segunda-feira, 24 de abril de 2006

Pontualidade indiana

Na semana passada prestei os meus serviços de intérprete à Embaixada do Brasil e a uma delegação de vinte economistas em visita oficial à Índia. Acompanhei-os durante três dias a várias instituições, incluindo a minha própria universidade e órgãos como a importante Planning Commission (que elabora os planos quinquenais para a economia indiana – um resquício do socialismo nehruviano) e demais federações de câmaras de comércio e indústria, bem como a Indian Economists Association, para além da minha própria universidade.

Para além da experiência enriquecedora em termos profissionais e de ter alargado os meus conhecimentos económicos sobre a Índia, observei repetidamente um fenómeno que marcava o final de todas as reuniões. Seguindo à risca o programa estabelecido, os responsáveis (directores, administradores, professores etc.) indianos terminavam cada encontro de forma abrupta, no momento exacto em que o ponteiro mais comprido do relógio apontava para a hora marcada para o fim da reunião. Sem papas na língua, alguns referiam mesmo “our time is over” e iniciavam os agradecimentos e demais formalidades finais, perante uma vintena de economistas brasileiros estupefactos, alguns dos quais já se tinham inscrito para colocar perguntas.

Claro, sem margem de manobra, não restava aos brasileiros nada mais do que aceder e terminar o encontro, os indianos desaparecendo nos corredores da sua instituição o tão rapidamente como tinham aparecido, à hora marcada. Transparecia então no ar brasileiro um pequeno estado de choque. A maioria estava disposta, talvez, a beber mais uns cafés e continuar a discutir depois ao almoço ou ao jantar, respectivamente. Pelo menos é o que me pareceu. O chefe de delegação chegou mesmo a mandar uma “boca” aos indianos, que educadamente (e controversamente) não traduzi, para não ferir susceptibilidades locais.

Esta experiência demonstra um fenómeno curioso. Nas altas instâncias governamentais, a pontualidade parece reinar na Índia. Talvez uma herança britânica. Mas note-se que não estabeleço a equivalência entre pontualidade e produtividade. Parece-me que é simplesmente uma tradição fortemente enraizada, uma forma de trabalhar bastante anglo-saxónica e norte-europeia; pouco latina, pouco brasileira.

Isto, no entanto, ao contrário do resto da sociedade, em que o conceito de pontualidade é tremendamente demissionário. Na semana passada realizou-se a cerimónia e festa de despedida para o meu ano, que termina agora em Maio o curso. Os convites anunciavam o início da festa para as 19:30, mas, até às 21:15, só se encontravam no local cinco gatos pingados, todos estrangeiros, eu incluído. Pelas 21:30, duas horas depois do início oficialmente anunciado, lá se reuniu a primeira vintena dos setenta estudantes convidados.

2 comentários:

  1. lieber constantino, nun haben wir deinen interessanten artikel zur Pünktlichkeit in Indien gelesen. Ist deiner Meinung nach die pünktlickeit ein notwendiges requísito o no para que un país progrese?
    Bueno, nosotros, los alemanes, somos famosos por nuestra puntulidad pero si o no somos efectivos, lo dejamos decir a los demás.
    Wir gehen jetzt in die Kuschelapei, damit ich morgen früh wieder pünktlich im Dienst der deutschen Schülerschaft sein werde.
    Deine susanita con sus hermanita Margarita

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  2. Susi und Eti,

    das freut mich ja, ein Kommentar aus dem entfernten Heerdt! Ja... die ewige Puenktlichkeit vs. Entwicklungs Diskussion, die kommt jetzt auch langsam hier in Indien an. Trotzdem, es ist einfach unglaublich (faszinierend und frustrierend) was fuer eine Zeiteinstellung die Inder haben.

    Alles liebe fuer Tanti und Mami,
    Tino

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