terça-feira, 31 de agosto de 2004

Jawaharlal Nehru University

A JNU foi fundada nos anos 70 com o objectivo de congregar a elite de estudantes e investigadores indianos em busca do utópico desenvolvimento por via do socialismo não-alinhado. A universidade tem diversas faculdades, e os programas de estudo são exclusivamente de pós-graduação, excluindo-se a School of Languages onde se oferecem cursos de licenciatura e onde estou a aprender Hindi.

Outras faculdades são a School of International Studies, onde estudo como único e primeiro estudante português regular de sempre nesta instituição, a School of Social Sciences, a School for Arts and Aestethics, o Special Centre for Sanskrit Studies, o Centre for Biomolecular Science ou a School of Informatics... Cera de 4500 estudantes vindos de toda a Índia, e mais de 200 estrangeiros, frequentam os programas diversos que a JNU oferece. Há cerca de 500 professores e investigadores o que dá uma simpática proporção de um professor para cada nove estudantes.

O campus estende-se por várias dezenas de hectares de densa floresta e vegetação. Mais do que um mero conjunto de salas de aula, a JNU é uma pequena nação dentro da metrópole deliense. Por exemplo, a maior distância entre duas residências chega a cinco quilómetros. Há as faculdades, grandes edifícios em pedra de tijolo vermelha, há a enorme biblioteca que é uma torre emergente simbolicamente colocada no topo de uma das colinas. Há dezenas de residências espalhadas pelo campus, todas baptizadas com o nome de grandes rios indianos.

Tal como a maioria dos estudantes, a maioria dos professores mora dentro do campus, em bairros residenciais que se assemelham perigosamente aos subúrbios de classe média americana nos anos 50, pequenas casas com pequenos jardins de relva cuidada em que pululam os indefesos filhotes do Professor Doutor que acaba de nos chumbar...

Depois há, num outro extremo do campus para evitar promiscuidades, o bairro dos funcionários, albergando as centenas de anónimas individualidades que mantêm a JNU a funcionar. Vivem com as famílias e as suas crianças vão para a escola secundária localizada no campus, e estou por descobrir se lá se sentam ao lado dos filhos dos professores ou se a retórica do socialismo e da igualdade conta na prática tão pouco como na cantina da minha faculdade onde um rapaz de 11 anos limpa as mesas durante todo o dia.

Há ainda o Stadium, eufemismo para um batatal, onde aos fins de tarde, quando o calor desaperta, os mais belos jogam futebol, criquete ou dão umas voltas a correr. O edifício da Students Union completa o panorama, tal como várias barraquinhas de restauração com as condições higiénicas mais assombrosas possivelmente imagináveis. São pequenas lojitas ou restaurantes que permanecem abertos até de madrugada, reunindo os alunos fartos de estudar e desejosos de socializar um pouco bebendo o tradicional chá.

Pequenos trilhos, para além das estraditas polvilhadas de volumosos speed-breakers, percorrem todo o campus. Um deles vai dar ao Open-Air theater, nada mais do que um buraco numa colina, semelhante a tantas pedreiras abandonadas nos subúrbios de Lisboa.

Mas um pouco mais acima há uma colina com uns rochedos, lugar importantíssimo para a JNU, porque é aqui que de noite se encontram os amantes secretos ao abrigo da escuridão que os protege dos boatos incessantes e do campus minado de preconceitos, normas e condicionantes sociais, embora a JNU seja conhecida no exterior como oasis of freedom and liberal social values.

Presumo com bastante certeza que o meu professor de Indian Political System beijou aqui a sua mulher (também professora) pela primeira vez, quando os dois eram estudantes da JNU nos anos 70. Aqui, não se pergunta se já levaste a gaja ao cinema ou para a cama. Pergunta-se if you have already gone with her to the Rocks. Para olhar para as estrelas, e, se ela estiver de bom humor e for liberal, dar uns beijinhos no canto dos lábios e dizer coisas bonitas.

1 comentário:

  1. olá Tino, queria-te agradecer por esta tarde tão bem passada....vim hoje de férias e li, de uma vez só,todos os teus posts...que delícia!continua...
    beijinho,
    sara

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