O MITO DO PACIFISMO
Constantino Xavier em Nova Deli
A Índia pacifista é um dos mitos mais bem expandidos no imaginário de certa intelectualidade ocidental: uma Índia onde impera a espiritualidade e onde a violência prima pela ausência nas relações sociais e políticas. É como se os raquíticos corpos dos indianos os impedissem de travar qualquer confrontação física, obrigando-os sempre a procurar soluções pacíficas.
Mas, na realidade, a Índia é tão pacifista como Átila, o huno. A própria mitologia hindu representa-o bem: no épico “Ramayana”, composto há mais de dois mil anos, o virtuoso príncipe Rama, acompanhado de um exército de macacos, enfrenta o demónio Ravana, que com as suas dez cabeças e dez armas mantém refém a princesa Sita. Em 24 000 versos, sucedem-se gigantescas batalhas e duelos marciais. Outro exemplo tenebroso é o da deusa guerreira Kali, que é representada com uma espada e um colar de 51 cabeças humanas ensanguentadas.
(...) Em certos círculos românticos, sucumbiu-se à tentação de construir uma Índia pacifista e moralmente sã, onde a violência, como que por milagre, não tem lugar. É o “wishful thinking” posto em prática. É que, justamente, esta imagem nasce nas primeiras décadas do século XX, quando a Europa foi atravessada pelas guerras mais violentas de sempre. Um Gandhi e uma imensa Índia pacifista vinham mesmo a calhar para expurgar os supostos males ocidentais.
Excertos da coluna na p. 44, do número de Agosto da Revista Atlântico
Excelente...já estava com saudades!
ResponderEliminarBem vindo de volta ás bloguices indianescas.