Fui jogar futebol, hoje como tantas outras vezes. Vou com o Chacate e jogamos com os indianos. Ele vai um pouco mais cedo, porque não tem bicicleta. Às vezes ultrapasso-o a caminho do estádio. Acho que dois europeus não se olhariam. O da bicicleta fingira que não tinha visto o outro a pé. Ou ao contrário. Ou simplesmente, a bicicleta passaria em silêncio, do outro lado da rua, porque não faria sentido um aceno, uma palavra ou um sorriso. Porque há poucos minutos ainda estavam em casa e porque daqui a poucos minutos vão estar juntos outra vez, no estádio. Simplesmente, não faria sentido. Não haveria razão para um contacto, porque é suposto haver uma, sempre, supostamente.
Mas eu, ao passar, não resisto. Já tive muitas desilusões, mas vale sempre a pena tentar mais uma vez. Porque havia de negar um impulso meu natural? Porque não contactar e comunicar, por respeito e afecto para com alguém amigo, conhecido? Cuidadosamente, ao passar pedalando, olho para o outro lado da estrada. Ele segue na mesma direcção, pisando o pó e o lixo, serpentando silenciosamente por entre as carroças, os triciclos, as vacas e as pessoas, muitas. Envergonhadamente e desiludido preparo-me já para voltar a olhar em frente e seguir o meu caminho sozinho.
No preciso momento em que passo por ele, já a minha face se está a redireccionar para o caótico tráfego à minha frente, ecoa por entre o barulho indiano uma voz alegre, africana, sorridente. "Olhó Eusébio goês!".
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