À atenção de quem se passeia pelo Connaught Circle, no centro de Deli. Enquanto serpenteia pela multidão um transeunte procura, de forma insistente, chamar a sua atenção, apontando para o seu sapato. Você procura ignorá-lo, lembrando-se dos conselhos amigos de prévios visitantes à Índia - nunca dar atenção a apelos não-solicitados no meio da rua.
Mas o jovem senhor continua a apontar insistentemente para o seu sapato e o olhar dele até parece genuíno e amável, pensará. Você baixa então o queixo e visualiza o seu sapato coberto por uma massa escura e mal-cheirosa que se assemelha a excremento animal. Horrorizado, desesperado, cruza novamente o seu olhar com o do transeunte, os seus olhos espelhando agora gratidão também, para além da habitual desconfiança.
O amável transeunte (geralmente um adolescente) mostra-se igualmente transtornado e, em inglês ou hindi assistido por linguagem gestual, aponta para as árvores que cobrem o passeio e dá a entender que a culpa é dos malditos monkeys que não sabem controlar os seus ímpetos naturais e que supostamente libertam excrementos enquanto que saltitam de árvore em árvore.
Aponta então para um engraxador que se encontra logo ali, à distância de uns metros - uma autêntica benção divina para si, que obviamente não está para dar boleia a merda de macaco durante o resto do dia. Que sorte, exclama para consigo, enquanto que o engraxador anuncia um preço inflacionado para a operação de limpeza (você só diz que sim, e pensa nem que fosse dez vezes mais), olha para cima e abana a cabeça, expressando assim uma profunda solidariedade humana para consigo.
É natural, tal como o sol e a lua, que é tudo uma operação muito bem montada entre dois aldrabões, geralmente pai (engraxador) e filho (transeunte). Este último deixa cair a merda para cima do seu sapato e passa depois novamente por si, avisando-o e orientando-o para o pai engraxador. É um episódio que eu testemunhei repetidamente em Connaught Place.
Nestes casos recomenda-se o seguinte: deixar que o engraxador limpe o sapato e depois recusar pagar e continuar. Muitos protestam de forma agressiva e virão a correr atrás de si, mas nesse caso basta responder de forma igualmente firme, ameaçando com a polícia - e desaparecerão imediatamente. Pode também pedir ajuda a um qualquer outro transeunte que certamente o ajudará se lhe explicar que foi vítima deste embuste.
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