Há duas semanas, cruzava eu o centro do poder político indiano, no coração de Deli, num riquexó apressado, observei uma rara e curiosa constelação de pessoas. Em frente a um edifício governamental em que se encontrava o presidente chinês Hu Jintao, de visita oficial à Índia, quatro grupos de pessoas distintos e tão diferentes, cada qual com o seu intuito, mas todos atraídos pela presença do governante chinês.
De vermelho e amarelo, as cores dos seus robes religiosos, monges budistas tibetantos. Velhos e novos, mulheres e homens, sentados ou em pé, todos alinhados pacientemente, silenciosamente. Nem um pio. Olhar calmo, mas determinado. Os mais pequenos saltitam num jogo qualquer. Alguém prepara chá, butter tea.
De camuflagem azulada, pouco apropriada para uma zona urbana, militares da força de choque Rapid Action Force. Munidos de sofisticados bastões e escudos de plexiflex, com capacetes à prova de bala e botas que mais se propiciavam aos lamacentos e gélidos Himalaias. Um pouco entediados, alguns jogavam às cartas.
De bandeiras vermelhas em riste, com a foiçe e o martelo em branco, militantes dos partidos comunistas (Left Parties), ruidosos e cientes de atenção mediática. Aglomeram-se à volta de uma barraquinha decorada com cartazes apelando contra o "imperialismo chinês" e defendendo a libertação do Tibete. Em curso está também uma pequena peça dramática, "street theater" espontâneo.
Já engavetados nas carrinhas de choque, jovens tibetanos mais militantes, prontos para serem levados para a esquadra e, porventura, julgados em tribunal. Não lhes reconheço nada a não ser as cabeças e os olhos que espreitam por detrás dos gradeamentos azulados. De repente, ergue-se um braço e um pano com a bandeira do movimento independentista tibetano. Antes de um polícia atento lhe o rasgar da mão, vislumbro uma cor que envolve o restante braço: o azul claro de um blusão de ganga.
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