terça-feira, 28 de fevereiro de 2006

Regateando (adenda)

Há, no espectro oposto, os turistas que, na frustrada tentativa de se quererem integrar ao máximo e “ser como eles”, negoceiam cada Rupia como se fosse um caso de vida ou morte. Para além de já o próprio objectivo máximo de integração espelhar uma profunda crise de identidade, grande insegurança e presudo-correcção, não há outro termo a não ser “patético” para descrever a forma excessiva e enfática (roçando o mimetismo) com que encenam os diálogos, gestos e estratégias de negociação autóctones. Vivem obcecados com a ideia de que tudo e todos os tentam enganar, que cada Rupia vale uma fortuna. Esquecem-se que uma Rupia pode, de facto, ser uma fortuna – mas não para eles, pelo contrário. A obsessão leva-os aliás ao radicalismo ridículo de estarem a discutir com um pobre taxista de triciclo durante vários minutos duas ou cinco Rupias de troco, como se isso fosse importar alguma coisa na carteira chumaçada de notas e cartões de crédito internacionais e nas contas finais que lhes permitem exclamar com alegria “Ah, c’était un super bon marché, l’Inde” e depois gabarem-se na padaria ao comprar baguetes. Este comportamento defende-se logicamente com dois dos argumentos já apresentados – o mito da obrigatoriedade da negociação e o do perigo da inflação dos preços locais.

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