segunda-feira, 9 de maio de 2005

Decadência do Mundo Ocidental (intro)

Engana-se o que acha que distingo e escolho entre preto e branco. E engana-se quem ache que há cinzento intermédio possível. Há decadência no Ocidente. Resta saber se é uma decadência que é-lhe intrinsecamente natural ou se é uma decadência recente e em aceleração. É uma decadência especialmente no plano social e moral. Baseada fundamentalmente naquilo que paradoxalmente fez também emergir e brilhar o Ocidente, nomeadamente a superioridade material e científica.

Só por eu denunciar o que se passa a Ocidente, isso não catapulta o Oriente para a) a posição de um novo Ocidente, agora mais a Oriente, b) a posição de civilização divinal e perfeita; nem catapulta o Oriente para c) a posição de histórico oprimido que passa a ser a chave para a redenção dos oprimidos.

Sirvo-me do Oriente (a Índia em específico) para denunciar o Ocidente, simplesmente. Aliás, só utilizo o conceito Oriente por motivo de força maior, para classificar o que não é o Ocidente. O Ocidente, sim, esse distingo-o claramente. É a Europa desenvolvida ou em desenvolvimento (escolham o que preferem), a América do Norte, e as ilhotas brancas nova-zelandesas ou australianas, etc., o eixo da superioridade científico-tencológica, a suposta racionalidade e objectividade que depois se refugia na mediocridade da acomodação, da subjectividade, do relativismo radical, basicamente no medo.

A escolha ou distinção entre o preto e o branco, entre o Ocidente e outra coisa qualquer, aliás não faz sentido nem é possível porque um suposto Oriente já é parcialmente Ocidente. O Ocidente exportou-se para bem e para mal. Presentemente mais para mal, acho. Por isso também me debruço perante a decadência do não-Ocidente porque quer ser Ocidente e importa o errado.

Portanto, para além do Mundo Ocidental, duvido que haja outros mundos, de momento. Portanto, estando no que hipoteticamente é visto por alguns como Oriente, tenho a vida facilitada para denunciar a decadência do Ocidente, no Ocidente e fora dele. Portanto, o Ocidente é-me afinal querido, porque denuncio a sua decadência.

7 comentários:

  1. muito boa análise! assim chegarás longe. (normalmente os meus comentários sao irónicos, mas este é mesmo a sério)
    Carlos Gomes

    ResponderEliminar
  2. Como verás nos textos que se seguirão, nada há de pseudo-moralista nas minhas observações, porque elas são meramente isso: observações. Discordo: a decadência não existe em todos os mundos, e se um dia existir, é por culpa, principalmente, do Ocidente. Concordo: perversidade existe em todo o mundo.

    ResponderEliminar
  3. aiii, mais devagar, repete lá, qual é que é qual, ocidente, oriente aiaiaai
    Gonças quase champion

    ResponderEliminar
  4. Apesar do súbtil maniqueísmo europeu querer estabelecer uma vincada divisão entre Ocidente e Oriente, penso que a relação entre estas duas ‘realidades’ é muito mais complexa do que a oposição dicotómica e linear normalmente defendida.
    Mas de facto, e em termos geográficos, o centro dos acontecimentos está a deixar de ser o ocidente. Os relatórios mais inibidos dizem que a globalização será neste século cada vez menos ocidental e os mais arrojados dizem que este é o século da Ásia.
    Penso que a afirmação do Oriente será real se for acompanhada da 'good governance', promotora de um efectivo diálogo entre local e global consubstanciado na sustentabilidade do seu processo de desenvolvimento.
    Se pelo contrário, o oriente for indiferente às desigualdades sociais e culturais, à degradação ambiental e aos príncipios democráticos não haverá ‘ilha de desenvolvimento’ a oriente que sirva de exemplo para o mundo.

    ResponderEliminar
  5. Concordo com m. quando diz que não há "meras observações", não há constatações objectivas de uma realidade factual - mas sim conclusões que advêm de uma prévia estrutura moral. Por isso não posso concordar com m. quando fala de "pseudo-moralismo". A posição de Tino é inerentemente moral (normativa), conquanto radica numa decisão acerca do que somos e do que queremos ser. Quando muito, m. podia acusar Tino de ser panfletário... mas todos somos seres morais, ainda que a nossa moralidade seja o amoralismo ou o anti-moralismo. Em suma, parece-me que o post de Tino radica numa opção (necessariamente moral) acerca dos fins preferíveis na vida em sociedade. É, obviamente, passível de discussão - eu próprio não concordo com muitas coisas.
    De qualquer modo, e para não prolongar o comentário, parece-me que a noção de "decadência" pode ser utilizada em muitas situações - consoante o ponto de partida pelo qual se sinta nostalgia.
    j.

    ResponderEliminar
  6. Comentadores,
    em terras do exilado Dalai Lama, suplico por mais alguns dias para explicar porque o Ocidente esta mesmo em decadencia.
    tino

    ResponderEliminar
  7. m.:
    concordo inteiramente com o teu último comentário. aguardemos, portanto, desenvolvimentos sobre este tema.
    j.

    ResponderEliminar