No blogue Geração de 60, Pedro Norton apresenta-nos uma atraente série fotojornalística, os Postais da Índia. Excerto:
Postais da Índia - IV
"Aires Sebastião Araújo é taxista em Goa. Tem dois filhos de nomes portuguesíssimos e em vez do incontornável Ganesh de outras paragens tem um crucifixo pendurado no espelho retrovisor. Com uma indisfarçável felicidade passa-me para a mão uma carta do Consulado de Portugal em Goa que atesta que está a prestes a acabar o longo calvário que há-de valer-lhe o tão desejado passaporte português. Mas Aires Sebastião não fala uma palavra da língua de Camões. Nem tão pouco sabe pronunciar o seu próprio nome. Duvido que saiba onde fica Lisboa. Ingénuo, confesso que a pergunta me pareceu naturalíssima: «então para que quer ir para Portugal?». A resposta dificilmente podia ter sido mais eloquente: «Portugal? Quero o passaporte para ir viver para Londres». Seria de esperar outra coisa de um país que votou os seus ao mais completo abandono e esquecimento?"
"...Mas Mahomed não se queixa. Tal como outros 380 milhões de indianos, votou nas últimas eleições legislativas. Pôde escolher livremente entre 5.398 candidatos de 220 partidos políticos diferentes. E a escolha até foi surpreendentemente informada. A leitura de imprensa é um hábito de rua e a Índia pode justamente orgulhar-se de publicar alguns dos grandes jornais do Mundo. Economicamente a sua vida mudou muito desde que, ainda rapaz, deixou a sua Calcutá natal. Não ignora que é já um dos membros de pleno direito de uma classe média indiana que, segundo rezam as crónicas, há-de contar com 500 milhões de representantes lá para 2025. Queixas para quê? O sorriso fácil e afável diz tudo. Mahomed acredita no futuro."
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