quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007
Estive em Lisboa
Dilúvio
terça-feira, 27 de fevereiro de 2007
Goa Bachao (Expresso)
O pequeno paraíso perdido e frágil de Goa está em perigo. Um movimento, Salvar Goa (Goa Bachao), quer preservá-lo
É quase um grito de desespero: «Goa Bachao», Salvar Goa! Desde há dois meses, é isto que se ouve em Goa, é disto que se fala neste minúsculo paraíso cada vez menos perdido de 3.700 quilómetros quadrados, uma área só um pouco maior do que o distrito de Leiria. «Devolvam-nos a nossa verde Goa» - «Aamchem goem amka parat zai» - assim apela em concani, a língua local, o médico Óscar Rebelo, um goês que fala um português perfeito e que lidera o movimento: «Que este grito de guerra ressoe em cada aldeia do estado de Goa.»
PROGRESSO Goa tornou-se uma mistura de novos e velhos goeses e muitos imigrantes. Está na encruzilhada entre o progresso e a necessidade de preservar a sua identidade
As pessoas vão chegando, juntando-se rente aos muros onde estão expostos vários mapas, fotografias e recortes de jornais. Falam do Plano Regional de Desenvolvimento 2011, uma espécie de plano de ordenamento territorial, e que está na origem de toda esta confusão. Aprovado pelo Governo goês em Agosto de 2006, nos bastidores políticos, prevê a urbanização acelerada do estado, principalmente junto à costa, o alargamento das zonas mineiras, a transformação de muitas zonas florestais em zonas de habitação, tudo para dar lugar a um turismo maciço. Pelo menos cinco megaprojectos estão previstos com os seus condomínios exclusivos, campos de golfe e «resorts».
Num portefólio, estilo antes e depois, pregado no muro, mostra-se um desses sítios, uma idílica vila piscatória no Sul do estado que foi vendida a um consórcio estrangeiro. O Plano prevê a construção de um «resort» com um hotel de cinco estrelas, 800 «villas», cinemas, casino, restaurantes, bares, «boutiques», sala de conferências e de banquetes, uma marina. Para os habitantes de Quepem, por cujas ruas ainda circulam as vacas e onde só raramente se avista um turista, nada disto faz sentido.
Goa, que no fundo é uma sucessão de pequenas aldeias, tem uma linha de costa de 105 km e um máximo de comprimento para o interior de 65 km. Entre o mar e a fértil terra irrigada por dois grandes rios, o Zuari e o Mandovi, Goa tem um ecossistema frágil e delicado, santuário de muitas espécies protegidas. Para Patrícia Pinto, número dois do movimento Goa Bachao, o pequeno estado está em perigo. Mulher bonita e morena, vereadora municipal na capital Pangim, circula pelo recinto do comício, falando com as pessoas, enquanto no palanque discursa Óscar Rebelo. Em concani, pergunta se eles conhecem o plano e o que ele vai provocar e, numa verdadeira lição de política, diz-lhes que eles «é que elegem os políticos e estes têm de fazer o que eles querem, não o contrário.»
É este o método do Goa Bachao/Save Goa. Criado em Novembro e formado em Dezembro depois de um enorme comício realizado em Pangim, percorre cada aldeia das 12 talukas (concelhos) de Goa e realiza sessões de esclarecimento popular. A ideia, conta ela ao EXPRESSO, é acabar com o plano, «porque é ilegal e errado»: não cumpre as leis que protegem a floresta, nem as que regulam a costa, é contra as Comunidades (gaunkari, a histórica organização rural de Goa) e estrutura mal as cidades.
«Queremos um novo plano que tenha em conta as necessidades das pessoas, que não esteja só focado no imobiliário, que respeite os campos de cultivo e crie infra-estruturas, que não existem. Os políticos não têm visão para o futuro», acusa. «Nós não temos nada contra o facto de Goa ser um destino turístico, mas a terra e as pessoas têm de ser respeitadas.» E pergunta: «Já imaginou meter um pescador ou um agricultor dentro dum apartamento? Que vida vai ser a dele?» Afinal, ao destruírem a beleza de Goa, transformando o território numa selva de betão, acabam precisamente com aquilo que querem promover, conclui Patrícia Pinto.
