quarta-feira, 1 de novembro de 2006

Tyler strikes back

Já vos aqui tinha falado do Tyler Walker Williams, o marxista norte-americano com que partilho o apartamento. Da sua candidatura de sucesso, o ano passado, para representante na sua faculdade (School of Languages), eleito pelo movimento de extrema-esquerda AISA (All India Students' Association).

Ora bem, o homem voltou ao ataque. É este ano candidato a um dos quatro postos principais na Associação de Estudantes (Students' Union), novamente pela AISA. Como já notei anteriormente, são os postos mais concorridos e reputados no meio político-estudantil em toda a Índia. E, tal como as coisas se estão a desenvolver, está tudo encaminhado para que ele ganhe, mesmo contra os partidos maiores como a SFI (Students Federation of India), a NSUI (National Students Union of India) e o ABVP (nacionalistas hindus).

A decisão não foi fácil. Candidatar-se a um posto destes, ainda por cima com o risco de ganhar, é um risco enorme e significa dedicar um ano inteiro à política estudantil, deixando a vida pessoal e os estudos para segundo plano (se é que chega aí) e comprometer seriamente a saúde, física e mental. Depois deste primeiro ano de experiência nessas lides, o Tyler prometia em alta avoz, a nós cá em casa e talvez mesmo a Nossa Senhora, que nunca mais se iria meter nisto. Ora, de repente, as coisas mudaram.

O Tyler tentou tudo. Explicou ao partido que também tem uma vida pessoal, objectivos académicos e profissionais (afinal, está a fazer o mestrado... em hindi, na Índia!) e que não estava disposto a concorrer. Mas partidos como a AISA sabem melhor. Enquanto que ele se refugiava cá em casa, já passava da meia-noite e já o telemóvel dele tinha tocado incessantemente por dezenas de vezes (e ele limitava-se a escondê-lo por debaixo da almofada), tocam-nos à campainha. À porta, três sujeitos do "comité central". Como que prontos para levar o Tyler para a Sibéria, para o Gulag. Fechavam-se depois no quarto dele, com ele, e saíam de lá sorridentes e o Tyler exausto, desiludido.

Finalmente, no último dia de candidaturas, lá o convenceram. Como ele próprio, antevendo a pressão, tinha entregue o seu cartão de estudante aos serviços administrativos (é documento necessário para a candidatura), foram, ainda não eram sete da manhã de Sábado, bater à porta da casa de um dos funcionários da universidade, pedindo-o de volta. às 13:00 Tyler era candidato oficial para o posto de Vice-Presidente. Às 02:30 voltava a casa, mais exausto do que nunca.

Mas, com o início da campanha, lentamente, o estado febril da política começa a correr-lhe pelas veias. Hoje já voltou mais animado para casa. De repente, esqueceu-se da investigação para o mestrado, das dificuldades financeiras que irá ter (por deixar de poder dar aulas de explicações) e mesmo da namorada, doutoranda em Harvard. Amanhá deixaremos de o ver. Durante os dez dias de campanha, pega numa pequena mochila, sai aqui de casa e vai viver para o quartel-general da AISA, um pequeno quarto numa das residenciais em que deverá dormir pouco mais do que duas ou três horas por dia, em média.

É curioso, abrir, ao pequeno-almoço, os jornais do dia e ver lá títulos como "American contests in JNU", textos e fotografias de quartos- e oitavos-de-página de quem ainda está a dormir, no quarto ao lado, de ressaca de mais uma noite de campanha eleitoral. A questão é polémica, claro: afinal, a liderança do Partido do Congresso por Sonia Gandhi, "a italiana", deixou marcas. Para além do Hindustan Times e do Times of India (artigos sem ligação), recomendo estes excertos, para terem uma ideia do que se passa nesta casa.

Apart from new parties on campus, these elections will also see a foreign student in the race for the post of vice-president. Tyler Walker Williams will be the candidate of the AISA. While it is not his first elections on campus, he is contesting for a place on the central panel for the first time. (The Hindu)

"Student factions need to be more autonomous, they should not receive funding, but can share ideology. At the end of the day they should be able to question their party, otherwise they would end up as agents," offers Tyler Walker Williams, a US national who is a counsellor at the School of Languages, Literature and Cultural Studies at Jawaharlal Nehru University (JNU). (Tribune India)

3 comentários:

  1. Oi Constantino:

    Não deixa de ser interessante estares no meu dessa confusão.
    "Não existem coincidencias" como costuma dizer uma amiga.
    A pouco e pouco vais integrando e estando nos locais certos na hora certos , parabens.

    Alexandre

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  2. O Alexandre tem toda a razão. E há mais uma, que é o factor genético: O teu pai já foi líder da bancada da Faculdade de Ciências do Studentenparlament da Universidade de Colónia, enquanto estrangeiro. Não existem coincidências ...
    Bjs
    Eti

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