É a estratégia primária da aldrabagem na Índia: tentar ver-se livre de notas velhas, cortadas, rasuradas, pintadas e desfeitas. A táctica é simples: fazer de conta que nos estão a fazer um favor, dando muitas notas pequenas para nos munirem de troco, mas, escondida no meio, está a tal ovelha negra, toda esburacada por agrafos, com um canto cortado ou tão velha que nem Akbar ou D. Francisco de Almeida a aceitariam. Solução: um zoom óptico a todas as notas e depois virá-las a contrário e repetir o zoom. Caso seja tarde de mais, e já se esteja longe de mais para a devolver, ir a um banco e pedir que a troquem (insistir!).
Vamos a um estudo de caso, que não é necessariamente uma aldraagem, mas uma variante interessante: A conta no restaurante é de 90 Rupias. Entrego uma nota de cem. O que é que o empregado faz: nos bastidores, pede ao patrão que lhe dê a nota de 10 Rupias mais velha e ranhosa que está na caixa. Entrega-me o troco (a tal nota de 10) e o recibo com um respeitoso 'obrigado' e um sorriso. Ele sabe: não quero ter aquela nota, mas, caso tenha planeado não lhe dar gorjeta, agora também não terei coragem para lhe pedir que a substitua. Portanto, acaba de fazer 10 Rupias que, por mais esburacadas que sejam, se juntarão às centenas que deve guardar na sua meia, por debaixo da cama, à espera do dia D em que vão de excursão ao banco.
Olá Constantino,
ResponderEliminaro mundo está cada vez mais pequeno; agora «encontro-o» aqui...
vitor cunha
Como tenho uma obcessão pela India, gostei muito de ler o teu blog. Hei-de voltar.
ResponderEliminarObsessão ....humpf
ResponderEliminarVítor,
ResponderEliminarde facto, está a encolher. Já não é preciso passar por aquele tenebroso Adamastor para cá vir. Agora já só nos falta afastar Adamastores mentais para (re)conquistar a Índia.
Cláudia,
bem-vinda neste espaço hiperreal. E espero que um dia possas vir a cohecer a Índia real tb.
Abraços
Constantino
O má moeda afasta a boa?
ResponderEliminarÉ com pesar que constato a teimosia neocolonialista de um jovem jornalista que insiste em cuspir no prato cultural onde escolheu comer. Perante o incessante esforço de construir uma imagem tão pouco edificante do indiano moderno, repisando o malfadado e desajustado paradigma do indiano-intrujão, não podemos deixar de colocar a pergunta: não estaria o labor do jovem constantino melhor empregue na análise e na reflexão sobre, por exemplo, a ética de trabalho indiana (tão distinta da ocidental/protestante, baseada no livre-arbítrio e na noção de construção de "paraíso na terra", como da confuciana, fundada na ordem e na hierarquia, na obrigação e na observância do rito e da tradição) sobre a qual parece repousar a explicação do tão celebrado dinamismo económico da Índia (com o seu desenvolvimento tecnológico e as instituições universitárias de elite)?
ResponderEliminarEste comentário foi removido por um gestor do blogue.
ResponderEliminar