domingo, 13 de maio de 2007

Gurgão farestina

Gurgão (Gurgaon), nos subúrbios de Deli, é o fareste do século vinte e um. É uma das last frontier do capital internacional, a leste. De um dia para o outro a paisagem é rasgada por novas torres, brilhantes e reluzentes. No seu interior recebem-se e enviam-se milhões de dados em fracções de segundo, para Denver, São Paulo, Joanesburgo ou Xangai. No seu exterior as crianças rebolam na lama, cuspindo sangue, enquanto que as mães grávidas carregam sacos de betão nos seus ombros e os pais, semi-alcoolizados, descansam à sombra. Das torres.

Mas para além dos contrastes, a Gurgão farestina também é uma terra de oportunidades, o sonho dos mortais comuns. É possível penetrar o íntimo interior das torres, e todos o sabem, todos o tentam, quase todos o conseguem. Uma vez no seu interior, é subir, piso a piso, até atingir o topo. E no topo há uma plataforma de aterragem para os helicópteros que rasgam o próprio céu.

Gurgão é cosmopolita. Aqui a casta, a língua e outras bagagens culturais são desinteressantes, embora ainda presentes. Para além dos imigrantes do resto da Índia, Gurgão atrai também milhares de jovens, de todo o mundo. Especialmente de países desenvolvidos, da Europa e da América do Norte. Também para eles, recém-licenciados, desempregados ou simplesmente desiludidos, Gurgão é uma terra de oportunidades.

Gurgão encontra-se em eterna construção e ebulição. Tal e qual os xérifes vintecentistas norte-americanos, faorestinos, aqui os polícias andam à caça de gangues criminosos (que também procuram penetrar as torres), há tiroteios e mortes. Há restaurantes e discotecas, mais ou menos cosmopolitas, há restaurantes e, acima de tudo, há muita luz néon, colorida, intermitente.

Para mim, e demais observadores externos e visitantes pontuais, Gurgão representa o fim do mundo e assume assim atributos ameaçadores. É justamente por isso que Gurgão reflecte também o início de um outro e novo mundo. Gurgão é fim e início, ao mesmo tempo.

2 comentários:

  1. Com certeza que as cores néon assumirao tons azuis e brancos, no próximo fim de semana, para prestar uma merecida homenagem ao FC Porto, campeao dos campeoes e maior clube do mundo. Com certeza que Deli e toda a Índia parará para ver o jogo decisivo contra o Aves e depois... A GRANDE FESTA!!!
    Pinto Da Costa

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  2. Espero que não...
    Luís Filipe Vieira

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