quinta-feira, 9 de março de 2006

Imagens de Deli: Arundhati Roy (ou A Esquerda na Índia)

A senhora em primeiro plano dispensa grandes introduções, creio. Vencedora do Booker Prize com o seu God of Small Things que encantou meio mundo, escolheu a vida Robin Hood. Decidiu abandonar a promissora carreira literária nas luzes da ribalta global (especialmente ocidental) para passar a ser uma das mais célebres activistas sociais e políticas da Índia. Participa e dá voz a uma extensa lista de movimentos pelos direitos humanos, ambientalistas etc., denunciando aquilo o que poucos têm coragem de denunciar (a situação na Caxemira).

Pensam que deixou de escrever, só porque nunca mais ouviram falar dela ou viram o seu nome nas prateleiras da FNAC? Errado. Escreveu mais uma meia dúzia de obras, só que sobre temas mais incisivos, sobre a democracia, movimentos sociais indianos e ao que chama o "imperialismo norte-americano". Neste último ponto tenho obviamente as minhas divergências com a senhora, especialmente sobre a maneira superficial, primitiva e diabólica com a qual caracteriza o Dr. Bush, uma maneira que encontra aliás melhor expressão na caricatura ao fundo da fotografia.

Tirei a foto durante um "anti-Bush meeting" na minha universidade, em que Roy foi também oradora. Na manifestação do dia seguinte, no centro da cidade, que reuniu alguns milhares de pessoas, Roy juntou-se ao que eu identifico - sem hesitações - como a emergência da esquerda radical indiana urbana e chique, que vive em condomínios de luxo estanques à miséria vizinha, que viaja por todo o mundo em executiva para participar em workshops e conferências patrocinadas pelas instituições internacionais que depois critica em público, que envia os filhos para estudarem nos Estados Unidos e que... come caviar ao pequeno-almoço.

Deixem-me moderar esta minha crítica. Este fenómeno é por enquanto reduzido e minoritário - dominando ainda a monolítica esquerda marxista e maoísta em vastas regiões e círculos intelectuais do país. Mas não deixa de ser paradoxal que esta esquerda-chique anda de mãos dadas com aquilo que supostamente mais condena e despreza: a globalização.

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