sexta-feira, 6 de agosto de 2004

Ontem vi

Ontem vi um homem sem pernas que se arrastava pelo centro de uma avenida com a ajuda de uma muleta que era um tronco seco de uma árvore.

Ontem fui acordado às 06:35 por um rapaz que bateu à minha porta do quarto do hotel em que estou, oferecendo-me uma chávena de chá. Recusei e voltei a adormecer.

Vi uma carrinha azul TATA Matador, muito velha, parada e avariada à berma da estrada. O dono tinha espetado um ramito de uma árvore na matrícula, sinalizando assim a avaria.

Pela hora de almoço, passando de carro, vi cerca de 400 crianças, todas vestidas de azul e branco, a saírem da escola. Um único rapaz, assim dos seus 5 anos de idade, vestia gravata. Cuspiu para cima de um gato.

Depois passou por mim um rick-shaw com mais de dez crianças enfiadas lá dentro e as malas todas penduradas atrás. Quando passou por um speedbraker quase que capotou. Mas não capotou.

Também vi ao meu lado, no semáfaro, um Mercedes SLK com vidros fumados e matrícula diplomática. Vislumbrei, no banco de trás, uma grossa mão branca agarrada a uma coxa feminina.

Cruzei-me com um cão preto que deve ter partido a perna a meio e por isso esta tinha voltado a crescer em forma de L. Conseguia correr mas foi apanhado por um cão maior que lhe mordeu violentamente a orelha.

Vi uma rapariga autóctone tão bela e achei por bem só olhar uma vez. Tinha olhos verdes e também só olhou uma vez para mim, sorriu e continuou o seu caminho sem se voltar para trás.

A seguir vi uma vaca que mastigava um saco de plástico enquanto uma costela lhe perfurava o peito, jorrando algum sangue da ferida, bem como um líquido amarelado.

Ontem também me vi a mim, algumas vezes.

2 comentários:

  1. Coitado! Já n lhe resta mais nada para escapar à lavagem cerebral e consequente senão insinuar-se como pseudo-poeta... Tenho de mandar o Ravi pra ir socorrer-te??? LOLOLOL!!!

    Mit freundlichen Grüssen,

    Fabian

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  2. Fabian:

    Por favor deixa o rapaz
    Escrever seu blog em paz.
    De poeta e de louco
    Todos temos um pouco!

    João

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