O dinamismo do movimento, criado a partir de forças espontâneas, gente com influência na sociedade mas sem representação política, e muito ajudado pela Igreja católica, acabou por alarmar o Governo. A 18 de Janeiro, perante o «ultimato» que lhe foi dado pelo movimento, retirou o Plano, mas apenas «com efeitos prospectivos». Os líderes do Goa Bachao querem agora saber o que se vai passar com as obras que estão em andamento e prometem intensificar a pressão se a retirada não for «completa e retroactiva». A decisão, seguramente, será difícil. Se, por um lado, com eleições à vista para Maio, se compreende a destreza do Governo em se ver livre dum problema, melhor se entende que muitos negócios já foram realizados e muito dinheiro passado de mão para mão, conforme dizia um observador.
Mas o problema persiste e ilustra a encruzilhada em que se encontra o minúsculo estado de Goa, confrontado por um lado com as necessidades do progresso e, por outro, com o tremendo impacto da abertura.
Desde logo, é notório o descontentamento face aos imigrantes que foram chegando desde a entrada de Goa na União Indiana, em 1961, primeiro como território da União, depois como 25.º estado da República, em 1987. Ninguém sabe quantos são ao todo, mas pensa-se que, dos 1,3 milhão de habitantes que conta Goa, 500 mil serão oriundos de outros estados indianos. «Tenho medo de perder a Goa que conheço, de sermos exterminados», dizia o jovem jornalista Andrew Pereira, que já não fala o português, é católico, mas não deixa de conhecer a sua divindade hindu, Kamakshi, nesse sincretismo religioso tão próprio dos goeses. «Cada vez são menos os que falam concani. Goa está a ser explorada e nós temos de acordar», dizia.
Sentimentos como o de Andrew não são raros e inúmeros novos movimentos procuram dar-lhe voz, como o Save Dabolim Committee, que se opõe à construção de um novo aeroporto internacional e defende a ampliação do actual (ocupado pela Marinha indiana desde 1961) ou promove o reconhecimento oficial da língua concani em escrita romana (e não só no devanagárico indiano).
Há quem comece a defender opiniões mais radicais, a falar de autonomia e até de separatismo. Tudo efeitos do fatídico dia 18 de Dezembro de 1961 que alguns goeses não parecem ter digerido bem. Se para o discurso oficial foi o dia da «libertação», outros preferem o termo «invasão», vendo no pós-1961 um novo tipo de colonialismo, a partir da longínqua Nova Deli. Há quem se queixe de que nem o hino nacional indiano percebe, porque é cantado em bengali, língua desconhecida em Goa. E quem se afirme cada vez mais como «anti-indiano»: «Goa é diferente», afirma peremptório Anthony Fernandes, um outro jovem, trabalhador numa empresa de telecomunicações.
Mas diferente em quê? A ouvir Nagesh Karmali, poeta e escritor hindu, membro dos chamados Combatentes pela Liberdade, um movimento que lutou contra o regime português, Goa não é diferente em nada do resto da Índia. «Somos social, étnica, cultural e racialmente os mesmos», dizia ele ao EXPRESSO, sentado na cadeira de baloiço da sua casa. Anti-português que fala português perfeitamente, Karmali tem no escritório da sua casa a colecção completa das obras de Fernando Pessoa em português - «porque a sua poesia é universal». Mas o legado português, resume, «não foi nenhum e limita-se às casas e à arquitectura».
AMEAÇA As antigas várzeas onde desde sempre se cultiva o arroz estão agora em perigo de se transformarem em condomínios de luxo para fins turísticos
Narana Coissoró, goês de origem há muito radicado em Portugal, diz o contrário: «Existe uma goanidade, uma identidade goesa forte.» Na sua opinião, ela baseia-se no facto de desde cedo ter tido uma estrutura ocidental de Estado moderno, completamente diferente do que acontecia no resto da Índia e de o Código Civil ser aplicado no território desde finais do século XIX a toda a população, mesmo a hindu. «A 18 de Dezembro de 1961, Goa era administrada totalmente por goeses», afirma ainda, enquanto acrescenta a rir que, em Goa, «até os brâmanes comem carne».
