A história não diverge muito do enredo típico dos filmes Bollywood sobre a diáspora indiana, actualmente muito na moda. Em Londres, os pais indianos querem arranjar um casamento para a sua bela filha Jasmeet (Katrina Kairf) que, no entanto, vive fascinada pela cultura ocidental e olha de soslaio para a Índia: prefere falar em inglês, recusa o nome indiano e adopta uma alcunha trendy (Jazz), gosta de sair à noite e tem um namorado aristocrata inglês (Clive Stande, que assume o papel de "Charlie Brown").
Jasmeet embarca assim, contra a sua vontade, com os pais, para a Índia, redescobrindo-a em confrontação, com epicentro na aldeia natal do pai, num feudo rural do Punjab. É aqui que emerge o campónio Arjun (Akshay Kumar), intelectualmente limitado mas com um belo coração que logo se apaixona pela indiana diaspórica.
Para escapar à pressão, Jasmeet torna-se maquiavélica. Deixa-se casar com Arjun (numa cerimónia tradicional) só para poder voltar para o seu namorado em Londres, onde anuncia à família que o laço matrimonial contraído na Índia é legalmente inválido no Reino Unido, por falta de qualquer documento comprovativo. É uma vingança dirigida aos pais, mas é Arjun, abandonado em Londres, sem saber falar inglês, que é a principal vítima do fogo cruzado inter-geracional.
A dicotomia maniqueísta do director Vipul Amrutlal Shah assume assim, a meio do filme, contornos explícitos: Jasmeet iludida pelo Ocidente anuncia o seu casamento com Charlie que, por esta altura, já deu a entender que é um playboy milionário que se está nas tintas para Jasmeet e se recusa a defendê-la contra as insinuações racistas dos seus familiares. Aqui está então a diaspórica indiana degenerada, pronta para ser devorada pelos brutos e reacionários ocidentais (outro exemplo: o seu amigo paquistanês recusa casar-se com a sua namorada inglesa porque os pais dela o obrigam a converter-se ao... Catolicismo!).
O momento alto do filme é, sem surpresa, um discurso de Arjun sobre alguns factos e números que supostamente reflectem a grandeza da Índia. Durante a cerimónia de anúncio do noivado entre Jasmeet e Charlie, um tio do noivo, ex-militar britânico na Índia, provoca Jasmeet e outros indianos com comentários racistas (equiparando os indianos a macacos, entre outras piadas). Emerge então Arjun, com uma "lição" que deixa os ocidentais boquiabertos:
Para escapar à pressão, Jasmeet torna-se maquiavélica. Deixa-se casar com Arjun (numa cerimónia tradicional) só para poder voltar para o seu namorado em Londres, onde anuncia à família que o laço matrimonial contraído na Índia é legalmente inválido no Reino Unido, por falta de qualquer documento comprovativo. É uma vingança dirigida aos pais, mas é Arjun, abandonado em Londres, sem saber falar inglês, que é a principal vítima do fogo cruzado inter-geracional.
A dicotomia maniqueísta do director Vipul Amrutlal Shah assume assim, a meio do filme, contornos explícitos: Jasmeet iludida pelo Ocidente anuncia o seu casamento com Charlie que, por esta altura, já deu a entender que é um playboy milionário que se está nas tintas para Jasmeet e se recusa a defendê-la contra as insinuações racistas dos seus familiares. Aqui está então a diaspórica indiana degenerada, pronta para ser devorada pelos brutos e reacionários ocidentais (outro exemplo: o seu amigo paquistanês recusa casar-se com a sua namorada inglesa porque os pais dela o obrigam a converter-se ao... Catolicismo!).
