E depois acelera, cruza a Índia até Goa (breves páginas desinteressantes - nem reparei que se tratava de Goa), para embarcar numa genial viagem de traineira curzando o Mar Árabe em direcção a uma mítica cidade no Médio Oriente, onde a narrativa (e a personagem principal, cheia de bolhas na cabeça e dons semi-divinos) se estabiliza.
Só para nos lembrar que uma raga nunca se rende à lentidão e à estabilidade, escapando, de repente, para o magrebino Norte de África onde, depois de uma paragem no deserto, termina com os olhos postos na Europa e algumas mensagens pós-coloniais bem implícitas. Acaba tudo, sempre, por lá.
A raga como forma literára tem potencial. Ghosh cobre uma década em duas páginas, só para cobrir três minutos em quarenta. E assim sucessivamente, aos soluços, deixando-nos cronologicamente zonzos, mas sempre conscientes. Uma tortura deliciosa.
Para além de todos os escritores indianos da moda - muitos só o são porque dão a conhecer a Índia ao resto do mundo da forma que ele a quer ver - Ghosh encontra especial simpatia em mim pelo facto de nunca se ter rendido às belezas e tentações extra-indianas. Horas depois do tsunami asiático, embarcava para as ilhas Andamão e Nicobar, de onde escreveu um dos melhores ensaios jornalísticos que jamais li na imprensa indiana.
The Circle of Reason é também uma abordagem literária original à essência e aos dilemas do migrante, indiano ou qualquer outro o que o distingue das restantes obras que exploram não mais do que os clichés que começam a envolver a diáspora indiana. The Circle of Reason é um livro que eu recomendo vivamente a quem queira explorar a periferia do mainstream literário indiano.
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