segunda-feira, 5 de junho de 2006

Contacto físico

Reparo que enquanto por lá o contacto faz parte e é reivindicado em qualquer relacionamento social, cá é repudiado. Na Índia, os jovens do mesmo sexo, andam nas ruas de mãos dadas e com os braços à volta dos ombros amigos. Nos quartos, os colegas universitários partilham as mesmas camas e por vezes dormem mesmo abraçados. Nos autocarros as pernas e os braços encostam-se à pele nua de outros passageiros, e é natural, ninguém se recolhe. Os pedintes tocam-nos insistentemente nos braços ou, ajoelhados, nos pés. Os vendedores puxam-nos pelo braço e pela anca para dentro das lojas. Nos estabelecimentos comerciais não há pequenos suportes plásticos para colocar o troco - as moedas são colocadas na mão do cliente.

Mas aqui as pessoas têm medo umas das outras. Tocar é um desafio, é o início da hostilidade. O contacto físico simboliza violência e um simples roçar de peças de vestuário numa rua mais movimentada basta para que se crie um ambiente conflituoso. O contacto físico é evitado a todo o custo. O contacto físico é privatizado e individualizado, logo sacralizado. E com isso morre toda uma essencial dimensão do espaço público, e da sociedade, em geral.

3 comentários:

  1. Talvez pela conotação erótica e íntima/privada do toque, quem sabe... É por isso que para nós, tocar e deixar-nos ser tocados é uma prova de confiança e de afecto.

    De qualquer modo, concordo com a "liberalização" do toque (q.b.), apesar de os portugueses nem serem dos piores...

    Chegará o tempo em que os homens portugueses, à semelhança dos homens de leste, se cumprimentarão com um ou dois beijos na face? E onde estará, nessa altura, o típico "macho latino"?

    Preconceito, ou cultura?

    ResponderEliminar
  2. Ó Náná!

    tens razão, não é justo eu atacar os tugas que na questão do contacto físico nem são tão maus assim... imagina os alemães ou finlandeses!

    Quanto ao macho latino, é pá, "prefiro morrer atropelado a dar um beijo na cara de um gajo".

    Tás a ver?
    :)

    Beijinhos e obrigado por passares por cá de vez em quando.
    tino

    ResponderEliminar
  3. entao pá?!
    o guru da relativizaçao cultural que ataca o euro-centrismo com tanto fervor vem agora dar uma mostra de indo-centrismo e dizer que o contacto físico é que é BOM e as pessoas nao se tocarem é MAU...
    meu deus! creio que se deve respeitar todas as culturas e desde logo: porquê nao repudiar o contacto físico e transformá-lo, através de este repúdio, num bem com um grande valor e simbolismo?
    quem hoje toca num amigo, amanha comerá um pêssego.

    ResponderEliminar