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(Fevereiro 2005)
Seminário internacional discute fortalezas portuguesas da Índia
Constantino Hermanns Xavier (enviado a Cannanore)
A histórica cidade de Cannanore, no estado indiano de Querala, acolheu esta semana o seminário internacional "Feitorias e Fortalezas Portuguesas na Índia", uma organização do Instituto indiano para a Investigação em Ciências e Sociais e Humanas (Kannur) com o financiamento da Fundação Oriente e apoios da Fundação Calouste Gulbenkian e Instituto Camões.
Dezenas de historiadores internacionais abordaram a temática da expansão militar portuguesa no subcontinente indiano nos séculos XVI e XVII, focando particularmente a fortaleza de St. Ângelo (Cannanore) que o organizador do evento e especialista em história indo-portuguesa, K. S. Mathew, considera ser "a mais antiga fortificação portuguesa intacta na Índia, fazendo parte da rede de fortalezas planeada pelo primeiro Vice-rei da Índia, D. Francisco de Almeida, ao longo da costa ocidental". O seminário comemora o quinto centenário sobre a colocação da pedra fundadora da fortaleza em 1505.
Depois de uma primeira passagem de Vasco da Gama, a presença portuguesa em Cannanore consolidou-se em 1501 com o estabelecimento de relações diplomáticas entre Pedro Álvares Cabral e o rei local e a edificação de uma feitoria. Afirmando-se rapidamente como ponto estratégico na expansão portuguesa na Índia, Cannanore chegou a contar em 1523 com 700 habitantes cristãos e uma vasta população de lusodescendentes, resultado da política de casamentos mistos iniciada por Afonso de Albuquerque. A fortaleza passou em 1663 para domínio holandês.
O seminário marcou também mais uma etapa no degelo entre as comunidades académicas portuguesas e indianas. Sérgio Mascarenhas de Almeida, delegado da Fundação Oriente na Índia, defende que "o discurso historiográfico indo-português é hoje menos ideológico e neste seminário há já uma nova geração de investigadores indianos com novas imagens acerca de Portugal". Referindo-se à polémica luso-indiana aquando das comemorações do quinto centenário da chegada de Vasco da Gama à Índia em 1998, afirma que "resta saber se os académicos portugueses e indianos têm agora a capacidade para passar a mensagem para as respectivas sociedades civis, para que os erros não se repitam". Do lado indiano K. S. Mathew também assume uma transformação: "Estamos a preencher um vácuo académico. Temos conseguido realizar diversos seminários indo-portugueses e manter-nos longe das correntes anti-portuguesas e dos discursos fundamentalistas".
Outras comunicações apresentadas durante o seminário incluíram "As estratégias comerciais e militares portuguesas no Oceano Índico" por Pius Malekandathil, "Desenvolvimento urbano de Nagapatão sob domínio português (1542-1658)" por Jayaseela Stephen e "A organização da Santa Casa de Misericórdia em Cannanore" por James John.
Entre as presenças portuguesas destacaram-se as comunicações de Zoltan Biederman, da Universidade Nova de Lisboa, que analisou o desenvolvimento urbano da cidade ceilonesa de Colombo sob domínio português e holandês, e de Vítor Rodrigues, do Instituto de Investigação Científica Tropical, que apresentou um trabalho desenvolvido em colaboração com João Paulo Oliveira e Costa sobre Lourenço de Brito, primeiro capitão de Cannanore. Já Luis Dias Antunes, do mesmo instituto, estudou o papel de Inácio Sarmento de Carvalho, último Governador português de Cochim (1661-1663).
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