domingo, 8 de agosto de 2004

Legitimação (ou Afinal porque é que eu estou na Índia)

Afinal, o que é que o Tino está a fazer em Nova Deli? Como sabem, tirei a minha licenciatura em Ciência Política e Relações Internacionais na Universidade Nova de Lisboa, incluindo um ano de intercâmbio Erasmus na Sciences Po Paris. Fruto do meu interesse por Goa, fui abrindo os meus olhos para o enorme potencial que a Índia, o subcontinente indiano e o continente asiático apresentam na esfera internacional económica e política.

A Índia tem um crescimento anual que ronda os 8% e estima-se que daqui a 20 anos será a segunda maior economia à face da terra. O subcontinente asiático alberga um terço da população mundial e conhece alguns dos conflitos internacionais mais complexos e menos estudados, casos da Caxemira, das revoltas maoístas nepalesas, dos conflitos étnico-religiosos internos indianos, do Sri Lanka ou mesmo a rivalidade sino-indiana.

Recentemente o Council for Foreign Relations, um dos mais prestigiados think-tanks norte-americanos, publicou um relatório em que define a zona da Ásia do Sul como prioritária na política externa norte-americana nas próximas décadas. Os indianos, muito embora ainda limitados por inúmeros constrangimentos internos, caso da iletracia e da pobreza em massa, bem como de conflitos religiosos e étnicos, começaram já a alargar os horizontes e assumem-se como empreendedores no xadrez internacional.

No plano económico, basta dizer que 75% dos técnicos e programadores em Sillicon Valley são de origem indiana, ou que posições de topo em multinacionais americanas e europeias (menos, no entanto) são ocupadas sistematicamente por pessoas indianas ou de origem indiana. Há já casos de multinacionais alemãs e inglesas que na falência foram compradas por magnatas indianos e recuperadas.

No plano político, a Índia move-se habilmente e – sem esquecer a sua aspiração utópica de se afirmar como potência global – vai marcando pontos construindo pontes entre o crescente fosso que se estabelece entre os países pequenos em desenvolvimento e as potências ocidentais. Sinal disso é certamente a entente tripartida com o Brasil e a África do Sul, um fórum em que os três países têm já acertado políticas alfandegárias (relativas às batalhas na OMC) com sucesso, obrigando a União Europeia ou os EUA a recuar perante este emergente bloco.

Perante este contexto, como poderia eu perder a oportunidade de ligar o meu interesse pessoal pelas raízes indianas a uma área de estudo que promete? E querendo-me especializar no objecto de estudo regional que é a Ásia do Sul, no domínio científico da Ciência Política e das Relações Internacionais, o que de melhor senão embrenhar-me pessoalmente e directamente na complexidade do objecto a estudar? Vou passar dois anos na Índia, ainda por cima na vibrante capital deste enorme país, na melhor universidade e no melhor departamento de estudos políticos (School of International Studies, Jawaharlal Nehru University) do qual saíram os mais brilhantes governantes e pensadores indianos.

Vou ter cadeiras teóricas de uma perspectiva indiana e vou ter diversas cadeiras opcionais e práticas relativas à especificidade indiana e asiática (p. Ex. Indian Foreign Policy, Indian Political System, Political Economy of South Asia, Indian Global Diaspora, Security in South Asia etc.). Vou comunicar com outros estudantes, investigadores, diplomatas, correspondents e políticos ocidentais que se movem nesta área de estudo e que estão em Nova Deli regularmente. Vou ser exposto à dimensão social da Índia, acompanhando a actualidade nacional diariamente pela comunicação social, comunicando com as pessoas, seja na rua, no campus ou nas embaixadas. Enfim, vou aprender, pelo menos basicamente, uma nova língua e um novo alfabeto, o hindi em devanagárico.

Certamente, espero, que agora me concedem a legitimidade para estar aqui, em Nova Deli.

1 comentário:

  1. Como sabes, há muito que te concedi essa legitimidade.Assim como espero que ma concedam um dia...

    Até breve (na Índia)!

    Biz

    Carina

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