sábado, 25 de fevereiro de 2006

A caminho de Leh

Pouco tempo depois os Himalaias voltaram a impor respeito aos três autocarros que seguiam em caravana. Logo à saída de Keylong, e estando ainda numa capital de distrito e a pouco mais de 3000 quilómetros de altura, um riacho tinha levado consigo a pequena ponte e os autocarros só com dificuldade e muitas manobras malabaristas lá conseguem atravessar as turvas águas – os passageiros são obrigados a atravessar a pé, claro.

Mas o pior estava reservado para uns cinco quilómetros depois, onde o lamaçal a que chamam National Highway tinha simplesmente desabado, nada mais restando do que a nua e íngreme face da montanha à esquerda e uma impressionante ravina, caindo por quase duas centenas de metros, do lado direito.

Passar-se-iam mais de oito horas até que o trânsito voltasse a poder circular. E só depois de dinamitaram a montanha, trazerem lagartas especializadas do Exército e supostamente controlarem a segurança. Dos dois lados já se alinhavam centenas de veículos quando finalmente somos os primeiros a passar, no papel de cobaias rodoviárias. O sol começava a aquecer a chapa dos autocarros, o pó da pista a cobrir os poros e a invadir as narinas.

É então, já a 4000 metros de altitude, e envolto de paisagens desérticas, vales secos imensos envoltos de cumes de neve, numa paisagem lunar fantasmagórica, pontuada somente por ocasionais batalhões militares que têm como responsabilidade manter a estrada transitável e também por um ou outro grupo de pastores nómadas e os seus rebanhos de cabras e outros animais de montanha, que um dos três autocarros nos abandona, o seu motor quase em chamas, os motoristas deitando-lhe água.

Lentamente, os dois autocarros restantes seguem viagem, já sobrelotados por algumas pessoas se terem transferido. A estrada vai subindo, sem perdão, o ar afina-se, o fim do mundo parece mais próximo do que nunca. Não há sinal de vida, a não ser um jeep turístico mais rápido que nos ultrapassa, ou bidões de gasolina abandonados ao longo da estrada, ou até um ou dois camiões capotados lá em baixo num dos vales.

Como seguimos à frente, de repente, o nosso motorista exclama e anuncia que passámos a escalar os Himalaias sozinhos. Não há sinal de vida do segundo autocarro.

1 comentário:

  1. Uma pequena ajuda. Imagino que nenhum escritor deseja que seus enganos sejam imortalizados:
    "Passar-se-iam mais de oito horas até que o trânsito voltasse a poder circular. E só depois de dinamitarEm a montanha, trazerem lagartas especializadas do Exército e supostamente controlarem a segurança."

    Espero que seja ajuda bem-vinda.

    Rodrigo Liao,
    Brasil

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