Goa testemunha agora um consenso alargado de que está em perigo. Dos saudosistas lusonostálgicos aos nacionalistas hindus que vandalizam património português de picareta na mão, e até entre as gerações mais novas, há um sentimento geral de pessimismo, de receio perante os novos desafios. Para Vivek Menezes, escritor goês formado nos Estados Unidos, Inglaterra e França mas que optou por ir viver na sua terra-natal, o futuro não se afigura tão mau assim. «Goa foi o epicentro da primeira vaga de globalização, versão 1.0», afirma, comendo um bife no arejado primeiro andar do Clube Vasco da Gama, em Pangim. «500 anos depois, estamos do lado dos perdedores nesta globalização 2.0, mas temos excelentes condições para criarmos a versão 3.0», diz, sublinhando o facto de um movimento local, como o Goa Bachao, estar a provocar repercussões e atenção a nível nacional e mesmo mundial.
Reportagem de Luísa Meireles (textos) e Luiz Carvalho (fotografias), enviados à Índia, com Constantino Xavier, correspondente em Nova Deli
A autonomia goesa através dos tempos
Século XI
A dinastia goesa dos Kadamba separa-se de outros reinos e governa Goa, com grande autonomia
1629
Entre a saída e a chegada de um novo Vice-Rei, a administração da Índia Portuguesa passa a caber a Conselhos de Governo locais, que incluem goeses
1787
A Revolta dos Pintos, engendrada por padres goeses de ideais republicanos, é abortada pelas autoridades coloniais
1821
Caso único no Ultramar, a Índia Portuguesa passa a ser representada por deputados goeses em Lisboa
1835
Bernardo Peres da Silva é proclamado governador, sendo o primeiro e único goês a ocupar essa posição
1866
O deputado Francisco Luís Gomes publica a sua obra «Os Brahamanes», em que se reflecte um emergente sentimento nacionalista
1928
Com a fundação do Goa Congress Committee, por Tristão de Bragança Cunha, inicia-se o movimento anticolonial a favor da integração na Índia
1945-61
Alfredo de Mello, deputado em Lisboa, e os intelectuais do Círculo de Margão, liderados por António Bruto da Costa, defendem a autonomia ou independência de Goa
1967
Em referendo, a maioria dos goeses vota contra a integração de Goa no estado vizinho do Marástra
1987
Após maciças campanhas de protesto, o Parlamento da Índia reconhece oficialmente a língua concani e Goa como estado
segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007
Aldrabando: Jornais em segunda mão
O mundo lusófono em Nova Deli
Durante quinze sessões, entre Setembro e Fevereiro, demos a conhecer a mais de cinquenta estudantes e investigadores indianos, a realidade social, cultural e política do mundo lusófono, cobrindo não só os sete países de expressão oficial portuguesa, mas também assuntos como a CPLP, as comunidades portuguesas, as comunidades lusófonas não-soberanas e as relações entre a Índia e o mundo lusófono.
Na sessão de encerramento, há uma semana, entregámos mais de vinte certificados a todos os alunos que assistiram a dois terços das sessões e que entregaram um ensaio final sobre um tema relacionado com a lusofonia. Para nos falar brilhantemente sobre "India, Portugal and the Lusophone World: Past, Present and Future", esteve presente a ex-embaixadora indiana em Portugal, Madhu Bhaduri. No final, foi exibido um documentário sobre Timor-Leste.
A Embaixadora Madhu Bhaduri, durante a entrega de certificados
Foi um curso organizado praticamente a custo zero e que partiu da nossa iniciativa voluntária (e não-remunerada). Foi um curso, ouso dizer agora, em balanço, que promoveu a imagem de Portugal de uma forma inestimável.
