sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006
Imagens de Deli: Srinagar
Certamente, se não fosse a sua ignóbil militarização, Srinagar seria uma séria candidata a Património Mundial da UNESCO. É uma cidade que tem todos os requistos e todas as aliciantes para nos apaixonarmos por ela. Ao sopé de um formoso e luxuriante lago, na margem de ums dos principais rios dos Himalaias, o Jhelum, envolta de um vale verdejante, frutuoso e fértil, rodeado de gélidos e imponentes cumes de montanha por entre os quais há pequenas passagens estratégicas que em tempos guiavam os mercadores dos planaltos indostânicos para a Ásia Central, do planalto tibetano para as civilizações de Harappa e Mohenjo Daro à beira do Indus, e vice-versa. Há, de facto, frequentes atentados à bomba e ocasionais tomadas de reféns, mas os turistas, conscientemente ou não, são normalmente deixados em paz, no conforto dos seus house-boats no Lake Dal, ou a explorar as labirínticas ruelas do bazaar. Considero a Jama Masjid, a mesquita central de Srinagar originalmente do séc. XIV, o local mais simbólico e impressionante, porque se distingue de todas as mesquitas que jamais vi (poucas em realidade, muitas no papel ou no ecrã), da Praça de Espanha a Istambul, de Tóquio a Goa, num estilo que nos parece querer provar a veracidade do mito de que Caxemira é a Suiça asiática. Os agudos ângulos que pontuam o seu telhado também, não sei bem porquê, me fizeram recordar as igrejas de traça germânica que pontuam as cidadelas e vilas alemãs da Europa de Leste, a Catedral de Brasov (Kronenburg), por exemplo. Embora o estilo oficialmente seja o indo-sarracênico, há, certamente, algo de inevitável europeu e ocidental em Srinagar, algo de intrinsecamente alpino, ou, no menos remoto dos exemplos, algo de profundamente central-asiático.
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