O momento alto do filme é, sem surpresa, um discurso de Arjun sobre alguns factos e números que supostamente reflectem a grandeza da Índia. Durante a cerimónia de anúncio do noivado entre Jasmeet e Charlie, um tio do noivo, ex-militar britânico na Índia, provoca Jasmeet e outros indianos com comentários racistas (equiparando os indianos a macacos, entre outras piadas). Emerge então Arjun, com uma "lição" que deixa os ocidentais boquiabertos:
O tremendo sucesso deste filme deve-se, na minha opinião, acima de tudo a este discurso. É, sem dúvida, "ridículo", porque explicitamente nacionalista. É também curioso, porque escolhe critérios de grandeza que reflectem termos impostos pelo colonialismo, pela modernidade e, assim, pelo Ocidente: secularismo, crescimento económico, ciência, militarismo, educação etc.
A estratégia não é nova: já no início do século XX, durante a sua luta contra o colonialismo britânico, uma das principais estratégias indianas passava por demonstrar que podiam derrotar os britânicos no seu jogo, o críquete de que tinham sido impedidos de participação durante tantos anos (um déja vu em Namastey London, onde a equipa indo-paquistanesa composta por familiares de Jasmeet derrota os britânicos liderados por Charlie, num jogo de râguebi). Ganhar aos colonizadores no críquete representava o domínio de uma técnica e de instrumentos que, no discurso colonialista, nunca poderiam ser dominados pelos autóctones.
O facto de este discurso de Arjun ser a parte mais visualizada do filme no YouTube e uma leitura dos vários comentários com que o discurso é elogiado, é demonstrativo da imensa vontade de afirmação entre as novas gerações indianas. É uma necessidade pós-colonial de afirmação em termos de igualdade para com o ex-colonizador (em termos gerais, o Ocidente) que pode assumir atributos radicais, nomeademente no caso do nacionalismo hindu.
É neste sentido que devo admitir que compreendo o sucesso, e também a mensagem, deste filme. Não concordo, mas compreendo, porque é, nada mais, nada menos, do que uma simples resposta, uma reacção, à forma discriminatória e racista com que os indianos são muitas vezes recebidos no Ocidente e à forma, ainda condescendente, com que a Índia é tratada no Ocidente.
É neste sentido que devo admitir que compreendo o sucesso, e também a mensagem, deste filme. Não concordo, mas compreendo, porque é, nada mais, nada menos, do que uma simples resposta, uma reacção, à forma discriminatória e racista com que os indianos são muitas vezes recebidos no Ocidente e à forma, ainda condescendente, com que a Índia é tratada no Ocidente.
É fácil de mais acusarmos os aplausos indianos a Namastey London de racistas e nacionalistas, porque somos nós mesmo que criamos as condições para o sucesso de um filme com uma mensagem destas. É por isso mesmo que recomendo vivamente Namastey London a todos os que querem compreender o que vai na mente de muitos jovens indianos. Antes de, mais uma vez, levantarmos o nosso dedo inquisidor, cheio de moral e pedagogia.
Muito bom artigo!
ResponderEliminarOlá Milan,
ResponderEliminarobrigado. Mas que tal dar uma opinião tua também? Tenho a certeza que também tens alguns comentários muito válidos e talvez até impressões tuas recolhidas aqui na Índia.
Abraço
Constantino
Já vi... e gostei. E acredita, é mesmo a realidade em muitos sítios, nomeadamente neste sítio onde moro e que se chama... Grã-Bretanha.
ResponderEliminarè interessante como o cinema continua a servri causas e nao só entertenimento...
ResponderEliminarNeste caso as causas sao entretenimento! rsrsrrs
O Artigo abaixo ( neo orientalismo) está optimo também. A esse propósito tinha-t eescrito o texto, do qual recebi a tua resposta, obrigado (acho qu enao cheguei a agradecer).
Entretanto para o proximo ano devo ser eu a pedir-te info de turista ....rsrsr
Olá Rebel Fairy, estou a ver que o Namastey London também deixou impressão em... Londres. E vejo que há um espectador português muito atento ao cinema indiano.
ResponderEliminarAntónio, já não te via por cá há várias semanas. Por onde andas? Infelizmente o texto "A ameaça do neo-orientalismo" não permite comentários, não percebi ainda porquê.
Abraços de Deli
Constantino