quinta-feira, 16 de novembro de 2006

A Cochichina sai-nos cara

European Higher Education Fair, em Nova Deli, de 24 a 26 de Novembro. É um sinal dos tempos. As universidades e instituições de investigação europeias já perceberam que para evitarem males piores (a crise de natalidade e consequências económicas, entre outros), só têm uma alternativa: cativar, importar e mesmo "comprar" estudantes da América Latina, de África e especialmente da Ásia.

Os jornais indianos estão cheios de anúncios de universidades inglesas, alemãs, americanas e australianas que tentam cativar o "boom" educacional indiano. Nos Estados Unidos, por exemplo, os indianos já são mais de 70 000. Também há quase tantos chineses.

Aqui em Deli, quase todos os meses, há grandes sessões de apresentação de universidades estrangeiras, procurando cativar o saber e o capital dos jovens indianos à procura de educação de excelência no estrangeiro, sendo que o sistema educacional indiano está a abarrotar. Por exemplo, mais de 200 000 jovens candidatam-se anualmente ao Indian Institute of Managment de Bangalore. Apenas 250 são aceites. Por outro lado buscam, obviamente, qualidade de ensino e perspectivas de emprego melhores do que na Índia.

A iniciativa da União Europeia, da próxima semana, é, portanto, bem-vinda. Mesmo que atrasados, os europeus perceberam a ideia e juntaram esforços para estarem cá todos em conjunto, certamente com uns saborosos subsídios comunitários. Mas, alto aí... todos?

Não, há um povo resistente. Entre as mais de vinte estruturas (ministérios, departamentos, institutos e comissões) nacionais representadas há de tudo, da Alemanha e França à Lituânia, Letónia e Polónia. O nosso Portugal marca a sua presença pela... ausência.

Mas também há boas notícias. Entre as quase cem universidades e instituições de ensino superior com representações, está uma (1) portuguesa! A proeza cabe ao ISCTE. O meus sinceros parabéns para Entrecampos. No entanto, voltemos às más notícias. 16 alemãs, quatro cipriotas, três irlandesas, duas lituanas e... uma portuguesa?

Posso estar enganado, mas a minha experiência dita que eu adivinhe que a UE paga tudo, ou pelo menos comparticipa fortemente nos custos: viagem, alojamento, barraquinha, impressão de material e panfletos, e se calhar até cafés e alimentação. Bastava pegar num dos muitos estudantes ociosos a deambularem pelas esplanadas e dizer: vais para a Índia, de borla, e só tens que sorrir e trazer de volta uns quantos candidatos indianos aos nossos cursos.

Mas não. É que somos mesmo bons. Tão tão bons, que, adivinho novamente, seremos os primeiros a afundar-nos nesse mundo pós-ocidental que nos aguarda em Deli, em Pequim, em Jacarta e na tão gozada Cochichina. Mas esse gozo e a ilusão cochichinesa vão-nos sair muito caro.

1 comentário:

  1. Comparado com os teus comentários satíricos e arrasadores, o Marcelo Rebelo de Sousa é um Gartenzwerg!
    Grande Tino!
    PS: qual a percentagem de hindis na índia?
    karl from sweden

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