Chegou o dia mais apreciado do ano, para quem vive em Deli. O calor abandonou a cidade e chegou o frio. Parece simplista, mas não é. Há um momento x, claramente definível, em que os dois parecem chegar a acordo. De repente, de um dia para o outro, as ventoínhas páram, as janelas permanecem fechadas, os mosquitos desaparecem e passa-se a dormir melhor.
Ao terceiro ano na cidade, passou a ser um momento de celebração ritual para mim também: retirar as camisolas e os cobertores que, envegonhados e poeirentos, permanecem escondidos na profundidade dos armários. A tremenda amplitude e choque que marcam o clime de Deli ficam, aliás, melhor expressos pelo minha própria reacção, quando, no pico do verão, me deparo com as lãs e luvas amontoadas: incrédulo e anestesiado pelo ardente calor e humidade, recuso-me a aceitar que jamais o clima desta cidade poderá exigir de mim o uso daquelas pesadas peças vestuárias. Poucos meses depois, passa-se o oposto: tremendo de frio e agachado à frente do aquecedor, deparo-me com a enorme quantidade de t-shirts, sandálias e calções avolumados no mesmo armário e recuso aceitar que jamais o clima desta cidade poderá exigir de mim tanta leveza e frescura de vestimentos.
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