segunda-feira, 18 de outubro de 2004

O macaco (I)

Talvez, para quem à distância de uma Lisboa protegida pela Europa e pelo desenvolvimento ache que a Índia é mesmo uma terra de bananas, macacos e alguns indianos semi-desnudados a correr pela mata a história possa parecer normal.

Facto é, que eu vivo há três meses nesta cidade e que posso categoricamente afirmar que Nova Deli é mais centro de decisão – político, cultural e económico – que dez a quinze Lisboas juntas. Pode ter o seu anel de pobreza e miséria, poder ser porca e ter um clima desagradável, tudo bem, mas é uma cidade que claramente já se enquadrou no eixo daquilo que o meu professor em França chamava de archipels métropolitains mondiaux.

Há três meses que passeio por Nova Deli e nunca vi um macaco, a não ser uns presos a correntes a fazer malabarismos para turista ver. Hoje, no entanto, vi um macaco quando acordei. Hoje, no entanto, lutei contra um macaco que poderia ser a encarnação do pior demónio à face da terra. Hoje dormirei com a minha porta fechada, pela primeira vez.

Há uns dias o meu companheiro de apartamento, o Chacate de que já vos falei, contou-me, com uma naturalidade que me inquietou, que tinha chegado a casa e visto um macaco sentado em cima do nosso frigorífico. Primeiro não acreditei. Depois também não acreditei. Finalmente acreditei. Como as relações com os vizinhos não são as melhores pensei que fosse mais uma manobra para nos assustar.

Hoje de manhã, um belo Sábado, estou a dormir pacatamente na minha confortável cama. Deixo a porta aberta, para entrar ar fresco. Não há perigo porque a porta principal está sempre fechada de noite e impede a entrada de qualquer estranho. Qualquer estranho? Durmo.

Deixo de agarrar o meu sonho e subo à superfície das coisas terrestres quando algo me toca ao de leve na cabeça. É mais do que um roçar mas menos que uma pancada leve. Talvez uma festa? Abro os olhos. Estou deitado de costas, olho para cima. Nesse primeiro segundo noto somente que um vulto se encontra por detrás, levemente por cima, da minha cabeça, talvez a dez centímetros. Acho que me apercebo que se trata de um animal. Mal tenho tempo para adivinhar.

Levanto-me instantaneamente, e vejo que do topo da cama em madeira salta um macaco, de pêlo castanho, com pequeninas orelhas arrebitadas encaixando uma face nua e cor de rosa, e, no meio desta, dois penetrantes olhos de pupilas castanhas avermelhadas. Tem cerca de meio metro de altura, talvez o tamanho de uma criança de quase três anos.

Olho para o macaco que olha para mim enquanto se movimenta lentamente em direcção à porta. Instintivamente tento afugentá-lo com um sht. Mas o sht que resultou com o cão indiano em Goa (vide Fragementos) não resulta aqui. O macaco para a sua marcha, fixa o olhar em mim e parece iniciar a qualquer momento o salto mortífero em direcção à minha cabeça. Esse segundo – como nos filmes – parece durar vários segundos, mas, finalmente, o macaco prossegue a caminhada. Sentado na cama, não acredito no que acabo de presenciar.

Levanto-me e saio pela porta para perseguir o animal, e ver se de facto vai para a casa dos vizinhos e faz parte de um maquiavélico plano para afugentas três estudantes estrangeiros noisy and weird. Saio pela porta, olho em redor, nada. Parece que foi um sonho. Mas subestimo a impressionante rapidez e agilidade do macaco. Está no telhado dos vizinhos. Desaparece.

2 comentários:

  1. macaco interessante. com certeza tem uma história para contar. tenta ouvir essa história, Tino. interage com ela. espalha o teu amor.

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  2. olaa...td bem? tou na scpo a imprimir a minha 1a exposé p hoje! e aproveito p te mandar um bjinho e tb dizer-te k o signo no teu profile esta errado, tu és gémeos e nao touro...querias ter omeu signo!!!lol
    eu e as minhas precisoes...lol...fica bem * raquel

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