quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Imagens de Deli: Entregando água potável (Bisleri)

«Mais sexy do que nunca» (Expresso)

Expresso, 18 Agosto 2007, Internacional

60.º aniversário

A independência valeu a pena? Os indianos, eufóricos, dizem que sim. Os paquistaneses, inseguros, vacilam


Certezas e dúvidas existenciais

Guardas fronteiriços do Paquistão (esq.) e da Índia marcham perto do «checkpoint» de Wagah, no passado dia 1 de Agosto FOTO AMAN SHARMA/AP

Índia
"Mais sexy do que nunca"

O balanço não poderia ser mais triunfante. Aproveitando-se das comemorações do 60º aniversário da independência, os indianos lançaram uma vaga de patriotismo, exprimindo o orgulho em fazerem parte de um país de sucesso.

Há uma década reinava ainda um espírito pessimista. Os mais pobres emigravam em massa para o Ocidente. Muitos questionavam-se sobre os benefícios da independência.

Hoje, o espírito é o oposto. Ostentar em público a bandeira nacional deixou de ser proibido pela Constituição. Nos cinemas, antes de qualquer filme, seja ele de Hollywood ou de Bollywood, os espectadores levantam-se e entoam o ‘Jana Gana Mana’, o hino nacional. O orgulho reflecte-se também na imprensa. O ‘Times of India’, por exemplo, observava que a idade não dá sinais de pesar, considerando que a Índia está hoje “mais sexy do que nunca”.

Motivos para celebrar não faltam. O crescimento económico ronda os 10%, provocando um consumo desenfreado da classe média - entre 300 e 400 milhões de pessoas. Há 20 anos eram necessárias várias semanas e autorizações para instalar uma linha telefónica. Hoje vendem-se dois milhões de telemóveis por mês. Os mais de 500 mil médicos indianos, cobiçados nos melhores hospitais dos Estados Unidos e da Europa, ajudaram a reduzir a mortalidade infantil para um terço e a duplicar a esperança de vida para 67 anos.

No entanto, segundo várias sondagens, o que mais orgulha os indianos é o seu sistema político democrático. Exceptuando o breve episódio autoritário de Indira Gandhi, nos anos 70, a Índia afirmou-se como um raro caso de sucesso pós-colonial, mantendo a sua democracia em funcionamento ininterrupto, desde 1947. Se no Paquistão a política é vista como um monopólio dos militares, na Índia é simbólico serem duas instituições democráticas - a Comissão de Eleições e o Supremo Tribunal - a recolher maior simpatia popular.

Perante tanta euforia, o primeiro-ministro Manmohan Singh tentou moderar o optimismo, alertando para os desafios que o país ainda enfrenta. No seu discurso oficial, classificou de “vergonha nacional” o facto de haver ainda milhões de crianças indianas a sofrer de malnutrição. Mas perante a imensa ambição e confiança dos indianos, estes obstáculos parecem minúsculos, se não irrelevantes. O próprio Singh admitiu aliás que “o melhor ainda está por vir”. Por enquanto, a hora é de celebração.

Constantino Xavier, correspondente em Nova Deli

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

EPL-Índia

Nas ruas de Deli, vêem-se miúdos indianos a jogar à bola com os pés. Começou a English Premier League.

sábado, 18 de agosto de 2007

Indianização (Atlântico)

Excerto da minha crónica mensal "Passagem para a Índia", na revista Atlântico de Agosto, nas bancas ainda.

Correspondentes de Guerra

PASSAGEM PARA A ÍNDIA
Constantino Xavier em Nova Deli

INDIANIZAÇÃO

"Em 1947 Nehru e Patel conseguiram reunir, sob uma soberania, centenas de grupos étnicos, linguísticos e religiosos, mas a unidade era uma mera ilusão, formal e no papel. A nomenklatura procurou traduzi-la na prática. Ao longo de várias décadas centralizou o sistema político, obrigou os jovens a frequentarem “campos de integração nacional” e apostou no intercâmbio de militares e quadros administrativos, entre outras medidas homogeneizadoras para criar mais “indianos”. Contudo, as tentativas foram saudadas com um entusiasmo moderado, se não resistência.

