sábado, 18 de fevereiro de 2006

Keylong

Finalmente, ao fim de uma semana, anunciam a partida para a madrugada seguinte. Ensonados ainda, dirigimo-nos pelas quatro e meia e da manhã para a pequena ruela a que chamam main avenue e interstate bus stand. E, de facto, reina grande agitação, as pequenas barraquinhas do chá já abriram e as pessoas vão-se aquecendo à volta dos três autocarros verdes e brancos que preenchem a rodovia. Como fomos dos primeiros a ficar empatados aqui, e como procedemos logo à reserva para a continuação da viagem, conseguimos conquistar os nossos lugares devidos com pouca dificuldade, e sentamo-nos nos bancos de madeira forrados de uma capa sintética e encostamos as cabeças cansadas às tiras de alumínio que logo nos arrefecem a nuca.

Mas não é possível adormecer. Parece que há duas vezes mais potenciais passageiros que lugares disponíveis, embora haja três autocarros. Emergem então do silêncio madrugador pequenas discussões, um ou outro empurrão, uns vão ficando no corredor, de pé, outros descem e deverão esperar pelo próximo autocarro, talvez amanhã. Os motores arrancam, a chuva gélida alternada com neve vai caindo e, já a carcaça metálica se põe em andamento, vislumbro, por detrás da janela embaciada, a figura de um dos filhos do sadhu, encharcado, a tremer, olhando-me, e cobrindo-me com um sorriso quente, como que de despedida.

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