No ‘Silicon Valley’ da Ásia, um grupo de MBA portugueses tomou o pulso à revolução indiana
“Contrastes”, “oportunidades” e “confiança”. Foi com estas palavras que os quarenta e três participantes portugueses do programa «Evolving Indian Business Environment», realizado este mês, no Indian Institute of Management de Bangalore (IIMB), descreveram a Índia e a sua economia emergente.
A iniciativa, inédita em Portugal, visa permitir anualmente aos alunos do MBA da AESE, Escola de Direcção e Negócios, “redescobrir uma nova Índia”, segundo Viassa Monteiro, professor na mesma instituição. “A distância psicológica que separa Portugal da Índia é bem maior do que a geográfica”, alerta, sublinhando que o objectivo é permitir aos alunos “observarem de perto o epicentro do crescimento económico indiano”. Bangalore, que na década de noventa cresceu a taxas superiores a 20%, é conhecida como o “Silicon Valley indiano”.
Foram, contudo, os contrastes socio-económicos que mais atraíram a atenção dos jovens profissionais portugueses. “Com 150 milhões de indianos a viverem em grande prosperidade, é um desafio gigante alargar a riqueza aos restantes 900 milhões”, diz Gabriel Abrantes, do planeamento estratégico da Sonaecom. “Está tudo por fazer”, refere, destacando os sectores dos serviços e das infra-estruturas.
Para Anabela Barata, os contrastes reflectem “tremendas oportunidades de investimento, com um crescimento sustentado e uma mão-de-obra qualificada e competitiva a nível global”. Contudo, para a consultora financeira, os desafios culturais e os obstáculos burocráticos e políticos exigem uma perspectiva a médio ou longo prazo. “Aqui não há espaço para ambições de lucro fácil”, assinala.
Luís Costa Afonso, gestor da Milefiore e importador de acessórios de moda da Índia, defende que a exploração do potencial indiano requer um comprometimento sustentado: “Não pode ser feito à distância. Implica conhecer o terreno e identificar nichos adequados às capacidades das pequenas e médias empresas portuguesas”, refere, salientando a importância de se conhecerem a cultura e as práticas locais de negócio.
Os elevados índices de confiança entre empresários, gestores e decisores indianos, foram um outro aspecto observado pelos participantes. Teresa Mesquita, profissional na área das tecnologias de informação, sublinha que estes “não se colocam à sombra do sucesso actual. Têm uma visão estratégica, racional e madura, o que surpreende num país saído de um longo período de paralisia e planeamento estatal”. O fenómeno também foi constatado no contexto académico. Quando inquirido sobre as estratégias a adoptar pela Europa para fazer face ao crescente poderio asiático, um dos professores do IIMB recusou-se a responder, explicando que “estamos a jogar pelas regras que vocês mesmo nos impuseram há três séculos”.
Para Narandra Agrawal, professor no IIMB, a atenção internacional de que Bangalore tem sido alvo é uma “mais-valia” para a inserção indiana na globalização. O instituto, que trabalha em rede com as escolas de negócio de Harvard nos Estados Unidos, McGill no Canadá e INSEAD em França, é considerado como uma “instituição de elite” na Índia. “Em termos de qualidade da educação estamos ao melhor nível mundial”, sublinha Agrawal.
Constantino Xavier, enviado a Bangalore
Caixa
200 multinacionais ocuparam boa parte das dezenas de parques tecnológicos. Entre directores executivos, técnicos e operadores são já mais de 15.000 os estrangeiros a viver em condomínios de luxo.
Até 2010 serão criados 120 mil novos postos de trabalho em «call-centers» para outras línguas europeias, que não o inglês.
30% dos agregados familiares de Bangalore possuem só uma bicicleta, enquanto que 9% possuem uma viatura ligeira, um jipe ou um monovolume.
Bangalore regista a sexta mais alta taxa de criminalidade entre as 35 megacidades indianas (com mais de um milhão de habitantes).
Mais de 200.000 jovens candidatam-se anualmente às 250 vagas oferecidas pelo Indian Institute of Management de Bangalore em cursos de pós-graduação.
Desde 2000, Bangalore atraiu em média cerca de 250 milhões de euros de investimento directo estrangeiro por ano, quase 8% do total indiano.
Por dia, Bangalore consome quase oito milhões de litros de água e produz cerca de três mil toneladas de resíduos sólidos.
O volume de tráfego rodoviário em Bangalore cresce a um ritmo anual de 7 a 10%, estando actualmente registados mais de 1,6 milhões de veículos motorizados.
"Em Directo"
Gabriel Abrantes, PLANEAMENTO ESTRATÉGICO SONAECOM
“1990 simbolizou um momento de ruptura, marcando o início da transição do planeamento socialista para a economia de mercado”
Anabela Barata, CONSULTORA FINANCEIRA
“Aos olhos europeus a pobreza é chocante, mas o crescimento fala por si e promete grandes transformações”
Luís Costa Afonso, GESTOR DA MILEFIORE
“A atitude dos empresários é quase fabril: não colocam dificuldades, assumem riscos e tornam tudo possível. Primeiro ouve-se um sim, depois um talvez e só raramente um não”
Nélson Rodrigues, ENGENHEIRO CIVIL
“Para um engenheiro civil há aqui negócios fabulosos para uma vida inteira”
Pedro Vasconcelos, ENGENHEIRO DE TELECOMUNICAÇÕES
“Ao fim de quinze anos de grande crescimento económico, em vez de o clima ser de euforia e arrogância, afirmou-se entre os indianos uma visão consciente, optimista e sóbria das suas capacidades e fraquezas”
Teresa Mesquita, COORDENADORA SIBS
“A visão estratégica das elites está ao nível europeu e norte-americano, fiel a uma constante introspecção e autocrítica”
O artigo, com mapa e fotografias, está disponível em linha no sítio do Expresso, esta semana com acesso gratuito (porque o sol apareceu no horizonte).
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