domingo, 29 de abril de 2007

O MP3

Não encontro o MP3. A minha desconfiança (e experiência) não me permite respirar fundo. Desço e vou ameaçar o electricista que tinha acabado de sair, depois de renovar o nosso quadro eléctrico. O meu hindi ainda não serve para grandes discursos, mas lá formulo a acusação, descrevo o objecto desaparecido e passo a mensagem de que não estou para brincadeiras - o som de police para tal basta. O jovem e o seu assistente negam. Chegam um colega meu e outro meu vizinho amigo. Discutimos estratégias e refiro que tenho a certeza total que só poderão ter sido eles. Cito-me: "100% sure".

Mas nem precisava de ter dado essa garantia. Para eles é tudo óbvio. Tomam conta do caso. Um faz de bom cop e procura dialogar. O outro faz de mau e ameaça, forte e feio. Já são meia-noite e entendemo-nos todos - mas eu já só sou observador, alienado, marginalizado, como que já desconfiando que devia ter procurado mais vezes. O electricista garante-nos que vai tentar falar amanhã com os seus assistentes e obrigá-los a devolver o objecto desaparecido. Volto para casa. Aprendo uma lição de vida. Encontro o MP3.

No dia seguinte houve direito a desculpa pessoal e entrega de uma generosa (e envergonhada) caixa com doces. Só sorriu e só me disse "isso são coisas da vida, não faz mal".

1 comentário:

  1. Magnifica historia. Magnifica transposição da historia para palavras.

    Magnifico imaginar a cena toda no local onde aconteceu.

    Obrigado por aquela noite em Deli.

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