segunda-feira, 18 de outubro de 2004

O macaco (III)

Enquanto – ainda traumatizados e mudos – olhamos para a caixa global, algo se altera no parque infantil que é contíguo ao nosso prédio. Os alegres e animado berros das crianças transformam-se em gritos de pânico e desespero. Aproximo-me rapidamente da janela. As crianças correm, a chorar e a gritar, confusamente pelo parque. Pelo meio vejo um vulto ágil e acastanhado – talvez uma criança também em busca de um pouco de afecto e brincadeira.

Poucos segundos depois, o parque está transformado num deserto, do movimento só resta um baloiço que ainda se mexe, em memória de uma criança.

Volto a sentar-me. Acordei com esse macaco a acordar-me, digo ao Chacate. Ele responde: "eh pa o gajo vai voltar amanhã com mais dez, e vai olhar para nós os dois, vai apontar para mim e dizer este não e depois vai apontar para ti e dizer sim, esse tuga é que o vamos comer". Rimo-nos.

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