Um guineense em Nova Deli
24 horas depois, encontro-me com o Juvenal Cabral, jornalista da Televisão Pública da Guiné-Bissau, frequentando um curso livre sobre jornalismo no Indian Institute of Mass Communication (vizinho à minha universidade). Na Embaixada da Índia, em Dakar, tinham-lhe prometido que iria ter tradutor à disposição, mas, uma vez chegado a Nova Deli, deparou-se com uma terrível barreira linguística: o curso inteiro ministrado em inglês e ele reduzido à língua de Camões. E quatro longos meses indianos e anglófonos à sua frente, longe da mulher e dos filhos.
Sem representação diplomática guineense em Deli, soube pela nossa Embaixada da minha presença e, por via de mais duas ou três coincidências, conseguiu ligar-me. Estava a passar um mau bocado, disse-me. Um passeio pela minha universidade, um chá, umas apresentações a demais estudantes estrangeiros e, acima de tudo, uma bela conversa lusófona e benfiquista, fizeram toda a diferença. Para mim também, foi um prazer redescobrir a África lusófona aqui em Deli, depois dos dois fraternais anos passados em coabitação com o Chacate, de Moçambique.
Entre um "sinto saudades da minha terra" e um "obrigado, hoje já me sinto mais desanuviado", despedi-me e ficou combinado um almoço (bacalhau, é claro) em minha casa. Já iniciava eu a aceleração da minha vespa quando o Juvenal exclama, mãos no ar: "avisa o nosso resultado amanhã, ok?".
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007
Do Porto para Wall Street, via Índia (Expresso)
Do Porto para Wall Street, via Índia
Levou na mochila Vinho do Porto, latas de sardinha e computador portátil. A 12 mil quilómetros do sítio onde nasceu, Miguel Costa ganha menos do que colegas seus em Portugal mas viu isso como um investimento
‘CASUAL DAY’. Às sextas, Miguel troca o fato e gravata por algo mais informal. Vai sempre de riquexó para o escritório
Miguel Costa engole a chamuça e lambe os dedos. Balbucia algo em hindi para o vendedor ambulante e entrega-lhe duas rupias (quatro cêntimos), enquanto, ao seu lado, num baldio, uma vaca remexe no lixo. Ao fundo, emergem três brilhantes torres, sedes de multinacionais. Estamos em Gurgaon, um subúrbio da capital indiana, Nova Deli. Este é um dos centros do milagre económico que é a Índia desde 1991. Há um ano que o portuense Miguel Costa, de 23 anos, também faz parte desse milagre.
«Isto há dez anos era só uma aldeia», nota, observando as torres que parecem ter emergido do nada, rodeadas por arruamentos inacabados e alguns campos trabalhados por agricultores resistentes aos ventos da globalização. Tal como Gurgaon, também Miguel vive uma fase turbulenta da sua vida.
Em Fevereiro de 2006, Miguel era só mais um recém-licenciado pela Faculdade de Economia do Porto, com «uma média baixa, 12». Agora está a 12 mil quilómetros, na Índia, a preparar-se para viajar para Nova Iorque. É lá, longe das vacas e das torres indianas, mas também da sua casa na Maia, que irá aconselhar um gestor de um dos dez maiores bancos de investimento do mundo. «É mesmo em Wall Street, já confirmei o código postal», sorri orgulhosamente.
Miguel trabalha na Evalueserve, a empresa pioneira no «outsourcing» de processos empresariais baseados no conhecimento, com 1400 empregados. «Há médicos, economistas, advogados e engenheiros, de todo o mundo. Recolhemos e analisamos dados de vários segmentos de mercados para clientes de todo o mundo», explica. Miguel entra antes do meio-dia e sai depois das dez da noite. Deu-se bem - e o cliente pediu à empresa para que lhe renovasse o contrato e o enviasse para os seus escritórios.
ALMOÇO. Miguel começa a trabalhar ao meio-dia e sai depois das dez da noite
Choque cultural
Tudo começou quando uma oferta de emprego da Evalueserve cativou o interesse de Miguel na Internet. «Queria mudar de ares. Estava farto da minha vidinha. E a Índia, como potência emergente, oferecia-me boas garantias para o meu futuro», explica.
