximação/teoria, justificando a sua escolha por se tratar da escola/aproximação/teoria mais "conciliatória", "abrangente", "moderada" ou "de compromisso". Uma estrutura introdutória deste tipo não é, no entanto, frequente na Índia. E, quando veiculada, não é apreendida da mesma forma lógica com que nós a apreendemos na Europa, por exemplo.

Reitero: nós, à partida, revemo-nos nessa escolha da escola/aproximação/teoria intermédia que o autor nos apresenta. Isto é, o 1, 2, 3 não é uma mera organização ao acaso. O 2 perde a sua essência se colocado em primeirou ou terceiro lugar, os extremos do continuum. A sua situação intermédia dá-lhe, desde já, uma mais-valia e legitimidade que, embora limitada e depedente do restante artigo e de demais considerações prévias que o leitor possa fazer, advém do seu mero posicionamento antagónico aos extremos.

Por mais que o mundo académico indiano esteja ocidentalizado - e é-o, em grande medida - não vejo os indianos a extraírem igual legitimidade de uma estrutura destas. Isto é, a mera situação intermédia, em segundo lugar de três, de uma escola/aproximação/teoria, não lhe dá nenhuma mais-valia nem qualquer particularidade em comparação com as outras.

Arriscaria mesmo a afirmar que se observa o contrário. A escola/aproximação/teoria intermédia tende a ser abordada com fortes suspeitas, o seu carácter incerto, híbrido, amorfo ou mediano (qualidades positivas no contexto ocidental) assumindo uma dimensão negativa e indesejada, porque fraca. O mediano é, portanto, eternamente medíocre aos olhos indianos.

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