Aqui, em Nova Deli, sinto-me mais católico, St. Dominic's Church, Vasant Vihar, Welcomes You, frequento as aulas de crisma na cave da igreja, rodeado de 200 crianças e adolescentes, what is faith? Father, can I have my confirmation in Goa?
Aqui, sinto-me mais europeu, dia 1 de Novembro José Manuel Barroso passa a ser a face do projecto político europeu e ele é bom e é português, the European Union Studies Programme JNU invites you to a seminar on EU-India relations, recebem milhões de Euros para indoctrinar os indianos com a mensagem de que a Europa é uma e una. So Portugal is in Europe?
Claro que também sou mais português, com firmes e superiores passos ultrapasso a fila de dezenas de indianos que esperam para entrar na Portuguese Embassy, New Delhi, aceno com o meu passaporte e o portão de ferro abre-se submisso. Entregam-me a lista de seis portugueses que vivem em Nova Deli. Jorge Sampaio is expected to come to New Delhi on an official visit in the first semester of 2005. Durante a inscrição na JNU dezenas de funcionários rodearam-me curiosamente ao ouvirem que eu era português, the first ever Portugal student we remember here, please be welcome, we like your country very much. Figo, adiciona timidamente uma funcionária mais nova, you know him? Um mais velho parece querer corrigi-la, Mário Soares, great man.
Com o meu flatmate Chacate sinto-me mais lusófono, orgulhosamente lusófono, vemos os resumos do Benfica às Quartas-feiras no canal Ten Sports, ouvimos Dulce Pontes e à noite, ao beber uma Kingfisher Strong lembramo-nos de episódios dos Malucos do Riso. Quando no outro dia depois de uma aula defendo perante o professor que o colonialismo português foi melhor que o colonialismo inglês na Índia, reparo que um vulto moçambicano está ao meu lado e intervém em minha defesa. O professor acaba por ser derrotado I didn't know about that e ouve com interesse dois colonizados a defenderem os colonizadores, um deles marxista, o outro não sei.
No fundo, claro que também sou um cidadão do mundo, humanista, um pouco mais socialista até do que em Portugal. Claro que ainda há muitas razões para me chamarem fascista, conservador, cristão-democrata, xenófobo. Não se assustem, vou continuar a desempenhar o papel que tanto vos agrada, serei a ovelha castanha em Lisboa. Mas agora podem também chamar-me de idealista, de humanista, utópico, socialista, um pouco marxista, fraco e oprimido e consequentemente defensor destes. Hoje ao voltar para casa vi uma criança defecar na berma da estrada enquanto olhava para a mãe que carregava tijolos com as mãos a sangrar. E ao sair de casa vi dois leprosos rastejando pela estrada, sem pernas.
Claro que também sou indiano, um pouco menos aqui na Índia, mas bastante na Europa. Afinal, chamavam-me monhé na escola. E quando explico my father comes from Goa, but we live in Portugal, sou dinamitado com - Oh so your father basically is Indian, so you are half Indian too, but now after JNU you will be full full Indian. (sorriso) E, no fundo, quando orgulhosamente tento explicar que sou de Goa, sei que todos retêm simplesmente que eu sou indiano, Indian, from somewhere in India, India. Yes, India.
Sim, e sou mais alemão, porque afinal toda a minha escolaridade é alemã, a metodologia, a classificação, a organização. E metade do meu património genético talvez come salsichas e bebe cerveja ao pequeno almoço. Ler Nietzsche, Goethe e Heidegger em alemão teve necessariamente o seu impacto. So where does your family live in Germany? So there are Indians and run a shop, no? What, so your mother has blond hair and your ancestors have fought for the Nazis? Amazing. In which language do you dream?
E continuo a ser goês. Melhor, goês condicionado, dependente da aprendizagem da língua Concani e de mais umas coisitas. Até lá sou eu. A partir de lá, serei goês. Avisarei quando o dia chegar.
Bonjour... vim parar aqui por causa da Raquel que está aqui em Paris comigo... e neste post fiquei a ler e reler... voltarei para saber mais.
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