Ao receber uma resposta positiva da Evalueserve, a comida picante, o choque cultural, o tórrido Verão de Deli e os potenciais riscos associados a uma vida na Índia não o impressionaram. Nem a oposição da mãe. Poucos dias depois, descolava do Aeroporto Sá Carneiro em direcção à Índia. Na sua mochila iam alguma roupa, o computador portátil, umas latas de sardinhas e duas garrafas de vinho do Porto.
«Estou a viver num país complicado e estranho e ganho menos do que muitos dos meus colegas que estão em Portugal. O choque da chegada também foi assustador», admite. «Mas é tudo uma questão de hábito», acrescenta logo. Não houve tempo para ter medo. Menos de vinte e quatro horas depois de ter aterrado no Aeroporto Internacional Indira Gandhi, já tinha ido às compras com novos amigos, conhecido a sua futura namorada, a francesa Marguerite, e sido apresentado na empresa. «Mergulhei e comecei logo a trabalhar», lembra.
Desde então, Miguel embarca todas as manhãs, de fato e gravata, num riquexó verde e amarelo, em direcção ao seu escritório. Às sextas-feiras a empresa autoriza uma vestimenta mais informal - é o «casual day» - o que tem o benefício de atrair menos pedintes nos semáforos.
«Se eu quisesse viver melhor agora teria ficado no Porto», sublinha. É talvez por isso que repete várias vezes que não lhe interessa o dinheiro e se recusa a dizer quanto ganha. Miguel partilha um quarto com a namorada. O que resta do salário no fim do mês é gasto em pequenos fins-de-semana nos Himalaias. Sempre em autocarros e nos hotéis mais baratos, como um indiano da classe média ou baixa.
Para Miguel, esta é «uma estratégia racional e calculada». «Estou a construir uma carreira para chegar aos 30 e ser dono do meu destino. Quero ser eu a dizer onde e como quero trabalhar e quanto quero ganhar. Os meus colegas saem da faculdade e querem ganhar logo 200 ou 300 contos. Mas a maioria fica-se por aí e nunca chega a dar o salto com que tanto sonha» - para Wall Street, entenda-se. «Estar cá é um investimento», sublinha, no seu sotaque nortenho.
Reportagem de Constantino Xavier (correspondente) e Luiz Carvalho (fotografias), enviado à Índia
Como é a vida na Índia
Antes de ir para a Índia é conveniente documentar-se sobre o país, para não sofrer um choque cultural à chegada. No que diz respeito ao emprego, podem ser encontradas ofertas em portais da Internet como os http://www.iagora.com/ , http://www.emploi-international.org/ ou http://www.monsterindia.com/. A fluência em inglês é obrigatória. Em projectos com um país específico, valoriza-se o conhecimento da sua língua e cultura empresarial. Noutras áreas privilegia-se a formação em gestão, finanças e «marketing». A empresa faz uma série de entrevistas telefónicas para testar os conhecimentos do candidato, que, a ser aceite, receberá uma carta de aceitação e um contrato, que deve assinar, para requerer o visto de trabalho na Embaixada da Índia em Lisboa (cerca de 80 euros).
Como se vive
O salário médio situa-se entre os 400 e os 1.000 euros mensais, consoante a actividade. Em Gurgaon, o aluguer de um quarto custa 100 euros (em Bangalore ou Chenai chega a ser metade). A alimentação não passa dos 10 euros/dia. Um bilhete de cinema custa dois euros e uma ligação à Internet 15 euros/mês. As empresas internacionais têm, geralmente, dezenas de empregados de diversas nacionalidades, o que cria um ambiente cosmopolita. As despesas com a saúde são reduzidas, mesmo nos hospitais de luxo. Uma consulta com um especialista custa oito euros.
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007
Protesto II
El povo, unido, jamas sera vencido!
The people, united, shall always be victorious!
Protesto I
Ho, Ho, Ho Chi Minh!
We shall fight, we shall win!
