sábado, 27 de janeiro de 2007

Educação à indiana (Atlântico)

"Educação à indiana" é o título da minha mais recente coluna Passagem para a Índia na revista Atlântico de Janeiro, ainda nas bancas.

"...em vez de “rasca”, os estudantes indianos são a “nata”. Não esbanjam fundos comunitários em semestres de intercâmbio Erasmus, para se embebedarem nas noitadas e se orgulharem de não terem posto os pés nas aulas. Aqui, quem não dá o máximo arrisca-se a ser substituído. Mais de 200 000 jovens candidatam-se anualmente ao Indian Institute of Managment de Bangalore. Apenas 250 são aceites. É o reino da competitividade pura, dura e, acima de tudo, justa. (...) Figuras como Zarkaria, Sen, Nooyi e Mittal não são fruto do acaso ou representantes de uma típica elite terceiro-mundista assimilada. Reflectem a emergência indiana por via da educação e simbolizam o sucesso de um sistema flexível, democrático e inovador que, apesar de todas as suas limitações, está a provocar profundos rombos no casco do velho galeão que é a educação na Europa."

5 comentários:

  1. Concordo contigo em que muita gente faz questão de se vangloriar de ir para Erasmus e não ir a nenhuma aula. É uma infelicidade, há quem aproveite de uma maneira, há quem vá às aulas...

    Agora essa de ter um instituto em que concorrem 200.000 pessoas e só são aceites 250... axo que não é motivo de orgulho para ninguem. Significa apenas que 199.750 que procuraram uma educação de elevado nivel viram as suas ambições negadas.
    É de um elitismo gritante... não direi que não produz resultados positivos, mas não sei se seria motivo de orgulho!

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  2. Excelente comentário do Rik. Aliás, Constantino, já te tinha expresso as minhas reservas em relação a esta crónica e ao que considero ser uma visão demasiado a preto e branco. Eu conheço-te e sei que não pensas assim, mas nesta crónica basicamente defines o mundo da virtude (a Índia pobre, humilde, mas honrada e trabalhadora) e do vício (a Europa anafada, bêbada, preguiçosa, decadente).
    Como sabes e já tivemos oportunidade de discutir algumas vezes, discordo absolutamente desta visão catastrofista e simplista.
    Um abraço e continuação de bom trabalho!

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  3. Amigo João,

    o Rik, no seu comentário, aborda o aspecto concreto do elitisimo, de ser uma minoria que entra no IIM de Bangalore. Isto é, avisa que devemos olhar também para os que ficam "de fora".

    Mas vamos à tua crítica, que é outra: o mundo a preto e branco: "(a Índia pobre, humilde, mas honrada e trabalhadora) e do vício (a Europa anafada, bêbada, preguiçosa, decadente)". Não é assim, contudo, que eu vejo as coisas. Para quem, como eu, anda dos dois lados há muito tempo, as coisas tendem a ser cinzentas. Aliás, na própria crónica (de que este post é só um excerto) dou a entender que nem tudo brilha do lado indiano:

    "O lado mais negro do sistema educativo indiano também existe, claro. Enquanto que, no conforto dos auditórios, sociólogos se masturbam intelectualmente discutindo a pós-modernidade, no exterior mulheres grávidas renovam o edifício universitário, carregando tijolos nos ombros. Já o sistema de quotas leva a que semi-analfabetos das castas mais baixas acedam ao ensino superior, enquanto que outros candidatos, de maior mérito, mas nascidos numa casta mais alta, são excluídos. A competitividade também tem o seu preço: anualmente mais de quatro mil jovens preferem o suicídio à humilhação de enfrentarem a família com resultados que não correspondem às expectativas, isto é, o topo."

    Mas não nos podemos render a esse triste tom que é o cinza. Em busca de cores, incluindo tons de preto e branco, é necessário generalizar e identificar para onde caminham a Índia, a Ásia, a Europa, o Oriente ou o Mundo. É talvez por isso que esta crónica te cheire a maniqueísmo. E é talvez por isso que qualquer cronista (e jornalista) tende a ter algo de maniqueísta na sua escrita. Obrigado por me chamares à atenção, no entanto.

    Vamos ao comentário do Rik. Tens toda a razão. A Índia brilhante de que tanto se fala aí não passa de uma miragem. Faz-se, em grande medida, à custa da exclusão. Mas este é um tema picante e que, até para mim, permanece um mistério. O crescimento e a emergência económica indiana estão a criar mais pobreza ou mais riqueza? Faz-se pela exclusão ou pela inclusão? Temas a que devíamos dedicar mais atenção. Justamente sobre este tema, recomendo-te que leias a minha próxima crónica na revista Atlântico (de Fevereiro), intitulada "Reality Check", em que desfaço alguns dos mitos indianos que emergem a Ocidente.

    PS: Os 199.750 qe ficam de fora, a cada ano, no IIM, não são necessariamente marginalizados. Bem pelo contrário. São alvo privilegiado de uma vasta rede de instituições educativas "de segunda" e costumam alcançar pelo menos uma boa parte do sucesso com que sonhavam com a eventual entrada no IIM.

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  4. O site da Embaixada de Portugal na Índia é obsoleto!! Para quando uma remodelação? Para ter sites daqueles, mais valia não ter nenhum!!!

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  5. Ok li as respostas, obrigado por terem lido a minha com atenção. Terás entendido que fui reservado nas minhas criticas devido a não conhecer a realidade indiana como tu a conheces.
    Só achei importante salientar que o objectivo de uma grande instituição de ensino deverá ser formar 250 excelentes alunos e mais 3000 ou 4000 muito bons alunos e não apenas os melhores 250.
    Outra coisa que sempre me fez confusão foi o sistema de castas indiano. Desconhecia que houvesse medidas de quotas para combater essa realidade. Até há bem pouco tempo era contra essas medidas, até que recentemente foram aplicadas algumas em Portugal (mulheres no parlamento, musica portuguesa nas rádios) e tenho que admitir que para situações de desequilibrio extremo, desde que de caracter temporário, conseguem bons resultados (ou seja, até criar uma tendencia no povo para que se chegue ao equilibrio).

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