Um casal em vestimenta tradicional tribal do Nordeste indiano (Northeast), durante um festival anual na minha universidade que celebra a cultura tribal daqueles estados que são conhecidos como "seven sisters" e se situam, quase enclavados e separados do resto da Índia, entre a Birmânia, a China, o Butão e o Bangladexe. O melhor daquele longo serão, para além deste desfile, é a deliciosa comida que preparam, incluindo a muito típica, saborosa e rara (para nós estrangeiros) carne de porco.
Os northeasterners - como são conhecidos - distinguem-se muito do resto dos indianos. A começar pelas suas características físicas: estatura pequena, fisionomia mongolóide e pele clara. Depois a religião, animista tribal ou, na sua grande maioria, cristãos. Finalmente, o seu estilo e a sua identidade: normalmente falam inglês com grande fluência, vestem-se à ocidental, cientes das últimas modas, e por tudo isso, são muito próximos dos estudantes estrangeiros da universidade e muito procurados pelos estabelecimentos comericais indianos que pretendem oferecer um serviço ocidentalizado. É o caso, em especial, da hotelaria e da restauração, em que os nordestinos compõem, por vezes, a maioria do pessoal.
Mas não é só por isso que eles se encontram nesse sector económico. A sua mentalidade ocidental e mais liberal permite que as raparigas sigam carreiras e profissiões que se encontram vedadas às aspirações das suas congéneres "indianas" (chamemos-lhes de "mainstream indostâncias"), sujeitas a pressões familiares muito mais conservadoras. Num restaurante da Pizza Hut, por exemplo, e em hotéis de categoria superior, para além dos Notheasterners, há, por razões semelhantes, um único outro grupo étnico sobre-representado: os goeses.
Mas voltemos aos Northeasterners. A realidade é que vivem à margem da restante sociedade indiana, especialmente aqui em Deli e no Norte da Índia. A sociedade indiana indostânica discrimina-os fortemente. As raparigas são frequentemente alvo de abusos sexuais e as violações não são raras: aos olhos dos jovens indianos, especialmente os embriagados, as frágeis raparigas parecem alvos fáceis e todo o seu comportamento parece-lhes convidativo: "elas são fáceis e querem", pensam (idem para os jovens turistas indianos e as jovens goesas). Os rapazes são, por sua vez, alvo de frequentes cenas de violência. Colegas meus contam-me também que nas próprias universidades (não na minha, no entanto) por todo o país eles são discriminados em termos de avaliação. Um deles, contou-me o episódio em que ele teve a nota mais alta e um professor insinuou, à frente de toda a turma, que ele estaria envolvido fisicamente com uma das directoras do departamento: "Não há outra explicação para que ele tenha tido notas melhores que vocês todos", explicou.
O problema assume proporções maiores se incluirmos também os fortes sentimentos separatistas que se vivem nesses estados do Nordeste. É uma longa batalha política e armada que vários grupos têm conduzido há mais de cinco décadas e que já provocou milhares de mortos. Parece-me, no entanto, que o conflito é resultado, e não causa, deste grande fosso entre duas culturas - e porque não civilizações - distintas, e da discriminação de que a parte mais frágil (a população tribal) tem sido historicamente alvo.
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