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007
Redescobrindo: Querala
Um dálita e um brâmane
Citações de Deli: Dalit reservations
"The National Commission for the Scheduled Castes has rejected the demand for reservation for the Dalit Muslims and Christians on the ground that untouchability — the main criteria for reservation for this community — was peculiar to Hindu religion only. (...) However, Mr. Vaghela clarified that Sikh and Buddhist Dalits were entitled to reservation because both these religious sects were considered part of Hinduism under the Constitution."
segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007
Quanto custa uma empregada na Índia?
domingo, 18 de fevereiro de 2007
Redescobrindo: Chenai
Aldrabando: Livros falsos
Imagens de Deli: Advocate
Uma nação de rosto corado (Expresso)
Expresso, Internacional, 1785, 13 Janeiro 07
Uma nação de rosto corado
Centenas de esculturas eróticas pontuam os templos hindus de Khajuraho, símbolos de uma sensualidade entretanto esquecida e rotulada de anormalidade ocidental
No final de 2006, a Índia festejou efusivamente o segundo lugar alcançado por Santhi Soundarajan nos 800 metros femininos dos Jogos Asiáticos. Mas, quando poucos dias depois o Conselho Olímpico da Ásia anunciou a desqualificação da atleta, por esta ter falhado num teste médico que visava confirmar o seu sexo, o país inteiro reagiu com um profundo silêncio. Soundarajan foi, mesmo assim, condecorada pelo Governo do seu estado, recebendo um prémio de cerca de 25 mil euros. O facto de a medalha de prata já não estar na sua posse foi, simplesmente, ignorado.
O silêncio envergonhado compreende-se à luz dos estigmas que rodeiam a sexualidade na Índia. Longe vão os tempos do ‘Kama Sutra’, a obra em que o filósofo indiano Vatsyayana descreve centenas de práticas sexuais, ou o período em que foram construídos os templos hindus de Khajuraho, decorados com centenas de esculturas eróticas.
A Índia sensual, em que o amor era celebrado de forma divina, deu lugar a uma Índia em que a intimidade física, o desejo e o prazer são vistos como uma anormalidade importada do Ocidente. “Qualquer debate público sobre questões de sexualidade é imediatamente ridicularizado ou hostilizado”, lembra o jovem Partha Pratim Shil, fundador da associação para as questões sexuais - «Parwaaz» -, da Universidade Jawaharlal Nehru. “Vivemos asfixiados entre os partidos nacionalistas, que nos acusam de promovermos valores ocidentais e anti-indianos, e os partidos de esquerda, que nos acusam de exagerarmos um problema marginal e elitista”.
Polícias contra namorados
Todos os anos, no dia de São Valentim, saem às ruas não só namorados, mas também centenas de manifestantes nacionalistas hindus que acusam a celebração de ser um “insulto à cultura e ética indiana”. Não são raras as ocasiões em que polícias passam parques públicos a pente fino para agredirem e insultarem jovens casais partilhando momentos mais íntimos.
Já os milhões de espectadores da indústria cinematográfica de Bollywood só raramente assistem a um beijo na tela. Resultado do longo período de domínio islâmico no Norte da Índia, bem como do colonialismo britânico e dos seus valores vitorianos, este puritanismo social tem, contudo, elevados custos.
Estima-se que só um em 70 crimes de violação é denunciado às autoridades policiais. Dos acusados - nos raros casos em que as mulheres decidem enfrentar o estigma público de um processo judicial -, só 20% são condenados. A média de idade de matrimónio para as mulheres - pouco mais de 18 anos - reflecte o hábito de casar menores à força.
O elevado dote que os pais da noiva são obrigados a pagar ao noivo conduz à prática maciça de abortos e a que, em certas regiões, por cada mil crianças do sexo masculino, nasçam menos de 800 do sexo feminino. Em estados mais pobres, o preço de uma menor chega a ser três vezes inferior ao de um mero búfalo.
O estigma aplica-se também aos homossexuais. Embora a comunidade dos hijras, eunucos que assumem a identidade de uma divindade feminina, seja parte integrante do sistema hindu de castas há séculos, a homossexualidade é severamente punida como comportamento público. O próprio código penal mantém em vigor uma lei, datada de 1860, que criminaliza práticas sexuais ‘contra a ordem da natureza’.
