Não sei o que leva o Professor João César das Neves (hoje no DN) pensar que aqui o aborto, a homossexualidade, a eutanásia, a pedofilia e o divórcio sejam non-issues. Nem percebo porque é que afirma, com tanta convicção, que a Europa "entra em vias de extinção". Lá porque agora se fala e sabe um pouco mais do resto do mundo ("China, Índia, Islão, EUA, África, América Latina), não é preciso entrarmos todos em pânico e acharmos que é o fim do mundo. É de louvar que na Europa possamos estar a debater (e não necessariamente só a "promover") questões muito pertinentes, reflectindo espaços de pluralidade que são de uma riqueza insubstituível.
Talvez uma citação, da minha coluna de Fevereiro na revista Atlântico, venha a propósito para esfriar os ânimos de quem acha que vem aí o fim do mundo e de quem gosta muito de falar numa era pós-ocidental ou pós-europeia:
(Passagem para a Índia, Revista Atlântico Fev/07: Reality Check):
"Não há dúvida que algo se passa a Oriente e, no caso indiano, é impossível negar o relativo sucesso do seu sistema democrático ou negligenciar o seu crescimento económico e a sua ruidosa voz no panorama internacional. Mas ao abrirmos os olhos para a Índia, e para esse admirável mundo novo que, na realidade, tem idade para ser o nosso tataravô, convêm que o façamos de forma moderada. Sair da escuridão do armário para enfrentar a luminosidade do mundo, pré-, pós-, ante-, sub-, ou o que quer que ele seja, é um processo doloroso porque nos cega. A solução estará algures entre o defensivo oito dos conservadores do Restelo e o histérico oitenta dos catastrofistas que anunciam o fim do nosso mundo e o início de um novo, o dos Outros. "
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