Sou cobiçado, observado e interrogado. A adoração assume níveis de histeria. Não posso olhar sequer para uma rapariga, arriscando que no dia seguinte circule o rumor pela faculdade inteira de que namoro com ela, que a convidei para jantar em minha casa e que fizemos coisas.
Ontem soube pela Sarita que there are two girls who wanted your phone number to ask you to go out. E que a N., rapariga que faz parte do embrionário grupo de amigos brâmanes, ricos ou influentes e estrangeiros (de que penso fazer parte e de que vos falarei noutra altura), rapariga, dizia eu, com que tenho uma relação amical como com tantas outras, she's crazily in love with you, I know her since I'm little and it's so obvious, e eu como num campo de minas, duvidando se devo poisar o pé aqui ou ali. E a Sarita, que, ao dizer-me isto sorri com os seus olhos brilhantes, eu sei o que ela gostaria de ter, mas não lhe posso dar nada, as minas por todo o lado.
Estou a conversar com um estudante do estado de Assam sobre a política naquele estado e o excessivamente centralizado sistema federal indiano. Confidencia-me que New Delhi is very far away you know, the Centre has not helped Assam to develop, I want to create a network of like-minded people to make business, penso em AK 47 e em redes bombistas e em mim numa prisão e digo que sim, let's see. Do lado oposto da mesa, interrompe-nos uma rapariga, com um corpo bonito. Não a conheço.
"How's your girl-friend, Tino?"
"Who?"
"Your Nepali girl-friend"
"What? I have no girl-friend. Who told you that?"
"Someone. And back in Portugal, you have?"
"No, how do you know my name?"
"No? Are you sure?"
"Yes, who told you all these rumours?"
"Someone"
"Tell me who"
"I am kidding, was just making fun with you"
Vira-se e continua a falar com a rapariga ao lado. Quero reagir, mas So how is the situation in Goa? Like in Assam? Give me you phone number so we may meet more often and start this network.
E a Priya que ao jantar nos diz que I am going to get married by arrangement, I trust my parents, they are already looking, this takes time. I would like to marry a Professor, someone old and intelligent, because he would make money with his mind. Responde-me com um olhar tranquilo No, I guess I will never be in love in my life e continuamos a conversar sobre História das Ideias Políticas e a concepção de Estado em Platão.
E a Mahmuda (este nome não é fictício, meninos, é filha de um diplomata do Bangladesh) que me confidencia que só ontem já vieram ter com ela três raparigas, duas das quais nem sequer da School of International Studies em que andamos, a dizer que eu era cute e que devia convidá-las a ir ao cinema (uma), jantar (outra) e telelefonar (a terceria).
E o meu telemóvel recebe sms de hora em hora. Sweet dreams. Why didn't you come to class today, missed u. What about having dinner tonight? Do you need the notes of TIR class, I have some very good ones. Let's have a tea and you can tell me more about you. Are you sick? You look like today, I have some orange juice in my room, that is good for you E eu desorientado e tonto, num campo de minas.
Sentado com alguns colegas à mesa da cantina, conversamos sobre as origens europeias da língua hindi. Pelo canto do olho, reparo que me observa uma rapariga enquanto come. Registo o facto com normalidade, porque na Índia ser observado, apalpado, perguntado e roubado é normal.
“What is your name?”
Está colada a mim, a minha face e a dela separados por magros centímetros. Recuo ligeiramente, respondo instantaneamente.
“Tino”
“In which course are you?”
“MA International Relations"
"I think you are very cute"
"What?"
"I just think you are very cute"
Vira-se, pega nas coisas dela e sai da cantina.
Viro-me de volta para a mesa, para os meus colegas, esperando risadas gerais, comentários sarcásticos. Mas não, estão todos à conversa uns com os outros, como que evitando encarar-me a mim e o que se acabou de passar.
E eu abandonado a digerir o que não me lembro de ter engolido. E eu desorientado e tonto, num campo de minas. Porque sei que se me mexer um milímetro e tocar uma única, elas começarão a explodir, todas elas.
Absolutamente hilariante. O máximo. Eti
ResponderEliminarnº1."eu sei o que ela gostaria de ter, mas não lhe posso dar nada"
ResponderEliminarnº2 há uma mahmuda, mas n keres nada c ela
nº3. são mtas, mas n keres fazer nada, you are very cute é o mm que te dizerem: sou casada e tenho filhos!
conclusão: por favor confirma-me o teu nome e contacto, creio q estou no post do tino errado.
ou entao é a triste confirmação daquilo q se diz: os homens só querem aquilo q não podem ter..
Gonçalo, Benfiquista frustrado
Gostava de te felicitar por duas coisas tino. A primeira pela forma como escreves. A segunda por seres o novo don juan de deli. Continua...
ResponderEliminarAbraço,
Paulo