quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

I wanna gum

- I wanna gum, I wanna, gum, I wanna gum, gum, gum.

O miúdo nem contar até três deve saber ainda e provavelmente faz chichi na cama todas as noites (depois de ver os X-files em hindi, com o pai), mas sabe exactamente o que quer, na mercearia aqui da esquina, em frente ao jardim infantil novo, pintado a mil e uma cores, mas com as esquinas já mijadas.

- Tik hai, ok ok. Tik hai!

E a pura e maternal mão direita lá penetra as profundezas da sua mala, para emergir de novo com uma nota de quinhentas rupias, enquanto que, com a impura esquerda, segura o Motorola e fala com a amiga, a combinar a ida ao gym. Uncle, um pouco chateado (tal como eu, porque estou há minutos à espera de ser atendido), faz um esforço e sorri.

- Sorry, I have no change. Gum is actually only 2 Rupees.

E o puto.

- I wanna gum, I wanna, gum, I wanna gum, gum, gum.

E ela.

- Preity, I'm sick of the sauna, why don't we try the stepper today, that's where the cute guys hang out anyway.

E o uncle a olhar para ela e para a nota de quinhentas rupias e agora já não sou só eu a esperar.

- Ok ji, what, wait. Here, take.

E o cartão de crédito reluzente, douradinho, mas tão inútil, tão patético, ofensivo mesmo. Uncle agora nem diz nada. Já nem olha.

E o fedelho.

- I wanna gum, I wanna, gum, I wanna gum, gum, gum.

E já me começam a empurrar, uncle, uncle, yeh dedoh, voh karo. A lojinha vai abaixo a qualquer momento.

- Ok, whatever, how much for the whole pack? All the gums, give me.

A embalagem deve ter pelo menos cem pastilhas. A duas Rupias cada, são 200 Rupias.

- Sorry maam, I cannot give you all, other children want also, you know. Sorry.

- I wanna gum, I wanna, gum, I wanna gum, gum, gum.

O Motorola cai-lhe da mão.

- Shit.

Levanta-o, deixa a nota de quinhentas no balcão, pega na embalagem inteira de pastilhas e sai dali para fora, e o merdas a correr atrás dela, aos trambolhões.

- I wanna gum, I wanna, gum, I wanna gum, gum, gum.

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