sábado, 25 de fevereiro de 2006

EUA e Índia (Expresso)

Nota: Em cima da hora, o meu texto teve que ceder a temas mais importantes (é assim mesmo, o mundo dos jornais) e foi convertido e condensado numa "Breve", embora com alguns erros. E, em anexo, deixo-vos o artigo original, não-publicado e que aproveitei para editar ligeiramente.


EXPRESSO, Edição 1739, 25.02.2006, Internacional

Uma nova «paisagem estratégica»

O PRESIDENTE norte-americano inicia na próxima quarta-feira uma visita de dois dias à Índia (a que se seguirá outra ao Paquistão), cujo objectivo é «colocar o seu programa nuclear civil no âmbito da legitimidade internacional e fortalecer a confiança entre as duas nações», segundo as suas palavras. A verdade é que com ou sem anúncio público do acordo de cooperação nuclear (a adesão da Índia ao Tratado de não Proliferação Nuclear), a visita de Bush é a primeira em três décadas, o que diz muito sobre a crescente importância que os dois países dedicam um ao outro. Uma aliança entre ambos pode, de facto, moldar uma nova «paisagem estratégica».

Tony Jenkins, Nova Iorque, com Constantino Xavier, Nova Deli

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Relação emergente
Constantino Xavier, correspondente em Nova Deli
(não-publicado)

Com ou sem anúncio público do acordo de cooperação nuclear, a visita de George Bush à Índia, a segunda de um presidente norte-americano em quase três décadas, simboliza a crescente importância que os dois países têm dedicado um ao outro.

Do lado norte-americano, Bush parece disposto a reconhecer a emergência militar e diplomática indiana, tendo em conta a instabilidade no Paquistão islâmico e a necessidade de conter o poderio chinês na Ásia. “A Índia é importante para a nossa segurança económica e nacional”, disse o presidente norte-americano esta semana em Washington, referindo-se á Índia como “um líder global e um bom amigo”.

Mas a aproximação indiana tem atraído especial atenção por assumir tons de ruptura, tendo em conta que o país foi durante o período de Guerra Fria um dos líderes do Movimento Não-alinhado, hostil aos Estados Unidos, e o facto de sempre ter mantido boas relações com a União Soviética. A Rússia permanece o seu principal parceiro militar.

Visando agora reflectir o seu poderio económico global na diplomacia internacional, a Índia está no entanto disposta a cortar com o passado. Do novo acordo com os Estados Unidos deverá constar a abertura do seu programa nuclear a inspecções internacionais, bem como a separação do seu programa civil e militar, tudo para aceder à tecnologia norte-americana e ver reconhecida a nível internacional a sua capacidade nuclear.

A visita conta no entanto com a ferrenha oposição dos partidos de esquerda que acusam o primeiro-ministro Manmohan Singh de “sucumbir ao imperialismo norte-americano e esquecer a história”. Os boicotes anunciados levaram mesmo Bush a optar por não discursar no parlamento em Nova Deli, ao contrário do que fez o seu antecessor Bill Clinton, em 2000. Para Manosh Joshi, membro do Conselho Consultivo para a Segurança Nacional da Índia (NSAB), a nova orientação diplomática não é tão dramática. “A Índia tem vindo a reposicionar-se na diplomacia internacional há já muitos anos e o 11 de Setembro só veio acelerar o processo”, referiu ao EXPRESSO.

Para o ex-diplomata e presente editor do diário Hindustan Times, a relação emergente com Washington não choca com a ênfase que Nova Deli tem colocado num mundo mais multilateral e multipolar, perseguindo a política “Look East” em relação à Ásia, ou apostando no eixo “Sul-Sul” com o Brasil e a África do Sul (IBSA). “A Índia, quer olhe para o Oriente ou o Ocidente, encontra os Estados Unidos sempre presentes e a visita de Bush poderá ajudar a cimentar a sua emergência na região”, refere, aludindo também aos crescentes interesses de Washington na região.

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