Fui ontem à Venda do Pinheiro, ali à margem da EN8, cortar o cabelo. É que o Sr. Fernando aqui do Rogel, que abria o seu anexo aos Sábados de manhã para fazer a barba dos mais velhinhos e cortar o cabelo aos putos, por uns quantos mil reis (5 Euros), fechou. Deixou de haver velhinhos. E os putos querem cabelo como o Ronaldo.
Sou então obrigado a deslocar-me três quilómetros, à civilização que um dia também chegará ao Rogel. O barbeiro - ao qual, enquanto miúdo, ocasionalmente ia quando a minha mãe insistia num corte de cabelo urgente antes de qualquer ida à ópera, visita social ou viagem mais longa - claro que não me reconheceu.
Só depois de eu abrir a conversa com um "então agora os táxis já voltaram a ser como dantes, pretos?" é que ele notou que estava no processo de tosquiar um daqueles dois putos esquisitos, meio indianos, meio alemães ou lá o que é, que lhe costumavam aparecer por debaixo da tesoura há já mais de uma década.
"Tu és lá da Rogel, não é?", inquiriu. Depois de mais algumas perguntas curiosas ("então já acabaste a escola?"), veio então a questão mais complexa: "Atão andas a fazer o quê, agora". E eu, prenunciando a tragédia, limitei-me a um "estou na Índia, a estudar".
Parou de me degolar os cabelos, por um instante, e procurou, na reflexão do espelho, uma minha expressão facial ou olhar que o pudessem acudir. Continuou depois, em silêncio, o seu trabalho. Finalmente, como que impelido pelo seu instinto cabeleireiro, voltou à carga: "Mas as universidades lá são melhores, ou quê?".
Olhando para o monte de jornais tauromárquicos, hesitei por um instante. Mas o meu espírito maquiavélico deu-me logo uma solução. "Sim, são melhores", respondi com grande determinação e clareza, não deixando margem para dúvidas e terminando o assunto de conversa, para imenso alívio meu e dele. Passámos a falar de bola.
é isso mesmo!
ResponderEliminarmanda esses tauromaquícos todos a dar uma volta e destroi o seu orgulho nacional e preconceito em relaçao a outros mundos!
...pois de uma morte simbólica renascerá com asas nunca dantes utilizadas o novo espírito luso, claro e puro como as ondas do mondego!
Gostei imenso de ler o anonymous. (O Constantino leio-o sempre com gosto). Que o "novo espirito luso" venha soprando ... arrasando ... renovando!
ResponderEliminarJ. Loiola Pereira (India)