terça-feira, 1 de julho de 2008

Goa, o nazi Bach e a imprensa indiana

Presumi eu logo tratar-de de uma mentira de 1 de Abril bastante atrasada, mas nas redacções dos grandes jornais indianos pensaram diferente (ou melhor, não pensaram nada).

Soube-se agora que a história do suposto coronel nazi Johann Bach, preso em Goa, numa operação conjunta dos serviços secretos alemães e indianos, originou numa press release falsa de um conjunto de bloggers-jornalistas goeses (alguns meus conhecidos e amigos) que procuram denunciar a face mais negra da imprensa goesa e indiana.

Excelente! Mas o mais assustador é que esta notícia não só foi difundida largamente. Assim, os grandes jornais indianos, incluindo o Indian Express, o Calcutta Telegraph e o Times of India, difundiram a "notícia" sem a confirmarem com as autoridades competentes, e em certos casos inventaram, pura e simplesmente, novos factos (segundo o Express, Bach já tinha sido deportado para a Alemanha) ou deram-lhe mesmo uma soberba cobertura gráfica (um mapa com os vários países pelos quais Bach teria supostamente passado nos últimos anos, com o preciosismo de notar o Iémen como "unconfirmed"!).


Já agora: "Perus Narkp", indicado como o braço de espionagem da Senhora Merkel, é um anagrama para “Super Prank”. O comunicado de imprensa anunciava “Eht rea enp cabk skripc” como o lema desta super-organização secreta, outro anagrama para “The Pen Pricks are back”. The Pen Pricks é o blogue dos autores desta super-brincadeira.

Mais a sério: já se escreveu muito sobre as limitações da Internet como fonte de informação para quem quiser desenvolver um trabalho sério e aprofundado sobre outros países e outras realidades. Este caso demonstra-o novamente, de forma exemplar: as notícias continuam lá, em linha, nos sites dos mais prestigiados órgãos de comunicação social indianos.

Quando porventura alguém, daqui a umas semanas ou meses, estiver à procura de se inteirar rapidamente sobre a criminalização transnacional do estado de Goa, sobre as regras de deportação bilateral entre a Índia e a União Europeia, sobre a cooperação entre serviços de informações indianos e estrangeiros, ou sobre criminosos nazis refugiados em África e na Ásia, é muito provável que chegará a esta notícia googlando e que depois a ela se referirá, no seu trabalho, relatório, crónica ou post.

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