Como surgiu então o sucesso da indianização? Surpreendentemente, pela via económica e não-governamental. As reformas de 1991, as privatizações e a abertura da economia criaram condições ideais para que a indianização se fizesse de forma natural, subtil e silenciosa, sem o barulho da imposição estatal.
"

Imagens de Deli: Vendedor de chá

Comentários: Cheias e o 15 de Agosto

Para a Antena 1, um comentário meu às cheias que assolaram o país, na Quinta feira da semana passada (sem ligação). Para a Rádio Renascença, um comentário sobre o Dia da Independência, celebrado no passado dia 15 de Agosto, e marcado pela tragédia das cheias (aqui, mas sem ficheiro áudio). Ficam aqui os apontamentos que me serviram para produzir a peça:

A Índia celebra hoje o 60º aniversário da sua independência do colonialismo britânico, com muita euforia, muita cor e grande confiança.

Logo de manhã, os jornais saudaram o dia histórico com capas coloridas e destaques triunfantes.

O HT antevê uma Índia “superpotência global” já em 2067, enquanto que o Times of India, faz o balanço com números, sublinhando a redução na taxa de mortalidade infantil, hoje três vezes menor do que há 60 anos.

Por todo o lado ecoa o hino nacional, conhecido como Jana Gana Mana, composto pelo grande filósofo Rabindranath Tagore.

O símbolo deste novo orgulho é a bandeira nacional, a tricolor conhecida como tiranga, que reveste as cidades e aldeias do país de tons verdes, brancos e cor de açafrão.

Há poucos anos ainda, a Constituição proibia os cidadãos de a ostentarem publicamente. Mas hoje, é o próprio Governo que distribui milhares de bandeirinhas nas escolas e em locais públicos, encorajando a onda de patriotismo que varre o país.

Mas o aniversário ficou também marcado pela devastação provocada pelas cheias no Norte do país, que as Nações Unidas apelidaram de “uma das mais graves catástrofes naturais” nesta região do mundo.

As chuvas incessantes, desde finais de Julho, provocaram um balanço dramático: quase 2 mil mortos, milhões de deslocados, 130 mil habitações totalmente destruídas e um prejuízo total de centenas de milhões de Euros.

Foi talvez por isso, que o Primeiro-Ministro Manmohan Singh, se referiu esta manhã aos grandes desafios que o país ainda terá que enfrentar para se tornar numa superpotência. Chamou por exemplo atenção para as dezenas de milhões de crianças que continuam a sofrer de mal-nutrição, ao que chamou de “vergonha nacional”.

Discursando em frente ao histórico Forte Vermelho, na parte antiga da capital, a Velha Deli, Singh referiu-se ainda ao perigo de as diferenças religiosas ou de casta poderem por em causa o sonho indiano. “Sejam indianos primeiro, e acima de tudo” pediu.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

A zanga dos deuses da chuva (Expresso)

Expresso, Edição 1815, 11 Agosto 2007

Sul da Ásia
A zanga dos deuses da chuva

As maiores vítimas são as mulheres e crianças. Só na Índia, o prejuízo está avaliado em 200 milhões de euros

Foto: Em Dhaka, capital do Bangladesh, vítimas das cheias salvam os parcos haveres FOTO PAVEL RAHMAN/AP

O rio Ganges, um dos principais símbolos espirituais para os hindus, tornou-se mortífero com as suas águas a fazerem capotar várias lanchas de salvamento que prestavam socorro às vítimas das cheias que afectaram cerca de 50 milhões de pessoas - principalmente na Índia, no Nepal e no Bangladesh - provocando mais de 28 milhões de deslocados e a morte de quase duas mil pessoas.

Na sua grande maioria, os mortos são mulheres e crianças vítimas de afogamento, fome, mordeduras de cobra, electrocussão, ou que perecem esmagadas durante as operações de socorro e distribuição de alimentos.

