Excerto da minha crónica mensal "Passagem para a Índia" na revista Atlântico de Julho, nas bancas desde a passada Quinta-feira:
"Os engenheiros coloniais britânicos e portugueses bem que procuraram inculcar o espírito marítimo na psique urbanística indiana, como o provam a extensa Marine Drive em Bombaim ou a formosa marginal do Rio Mandovi, em Pangim, a capital de Goa. Mas por mais sublimes que sejam as praias ou as baías que polvilham a costa indiana, as suas cidades e aldeias teimam em virar as costas à água. As casas, praças e avenidas orientam-se para o interior continental e só os pescadores, geralmente de castas mais baixas ou intocáveis, estão autorizados a enfrentar o kala pani, o mar negro e impuro.
Esta hidrofobia indiana parece, no entanto, estar a transformar-se rapidamente em hidro-obsessão. De repente, já só se fala em Indian Ocean. O imenso oceano passou a ser visto como trampolim ideal para a Índia transcender o seu encurralamento territorial, entre o Paquistão, os Himalaias e a China, e assumir o seu ambicionado papel de grande potência."
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