domingo, 19 de fevereiro de 2006

Imagens de Deli: Metro & Hanuman




Uma imagem (a primeira) simbólica da Nova Deli contemporânea: um viaduto do Delhi Metro, aqui numa secção elevada, com o gigantesco Hanuman Temple (em Karol Bagh) ao fundo, dedicado ao deus-macaco aliado do mítico Rama. O orgulho nacional, o Delhi Metro, é uma joint-venture público-privada indiana com forte participação japonesa e alemã (Siemens, aber klar!). É de facto uma obra-prima, com tecnologia de ponta, limpeza exemplar, qualidade garantida a todos os níveis, e, por isso, suplantando na minha opinião todos os metros que já conheci, à excepção do japonês.

Calcula-se que o Delhi Metro irá reduzir a entrada de autocarros suburbanos em mais de 20% (uns tantos milhares por dia) e reduzir ainda mais a poluição do ar numa cidade que há menos de dez anos ainda era considerada uma das mais poluídas do mundo. O início do processo de despoluição deu-se com um acórdão inédito do Supremo Tribunal, em 1998, obrigando todos os transportes públicos da cidade (rick-shaws incluídos) a circular com o CNG (Compressed Natural Gas), um combustível bastante menos poluente. Assim, comparado com 1997, os níveis de monóxido de carbono desceram 32%.

A segunda fotografia, no interior de uma estação, valeu-me uma reprimenda pública. Segundos depos de o meu flash ter captado a imagem, ecoou pela aparalhagem sonora uma voz autoritária em hindi, a dar instruções e localização para me confiscarem a máquina. Felizmente, lá fiz o papel de desentendido com os seguranças, pedi desculpas e pude ficar com a fotografia. Continua a ser proibido na Índia tirar fotografias de instalações militares, claro, mas também de aeroportos (esqueçam fotos de despedida!) e demais instalações públicas de "interesse vital para a segurança do estado". Resquícios do socialismo nehruviano e de paranóia soviética.

Mas o mais hilariante é mesmo observar os utentes que são confrontados com toda esta high-tech global. Os torniquetes são digitais, e há dezenas deles para escoar as massas delienses, mas cada um tem um assistente personalizado para explicar às pessoas como o utilizar, empatando o sistema e criando filas intermináveis. Mas basta lembrar-me da vergonha que ainda há pouco se passou (ou ainda se passa?) no Metro de Lisboa, para refrear as minhas críticas ao sistema indiano.

Há, no entanto, no Metro de Deli um muito bom exemplo que testemunha o choque da Índia tradicional com a modernidade e rápida mudança que o país vive. São as escadas-rolantes que elevam os utentes de volta às alturas caóticas, à realidade da rua. Basta colocar-se perto do início de uma dessas maravilhas tecnológicas e observar os dramas que se desenrolam à sua volta, naqueles primeiros metros de tapete metálico ainda nivelado que se transforma rapida e misteriosamente em grandes degraus. Trambolhões, quedas, deslizes, saltos monumentais, gritos de pânico, risadas nervosas, gargalhadas e choro incluído - tudo reflexo da confrontação dos populares com a emergência do seu país.

3 comentários:

  1. É proibido fotografar ou filmar em todas as instalações do Metro de Lisboa - e os seguranças intervém prontamente caso alguém ouse desafiar esta regra.

    Mais curioso ainda: fui aborbado no Centro Comercial Colombo por um segurança, quando tinha acabado de tirar a máquina de filmar do bolso. Ali é igualmente proibida a captação de imagens.

    Não será portanto por paranóia soviética!

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  2. é proibido fotografar no metro de lisboa, mas eu tenho toda uma sessao fotográfica (de preparaçao de uma peça teatral) feita aí.
    Juntemo-nos e publiquemos este material ultra-secreto que temos em nossas maos. Deixemos ver ao mundo os labirintos escuros e assustadores que há por debaixo de seus pés.
    "O" homem do teatro

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  3. Quanto à questão da "paranóia soviética". Concordo, a paranóia (legítima ou não, mas não deixa de ser paranóia porque o é em excesso) também existe em Portugal e um pouco por todo o mundo ocidental. Mas, na minha opinião, tem origens diferentes. No caso indiano é herança do período socialista, do período da Guerra Fria, do período do alinhamento (não, não me esqueci do "não-" com a USSR. É uma paranóia centrada à volta dos "bens públicos estratégicos" que são ao mesmo tempo símbolos místicos do poder nacional (barragens, pontes, monumentos, parques industriais). Aliás, a Índia tem uma força paramilitar especialmente dedicada à protecção dos caminhos-de-ferro (RPF) e aos equipamentos industriais (CISF). Enquanto que em Portugal é um fenómeno bastante recente, digamos pós-Guerra Fria / emergência do terrorismo mediático (para distinguir do terrorismo tradicional, que existe há séculos). Claro que este último fenómeno veio só reforçar ainda mais a paranóia indiana, com bastante legitimidade até, tendo em causa os ataques terroristas de que tem sido alvo.

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