Duas semanas depois destas chuvas torrenciais de monção terem começado a inundar a Ásia do sul, já se faz sentir o impacto daquilo que as Nações Unidas classificam com “uma das piores catástrofes naturais de sempre” na região. Falha o abastecimento de água potável e 40% das planícies do Bangladesh - um país que tem a maior parte do território abaixo do nível do mar - encontram-se submersas.

Na Índia, no estado de Bihar, um dos mais pobres do subcontinente, 13,8 milhões de pessoas foram atingidas e 1,1 milhões de hectares de terras agrícolas ficaram parcial ou totalmente submersas.

Também os estados indianos de Uttar Pradesh (norte), de Assam (nordeste) e do Orissa (leste) - onde cerca de 6,5 milhões de pessoas foram atingidas - estão submersos pelas águas. No país de Gandhi, há dois milhões de hectares de terrenos agrícolas inundados, 130 mil habitações totalmente destruídas, e 70 mil cabeças de gado vitimadas.

No Nepal, nas zonas montanhosas mais remotas, a assistência médica aos feridos está, muitas vezes, a ser feita pela guerrilha maoísta que combate o regime que governa o país.

Depois do dilúvio, o impacto começa a sentir-se em termos políticos. Esta semana, a Índia e o Nepal trocaram acusações, com um ministro estadual indiano a denunciar a falta de barragens para parar a água do lado nepalês, e o Governo de Katmandu a ripostar que as cheias no Sul do seu território se devem à construção excessiva de barragens do lado indiano.

Entretanto, Nova Deli receia que entre os milhares de refugiados do Bangladesh que cruzaram a fronteira indiana nos últimos dias se encontrem elementos das organizações separatistas e terroristas islâmicas que operam no Nordeste do país.

Mas a grande preocupação continua a ser o impacto a longo termo destas cheias que o secretário-geral das Nações Unidas já apelidou de “devastação económica”. Segundo a UNICEF, no estado indiano do Bihar, já antes do dilúvio, 60% das crianças estavam malnutridas. Com o turbilhão das águas podem começar a ser atingidas pela diarreia, febre tifóide, malária e várias outras doenças potencialmente letais.

Este ano, a força da monção ainda está a ser mais longa e mais forte do que é habitual.

Constantino Xavier, correspondente em Nova Deli

Imagens de Deli: Tyler após a greve de fome


quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Leituras de Deli: Economic & Political Weekly

Considero o Economic & Political Weekly (EPW), de que sou assinante, um dos melhores produtos indianos da actualidade. É uma revista semanal de origem científica e académica, mas que mantém sempre uma grande acutilância sobre a actualidade política e económica nacional e mundial. De comentários a recensões, passando por artigos especiais de grandes comentadores, esta é uma daquelas publicações de que os cientistas sociais, de qualquer nacionalidade ou linhagem ideológica, se podem orgulhar.

Sanjay Rabo

Uma gralha (repetida ao longo de todo o texto) espelha, mais uma vez, a qualidade do nosso jornalismo na sua cobertura internacional. Como Dutt passa a Butt...:

Sanjay Butt, um dos maiores ídolos do cinema indiano, foi ontem condenado a seis anos de cadeia por ligações aos terroristas que em 1993 levaram a cabo os atentados de Bombaim, que mataram 257 pessoas e são considerados os piores de sempre na Índia...

Imagens de Deli: Manifestante do BJP


Fragmento histórico

Recorda um activista do Arya Samaj, no contexto do conturbado e violento de processo de integração do principado de Hiderabad na República da Índia, em 1948:

"The Nizam was also getting arms from Goa which was under the rule of Portugal".

Assustador, mas descabido

Mário Soares, no Público de hoje:

"A menos que sejamos tão insensatos que queiramos atirar a Rússia, contra os nossos interesses, para o triângulo estratégico que pode vir a desenhar-se na Ásia: China, Índia, Rússia. Já pensou nessa eventualidade?"

quarta-feira, 1 de agosto de 2007