sábado, 9 de dezembro de 2006

Imagens de Deli: Indo-portugueses de Cochim

Três membros da comunidade indo-portuguesa de Vaipim, a ilha que fica oposta ao Forte de Cochim, no Kerala. Estive lá em 2005, a convite da Fundação Oriente que financiou o restauro dos altares portugueses da sua rica igreja de Nossa Senhora de Esperança. Deambulando pelas ruelas da aldeia, fui logo rodeado pelas pessoas que, ao saberem que eu era português, tentaram logo entrar em diálogo com os seus limitados e arcaicos conhecimentos da língua de Camões. A herança lusa restringe-se, no entanto, ao campo da memória e das emoções, à gastronomia e à música, incluindo os cânticos religiosos. Anexo o artigo que escrevi na ocasião (sobre a razão principal da minha viagem), mas que não chegou a ser publicado no Expresso.

(Fevereiro 2005)
Seminário internacional discute fortalezas portuguesas da Índia
Constantino Hermanns Xavier (enviado a Cannanore)

A histórica cidade de Cannanore, no estado indiano de Querala, acolheu esta semana o seminário internacional "Feitorias e Fortalezas Portuguesas na Índia", uma organização do Instituto indiano para a Investigação em Ciências e Sociais e Humanas (Kannur) com o financiamento da Fundação Oriente e apoios da Fundação Calouste Gulbenkian e Instituto Camões.

Dezenas de historiadores internacionais abordaram a temática da expansão militar portuguesa no subcontinente indiano nos séculos XVI e XVII, focando particularmente a fortaleza de St. Ângelo (Cannanore) que o organizador do evento e especialista em história indo-portuguesa, K. S. Mathew, considera ser "a mais antiga fortificação portuguesa intacta na Índia, fazendo parte da rede de fortalezas planeada pelo primeiro Vice-rei da Índia, D. Francisco de Almeida, ao longo da costa ocidental". O seminário comemora o quinto centenário sobre a colocação da pedra fundadora da fortaleza em 1505.

Depois de uma primeira passagem de Vasco da Gama, a presença portuguesa em Cannanore consolidou-se em 1501 com o estabelecimento de relações diplomáticas entre Pedro Álvares Cabral e o rei local e a edificação de uma feitoria. Afirmando-se rapidamente como ponto estratégico na expansão portuguesa na Índia, Cannanore chegou a contar em 1523 com 700 habitantes cristãos e uma vasta população de lusodescendentes, resultado da política de casamentos mistos iniciada por Afonso de Albuquerque. A fortaleza passou em 1663 para domínio holandês.

O seminário marcou também mais uma etapa no degelo entre as comunidades académicas portuguesas e indianas. Sérgio Mascarenhas de Almeida, delegado da Fundação Oriente na Índia, defende que "o discurso historiográfico indo-português é hoje menos ideológico e neste seminário há já uma nova geração de investigadores indianos com novas imagens acerca de Portugal". Referindo-se à polémica luso-indiana aquando das comemorações do quinto centenário da chegada de Vasco da Gama à Índia em 1998, afirma que "resta saber se os académicos portugueses e indianos têm agora a capacidade para passar a mensagem para as respectivas sociedades civis, para que os erros não se repitam". Do lado indiano K. S. Mathew também assume uma transformação: "Estamos a preencher um vácuo académico. Temos conseguido realizar diversos seminários indo-portugueses e manter-nos longe das correntes anti-portuguesas e dos discursos fundamentalistas".

Outras comunicações apresentadas durante o seminário incluíram "As estratégias comerciais e militares portuguesas no Oceano Índico" por Pius Malekandathil, "Desenvolvimento urbano de Nagapatão sob domínio português (1542-1658)" por Jayaseela Stephen e "A organização da Santa Casa de Misericórdia em Cannanore" por James John.

Entre as presenças portuguesas destacaram-se as comunicações de Zoltan Biederman, da Universidade Nova de Lisboa, que analisou o desenvolvimento urbano da cidade ceilonesa de Colombo sob domínio português e holandês, e de Vítor Rodrigues, do Instituto de Investigação Científica Tropical, que apresentou um trabalho desenvolvido em colaboração com João Paulo Oliveira e Costa sobre Lourenço de Brito, primeiro capitão de Cannanore. Já Luis Dias Antunes, do mesmo instituto, estudou o papel de Inácio Sarmento de Carvalho, último Governador português de Cochim (1661-1663).

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