A falta de educação sexual também tem provocado graves problemas de saúde pública. A Índia é o país do mundo com o maior número de infectados com o vírus da sida - mais de cinco milhões de pessoas - e quase 90% das transmissões dão-se pela via sexual.
Para Mahesh Nawal, dirigente da Associação Nacional de Sexologia, é tudo uma questão de sensibilização. “Mais de 70% dos problemas dos meus pacientes explicam-se com a falta de informação, fruto de inúmeros tabus e mitos que assolam a sociedade”, refere o médico. Entre os camionistas de longa distância reina, por exemplo, a crença de que a prática de relações sexuais com uma virgem serve de antídoto contra o vírus da sida.
Com as reformas económicas dos anos 90, e a rápida ocidentalização da sua sociedade, a Índia está contudo a passar por uma fase de grande mudança. O sucesso de revistas orientadas exclusivamente para públicos femininos ou masculinos, os novos hábitos de consumo e a emergente vida nocturna entre as gerações mais novas, especialmente nas metrópoles, têm ajudado a promover o debate.
Nawal alerta, no entanto, para o perigo de efeitos secundários: “As estrelas e modelos ocidentais que aparecem estilizadas nas revistas e na televisão passaram a servir de critério de comparação e isso tem graves consequências a nível psicológico”.
Constantino Xavier, correspondente em Nova Deli
Notas soltas
Reality Check (Atlântico)
"Não há dúvida que algo se passa a Oriente e, no caso indiano, é impossível negar o relativo sucesso do seu sistema democrático ou negligenciar o seu crescimento económico e a sua ruidosa voz no panorama internacional. Mas ao abrirmos os olhos para a Índia, e para esse admirável mundo novo que, na realidade, tem idade para ser o nosso tataravô, convêm que o façamos de forma moderada. Sair da escuridão do armário para enfrentar a luminosidade do mundo, pré-, pós-, ante-, sub-, ou o que quer que ele seja, é um processo doloroso porque nos cega. A solução estará algures entre o defensivo oito dos conservadores do Restelo e o histérico oitenta dos catastrofistas que anunciam o fim do nosso mundo e o início de um novo, o dos Outros."
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007
64 horas de comboio
Foi com espanto, portanto, que um meu colega do curso da semana passada, me disse que ele tinha passado 64 horas no comboio, de Lucknow até Trivandrum. Mais impressionante ainda é o facto de ter embarcado novamente, cinco dias depois, no mesmo comboio, na direcção contrária. Tudo com a maior naturalidade possível, como se de uma curta viagem de metro se tratasse. Os comboios na Índia não se limitam a um meio de transporte epifenomenal. São um mundo em si, em que se vive viajando.
Chuva
Aterrar em Trivandrum
quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007
A/F
De volta
sábado, 3 de fevereiro de 2007
Southwards
Deli, horizontes e Teerão
Pakistan's anti-Iranian posture will drive India closer to Tehran, since Delhi never sees much farther than its own troubled borders.
Modernidade
Aqui, por mais rodeado que eu esteja de intelectuais indianos que advogam o contrário, sinto que o acesso à modernidade, pelo menos para a grande população, ainda é um privilégio. A modernidade liberta. O problema é quando os interlocutores indianos ignoram estas concepções e aplicações espacio-temporais diferentes do conceito de modernidade vigente no Ocidente. Quando as elites indianas, influenciadas e às vezes patrocinadas pelos nossos intelectuais, começam a olhar para a modernidade com desprezo, esquecendo que ela representa, muito provavelmente, a única via libertadora para a maioria dos indianos.
Não é por acaso que os activistas dálitas ("intocáveis") seguem o seu líder histórico Ambedkar e insistem muitas vezes em vestirem um fato com gravata no espaço público, como no caso das campanhas eleitorais aqui na JNU. O fato e a gravata ajudam-lhes na libertação do sistema pré-moderno, assolado de hierarquias e tradições, especialmente estéticas. Parece tudo um pouco ridículo aos nossos rebeldes olhos europeus, em que impera a era casual. Mas é assim, aqui. Outro espaço, outro tempo.